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terça-feira, 11 de julho de 2017

LIMBUS PATRUM - O QUE É ISSO?

O termo é uma expressão em latim que significa 'orla paterna'. Seria uma localidade entre o céu e o inferno, reservado aos justos do Antigo Testamento que teriam que ali esperar a redenção de Jesus. Nesse lugar, não havia "aperfeiçoamento" como no purgatório, mas apenas espera. Embora a doutrina do purgatório surgiria dele.

Durante boa parte da Idade Média se creu nessa ideia. E era uma ideia, por demais grotesca, de que Jesus teria descido ao Hades no ato de sua morte e pregado ao povo do Antigo Testamento, que morreram sem ouvir falar da graça. E também não haviam sido batizados, permanecendo com o "pecado original". Este último termo, nem na bíblia tem, mas foi invenção de Agostinho de Hipona. Bispo africano do século V. A ideia era que a redenção dos santos do AT não tinha sido completa. Afinal, sem a morte de Cristo, e a ciência dela, ninguém poderia ser salvo. Assim pensavam os cristãos gnósticos do século II. Isso possui sustentabilidade bíblica? Claro que não! Uma passagem bastante usada pra isso é a de I Pe 3:18-22. Mas, se lermos o texto completo, veremos realmente do que se trata. A nossa salvação e o sacrifício de Cristo foram feitos antes do nosso tempo. Não dependem dessa esfera aqui(Ef 1:3-10)(Ap 13:8).

E fora da bíblia, essa ideia surgiu de onde? Esse 'entendimento' da passagem de Pedro veio de um certo 'Evangelho Apócrifo de Nicodemus', escrito no final do século II, cuja redação final veio do século V. É um livro de 11 capítulos que se diz ter sido escrita pelas pessoas que ressurgiram com Cristo(Mt 27:51-53). Nesse livro, Satanás dialoga com os demônios, e pede que mantenham Jesus preso, assim que este entrar em seus domínios. E o demônios lembram que, recentemente, haviam perdido um certo Lázaro. No fim, Jesus vence e acorrenta-o para ficar assim até a sua volta.

Para aqueles que conhecem história, e até mitologia, isso se parece muito com a cultura e mitologia gregas. Parece a batalha entre Zeus e Hades, com a derrota deste. Acrescentando que o inferno não é casa do diabo, mas a prisão deste. E não são demônios os responsáveis pelo tormento infernal, pois estes também são atormentados. Essa crença em um "satanás atormentador" não vem da bíblia, mas da obra "A Divina Comédia", de Dante Alighieri. E até dos quadros de Giotto, no seculo XIV. Resumindo, tudo fantasia mitológica de muitos escritos na História. Na própria biblia é que isso não se baseia.

Para ilustrar essa história bizarra, uma tela de Vittore Carpaccio - 'A morte de Cristo'(1520)

A fome do século XIV

Nesses anos de 2015 até 2017 a Europa lembra da grande fome que foi causada por invernos rigorosos, de 1316 para 1317,há 700 anos atrás. Se sabe que a desigualdade foi também causada pelas contradições do regime feudal. E o país mais atingido foi a França. Talvez convenha falar dos principados do Leste Europeu,mas esses já estavam na pior desde as invasões mongóis do século XIII. Talvez a única exceção europeia fosse a Córdova muçulmana. Pelas linhas de igualdade que defendiam, talvez isso lá fosse mais raro.

A França estava presa na maldição dos templários,desde a execução de Jacques de Molay em 1314. O rei Filipe IV estava morto, e 24 cavaleiros,carregando as armas da França,percorreram o país para dar a notícia. Atravessaram o solo juncado de neve,e com uma eclipse que ocorreu na morte do rei, para anunciar que o rei de ferro estava morto.Para o homem medieval,essas coisas eram suficientes para consternar imaginações. O rei Luis X,filho do precedente, não conseguiu aplacar a briga entre a antiga nobreza e os novos burgueses. Os lobos se entredevoravam. O clã baronial venceu,ao menos temporariamente. A hora do conde Roberto III D'Artois, e do conde de Valois, ainda chegaria. Enquanto isso,o esqueleto de Enguerrand de Marigny,chefe dos novos burgueses,secava nos ganchos do cadafalso de Montfaucon. De repente, a morte do novo rei Luis X,provocou uma corrida ao trono. O seu tio reivindicava o trono,mas Filipe V,que era irmão do falecido,e sobrinho do concorrente,foi que o conseguiu. Com um detalhe:Nenhum dos pares do reino(Duque de Borgonha, Duque da Normandia, Duque de Guyenne, Conde de Compiegne, Conde de Flandres e o Conde de Toulouse)possuidores ou hereditários,estavam presentes em sua coroação. De repente,a França foi tomada de um estado de demência. Um conclave papal feito na prisão, um castelo real tomado de assalto, um grande senhor feudal é atirado no calabouço, camponeses revoltam-se, leprosos tomam conta do país e judeus são assassinados em várias partes da Europa.

No começo do século XIV,a França é o mais poderoso reino da Europa, cujas intervenções são temidas,e os juízos respeitados. De repente, entra na Guerra do Cem Anos(1337-1453),e leva surra após surra dos ingleses,junto aos traidores borgonheses. O que aconteceu com a França, quarenta anos depois,para que fosse esmagada por uma nação cinco vezes mais numerosa?Muitas especulações aparecem...

Na batalhe de Ecluse(1340),o capitão genovês Barbavera avisou ao almirante francês para que passasse os seus navios ao mar aberto, de forma a não ser encurralado pelos ingleses. O almirante se recusou. À noite a França dava adeus ao domínio dos mares. Quando o rei Filipe IV instituia impostos pelos quais era criticado, ele o fazia para por a França em ordem. Quando Filipe VI exigia taxas mais altas ainda, era para pagar o preço de suas derrotas. A Guerra dos Cem Anos foi um debate judiciário entrecortado de apelo às armas. E a fome, dos anos 1315-1317 foi a causa, parcial, de tudo isso. Mas a causa humana sempre superou as outras...

Do Apocalipse na Biblia Pauperum iluminado em Erfurt em torno da época da Grande Fome. A morte situa-se ao lado de um leão cuja longa cauda termina em um caldeirão flamejante (Inferno). A fome aponta para sua boca faminta.

CRISTÃOS DEVEM SER PATRIOTAS?

Antes de responder a essa questão, veremos os significados de 'pátria' e 'nação', segundo o Houaiss. A Pátria é o território ocupado, e o chão que pisamos. E nação são as pessoas que habitam aquela pátria, e possuem os mesmos usos e costumes. Mas qual a diferença entre o planeta terra, que Deus fala a ele pertencer em Sl 24:1-2, e essa 'coisa' chamada pátria que delimita fronteiras? Tem Deus compromisso com isso? No AT Deus dá um território ao seu povo escolhido, faz chamar de a 'terra que o Senhor teu Deus ti dá'(que muitos cristãos associam erroneamente à vida longa). Portanto, quem originou esse significado, pela primeira vez no mundo, foi Israel. Por isso a passagem de Sl 33:12 pode ser entendida como "bem aventurado o grupo de pessoas cujo Deus é o Senhor", mas jamais "Bem aventurado é o país cujo Deus é o Senhor". Um erro de proporções grosseiras.

No mundo antigo, até por socializações com Israel, que os impérios babilônico, persa, grego e romano passaram a ter essa noção(somente uma noção) do que viria a ser pátria. No mesmo período, na China da dinastia Han, as pessoas de lá nem faziam ideia do que era isso. Na Idade Média só importavam os ritos de vassalagem, e uma pessoa só tinha dívidas com seu suserano, e com a Igreja. Se outro suserano dominasse sobre o primeiro, ela passava a vassalagem, ou a servidão no caso dos camponeses, ao segundo. Um habitante da Normandia, hoje localizado em território francês, era um súdito do Rei da Inglaterra. Nem era 'cidadão inglês', pois essa noção nem tinha sombras de existência, como alegam hoje os filmes de Hollywood. Na Idade Moderna começa a brotar, pela primeira vez na História, a noção de Estado-Nação. Por quê? Para fazer frente ao poder internacional do Vaticano. Nessa hora entra uma força de destaque: A Reforma Protestante!!!! Ela chegou aliando-se aos ideais de Estado-Nação. Mesmo assim, o que tínhamos? Um imperador do Sacro Império Romano, como Carlos V, governava súditos falantes de catalão, basco, castelhano, náhuatl, alemão, quíchua e italiano. Por isso, já dizia Voltaire sobre o Sacro Império Romano:Nem sacro,nem império,nem romano. As primeiras identidades de um homem do século XVI dizem respeito ao seu soberano, e sua religião. Se parece complicado a nós, é porque nossa cabeça funciona de maneira mais complexa que um homem renascentista. O Tratado de Tordesilhas, por exemplo, não foi disputa entre duas nações, mas entre duas monarquias. Mas não seria a mesma coisa? Não!!! Os séculos XV e XVI não seguiam nossa linha de pensamento.

A história dos símbolos nacionais remonta a uma origem ainda mais obscura: O extremo oriente. As bandeiras nacionais vieram dos brasões, da chamada Heráldica. Essa invenção, que não é europeia, mas turca, e repassada na época das cruzadas; pode encontrar suas origens nas fronteiras da China, à beira do Turcomenistão. Afinal, turcos não são parentes de árabes, mas de chineses. Os tunguzes e turcos se inspiraram na China Han, que lutavam suas batalhas em estandartes coloridos, pertencentes às mais variadas dinastias. Portanto, quando nós achamos lindo, patriótico e divino as reverências à bandeira nacional, cometemos um erro. Pode ser lindo e patriótico,mas com certeza não é divino. Tomás de Aquino escreveu, em sua 'Suma Teológica', que era permitido revoltar-se, ou matar um tirano. Fazendo isso, ele dava corda para os anabatistas mais tarde. Não tem jeito, não dá para haver dois pesos, e duas medidas. Se vale numa questão, abre brecha para tudo. Para se ver como a escolástica foi imbecil.

Textos como Rm 13:1-7 ou 1 Pe 2:11-17 foram escritos com o propósito de dissuadir muitos cristãos de revoltar-se contra Roma. Patriotismo carnal revoltado já bastavam os zelotes. Ficou mais do que provado que isso sempre daria errado. O sentido do que é ou não pecado não pode ser ditado pelas diretrizes do Estado. A desobediência(ou obediência) ao Estado acarretam somente consequências terrestres, mas assumir sua causa pode fazer perder nossa coroa. Cristão pode ser patriota? Pode. Mas fique sabendo que isso não é divino, e nem suas consequências serão...

"Na verdade, não temos aqui cidade permanente, mas buscamos a que há de vir." Hb 13:14