tag:blogger.com,1999:blog-43221943619718239512024-03-05T04:19:36.324-03:00A fada medieval Este é um Blog destinado àqueles que procuram tanto conhecimentos de História e Teologia em geral, assim como a evolução da Ciência no decorrer da História. Gustavo Pedrozahttp://www.blogger.com/profile/15982321070169803360noreply@blogger.comBlogger129125tag:blogger.com,1999:blog-4322194361971823951.post-51111084800022573142023-12-27T23:43:00.004-03:002023-12-28T00:15:55.752-03:00Shark, Tubarão - A era dos games<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjnC6sBpJ-U9BOfUPwISINTlaqd3fNyE368HY2ECG5dYYCxGFebINZVMMsGUCQKv2p4YnxU2rXOMIPmG-Zsp_oswnGVTh6Cdczb6iTpHE4knmQJH3uTd5SilYw56CrvAR-JWi5VcMAThcVdcd0LFdRIcEAc-7TrxhcHFebGiiYG9ozJgFdkqugOyd7AuNk/s1001/Shark_Tubar%C3%A3o%20III.jpg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" width="400" data-original-height="720" data-original-width="1001" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjnC6sBpJ-U9BOfUPwISINTlaqd3fNyE368HY2ECG5dYYCxGFebINZVMMsGUCQKv2p4YnxU2rXOMIPmG-Zsp_oswnGVTh6Cdczb6iTpHE4knmQJH3uTd5SilYw56CrvAR-JWi5VcMAThcVdcd0LFdRIcEAc-7TrxhcHFebGiiYG9ozJgFdkqugOyd7AuNk/s400/Shark_Tubar%C3%A3o%20III.jpg"/></a></div>
<p>Quem, como eu, que foi geração anos 70, não viu durante sua infância uma série de videogames que surgiria entre os anos 70 e 80? Durante esse período, o Brasil passou pela <i>era dos games</i>, como <i>Odyssey</i>, <i>Atari</i>(ambos criados entre 1972 e 1978, sendo que o <i>Odyssey</i> veio primeiro) e até mesmo o <i>Intellevision</i>(criado entre 1977 e 1979), que é a razão deste texto.</p>
<p>O Intellevision era da Mattel. Sim, isso mesmo. A mesma indústria da Barbie! Nos anos 70, esse tipo de coisa não era comum. Quando a Magnavox criou o Odyssey no início dos anos 70, onde a empresa passou a fazer parte da Philips em 1974, ninguém iria imaginar na época o quão longe o mercado dos chamados videogames iria.</p>
<p>O Intellevision, meu primeiro e único videogame na vida, tinha vários cartuchos de jogos à venda. Eu tinha o <i>Triple Action</i>(três jogos, batalha de tanques, batalha de aviões e corrida de carros), o <i>Astrosmash</i>(batalha de asteróides, que era o jogo mais tenso) e, finalmente, o “<b>Shark! Shark! Tubarão! Tubarão!</b>”, criado no início de 1983, fazendo agora 40 anos de sua criação. Este era um jogo do Intellivision, originalmente projetado por Don Daglow, e com design e programação adicionais de Ji-Wen Tsao, uma das primeiras mulheres programadoras de jogos na história dos videogames. O jogador é um peixe que deve comer peixes menores para ganhar pontos e vidas extras, evitando inimigos como peixes maiores, tubarões, águas-vivas, lagostas e caranguejos. Depois de comer uma certa quantidade de peixes, os peixes do jogador aumentam de tamanho, e podem comer uma seleção maior de peixes. No entanto, embora o peixe maior se torne um pouco mais rápido, ele é menos ágil que o peixe pequeno e tem mais dificuldade em evitar os inimigos. O tubarão possuía tamanho 7, as águas-vivas tamanho 6, mas o peixe do jogador alcançava, no máximo, tamanho 5. Então havia coisas que o peixe do jogador jamais poderia comer. As águas-vivas, por exemplo, deveria deixar para os tubarões darem conta.</p>
<p>O objetivo final do jogo(que parecia infinito, mas não era) era atingir 9.999.950 pontos ou matar 225 tubarões. Esta última alternativa não era muito boa, pois cada tubarão que morria, o próximo vinha mais veloz. Matava-se o tubarão mordendo a cauda dele um determinado número de vezes. Quanto maior o peixe do jogador, menos mordida precisava dar na cauda do Tubarão, para matá-lo. Eu alcancei 116.000 pontos em 1984. Na mesma época, o campeão brasileiro alcançou 108.000 pontos. Obviamente, ele fez isso jogando contra outro jogador, o que talvez lhe dê mais mérito.</p>
<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-8WDmJkUAgZGjBN9VzQcE6Y92vX8u0gylWGNI6cREF0WVezPoKYwaMvOrfnOmxH5S6K9XjWr1xelLsf99Y9KnuSu6y3tiHK5BfSNl85twj_ByVLf5AS6fA4ImXXl6ETdYtSxmSFpulMXIRmewWd3Hk_cWqrBpFvuzl6mlhyphenhyphentittwwkH2E8tIW8yDu3g8/s1000/Shark_Tubar%C3%A3o%20IV.jpg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" width="400" data-original-height="720" data-original-width="1000" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-8WDmJkUAgZGjBN9VzQcE6Y92vX8u0gylWGNI6cREF0WVezPoKYwaMvOrfnOmxH5S6K9XjWr1xelLsf99Y9KnuSu6y3tiHK5BfSNl85twj_ByVLf5AS6fA4ImXXl6ETdYtSxmSFpulMXIRmewWd3Hk_cWqrBpFvuzl6mlhyphenhyphentittwwkH2E8tIW8yDu3g8/s400/Shark_Tubar%C3%A3o%20IV.jpg"/></a></div> <b>Tubarão morrendo, após sucessivas mordidas do peixe em sua cauda </b>
<p>Por fim, devido ao meu estado de nervos, e por estar perdendo os meus estudos escolares, meu pai vendeu o videogame. Mas o meu nervosismo não foi por causa do jogo do Tubarão, mas sim por causa do <i>Astrosmash</i>, este sim um jogo infinito, que levava o jogador à loucura.</p>
<p>Hoje, cerca de 40 anos depois, vejo o quanto a nossa infância dos anos 70 e 80 era precária. Muitos sentem saudade, mas o mundo sempre foi ruim. Porém ao menos eu sempre sentirei saudade de um joguinho que fez parte da infância de muitos, embora o Intellevision era bem menos conhecido que Odyssey ou Atari. Entretanto, nenhum desses três se comparava às diversões que a garotada de hoje possui. O mundo nunca foi mais ou menos feliz. Era só um mundo com opções diferentes.</p>
Gustavo Pedrozahttp://www.blogger.com/profile/15982321070169803360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4322194361971823951.post-66269967667523695062023-12-22T09:35:00.002-03:002023-12-23T02:18:29.182-03:00A Origem dos Plantagenetas: Eleanor da Aquitânia <div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjanl0lyzI07Q6FY1Fu_jK1_7owfSU6xDH1-fgHZYDsnPgRNrpGxhqcd4KibpNLPwDdhRZBCFb_B4J2HexrP3m96eO78cEkkJxGH5KlSKjmWIm8ywBAkbtErBBHFPh7ph1nZNoN8uk-Ok92aXm2cSdSe0RD1y3q3wrXFxlPlh0ViCUaeseye-mSDImYA3Q/s710/Eleanor%20da%20Aquit%C3%A2nia.jpg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" width="400" data-original-height="407" data-original-width="710" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjanl0lyzI07Q6FY1Fu_jK1_7owfSU6xDH1-fgHZYDsnPgRNrpGxhqcd4KibpNLPwDdhRZBCFb_B4J2HexrP3m96eO78cEkkJxGH5KlSKjmWIm8ywBAkbtErBBHFPh7ph1nZNoN8uk-Ok92aXm2cSdSe0RD1y3q3wrXFxlPlh0ViCUaeseye-mSDImYA3Q/s400/Eleanor%20da%20Aquit%C3%A2nia.jpg"/></a></div>
<p>Neste ano, como faz 30 anos da morte da escritora inglesa Eleanor Alice Burford Hibbert(1906-1993), que usava vários pseudônimos, entre os quais Jean Plaidy, autora da famosa Saga dos Plantagenetas, uma saga de romances históricos em 14 volumes, que conta a história desta família inglesa, porém de origem francesa, até a ascensão dos Tudors, no final do século XV. E esta origem francesa começa com uma mulher que iria virar lenda dos dois lados do canal da Mancha: <i>Eleanor da Aquitânia</i>! </p>
<p>No início do ano de 1173, há 850 anos, uma revolta pairava no reino da Inglaterra. Uma mulher ferida em seu orgulho, agitava seus filhos contra o próprio marido, tentando depô-lo do trono. Seu nome era Eleanor da Aquitânia, e foi considerada a primeira mulher com ideias feministas na idade média. Era a nobre herdeira da província mais rica do continente europeu. E esta sua história é a prova do quão longe a vingança pode levar. A vida de Eleanor foi muito enriquecida, não apenas por sua vasta herança do Ducado da Aquitânia, que seu filho Ricardo I também herdaria, mas também por sua formidável força de personalidade, casamentos astutos e instinto implacável de buscar perspectivas para ela e seus filhos. Ela foi casada pela primeira vez com Luís VII, posteriormente se casaria com Henrique Anjou (mais tarde Henrique II), formando uma poderosa aliança de enorme riqueza e influência.</p>
<p>Em 1137 o pai de Eleanor morreu, e seu único irmão também morreu. Ela tinha apenas 15 anos, mas herdou uma incrível riqueza e poder normalmente não acessíveis às mulheres nesse período. Ela se casou com o rei Luís VII da França, fortalecendo muito a riqueza e a posição de seu marido com a riqueza da Aquitânia. Dez anos depois acompanhou seu marido Luís VII na 2ª Cruzada, de Constantinopla a Jerusalém, o que não foi um sucesso, assim como o seu casamento. Ela lhe deu apenas duas filhas, e isso levou à anulação do casamento. Suas filhas eram: Maria, condessa de Champagne, que casou-se mais tarde com Henrique I, conde de Champagne(irmão de Teobaldo V, conde de Blois); Alix, que casou-se com Teobaldo V, conde de Blois; e sua irmã Marie, que casou-se com o irmão de Teobaldo, Henrique.</p>
<p>Ela prontamente se casou com Henrique II, rei da Inglaterra e filho do conde D’Anjou, e juntos tiveram 8 filhos, dos quais 5 eram meninos importantes, dando a certeza para a sucessão vital para o rei. Mas esta não era uma família próxima e feliz desde o início. Haveria competição e luta interna não apenas entre seus filhos, mas também entre o rei e Eleanor como sua rainha. O poder de sua aliança e a união do Império Angevino com a Aquitânia foram pelo menos influentes em causar a divisão familiar, e as lutas internas que permeariam a linha Plantageneta. Seus filhos foram: Guilherme IX, conde de Poitiers, morreu na infância e, portanto, não chegou à fase adulta; Henrique, o Jovem Rei, casou-se com Margarida da França e não teve filhos.</p>
<p>A ascensão de Henrique II ao trono inglês marcou o alvorecer da era Plantageneta. De origem francesa, mas filho de uma princesa herdeira da Inglaterra, Henrique sequer sabia falar inglês. Acabou com o caráter feudal do exército inglês, onde os nobres foram dispensados do serviço militar. No lugar disso, cobrou um imposto dos nobres, que o fez ter capacidade de ter um exército real. Nomeou juízes por todo país, que já estava dividido em condados, onde um funcionário real, o Xerife, tinha autoridade sobre senhores, burgueses e camponeses.</p>
<p>Após o casamento de Eleanor da Aquitânia com Henrique II, houve aquilo que nós do século XXI chamaríamos de <i>alienação parental</i>. A rainha Eleanor já vinha do seu casamento com Luís VII da França, quando contraiu a nova união. Mas o jovem rei Henrique mantinha o hábito comum da maioria dos nobres da época, com várias amantes, entre as quais <i>Rosamund Clifford(1140-1176)</i>, uma nobre inglesa considerada a mais bela de sua época. A rainha inglesa, que já tinha um espírito livre incomum da época, soube lidar com frieza no caso, concentrando-se em envenenar o nome de seu marido nos ouvidos de seus filhos. Dizem que a rainha deu à luz ao seu filho João no Palácio de Beaumount, em vez de no Palácio de Woodstock, porque Clifford morava em Woodstock. Eleanor preparou sua vingança com calma. Dizem que ela foi o 1° modelo de mulher feminista na idade média. Ela tinha seu filho predileto, Ricardo. E como o povo da Aquitânia não gostava de Henrique, desde cedo ela mandou Ricardo para lá, para o menino se habituar com as terras francesas. Os franceses não viam Eleanor com bons olhos, mas poderiam ver Ricardo. De fato, por causa dela, a Inglaterra passou a ser dona de metade da França. Os franceses ficaram chateados quando a rainha "encheu de galhos a cabeça do rei Luís VII" indo levar o seu corpo folgazão, assim como seu enorme ducado, para as mãos do rei Henrique II da Inglaterra.</p>
<p>Porém a vingança da rainha envolveria todos os seus filhos, com exceção de João. Mas principalmente Ricardo, que mais tarde viraria a maior lenda da idade média europeia: Rei Ricardo, Coração de Leão! Terceiro filho do casal, não tinha a maior pretensão de se tornar rei. Mas tinha uma vantagem: era o predileto da mãe. Em 1173 a rainha armou uma rebelião contra o rei. Nessa época, Henrique, o Jovem rei(filho mais velho de Henrique II, após a morte do pequeno Guilherme, ao nascer)tinha 18 anos e era elogiado por sua boa aparência e charme. Ele era casado há muito tempo com a filha de Luís VII da França, ex-marido de Eleonor. Henrique, o Jovem Rei, manteve uma grande e glamorosa comitiva, mas foi limitado pela falta de recursos: “ele tinha muitos cavaleiros, mas não tinha como dar recompensas e presentes aos cavaleiros”. O jovem Henrique estava, portanto, ansioso por assumir o controle de algumas de suas heranças ancestrais para governar por direito próprio. Seu pai cometeu o erro(que só viria a se tocar depois) de coroar seu sucessor ainda em vida. Isso ainda iria custar muito caro.</p>
<p>A causa prática imediata da rebelião foi a decisão de Henrique II de legar três castelos, que estavam dentro da herança do Jovem rei, ao seu filho mais novo, João, como parte dos preparativos para o casamento de João com a filha do Conde de Maurienne. Com isso, Henrique, o Jovem rei, foi encorajado a se rebelar por muitos aristocratas que viam lucro e ganho potenciais em uma transição de poder. Sua mãe, Eleanor, estava brigando com o marido e se juntou à causa, assim como muitos outros, chateados com o possível envolvimento de Henrique no assassinato do arcebispo Thomas Becket em 1170, que deixou Henrique alienado em toda a cristandade. A revolta durou dezoito meses, estendendo-se por uma grande área do sul da Escócia até a Bretanha. Pelo menos vinte castelos na Inglaterra foram registrados como demolidos por ordem do rei. Muitas cidades foram destruídas e muitas pessoas foram mortas. A culpa foi colocada nos conselheiros do jovem Henrique, os barões rebeldes, que manipularam os príncipes inexperientes e imprudentes em busca de seus próprios sonhos de ganho. William Marshal(mais tarde chamado de o melhor cavaleiro do mundo), que foi leal ao jovem Henrique durante a revolta, disse que "maldito seja o dia em que os traidores planejaram envolver o pai e o filho".</p>
<p>A rebelião destruiu a confiança de Henrique nos filhos, principalmente em Ricardo. Eleanor foi presa no castelo de Chinon, na França, e Ricardo fugiu para a França. João, o único a não participar da rebelião, se tornou favorito à sucessão. O príncipe Ricardo desenvolveu um forte vínculo com Felipe Augusto(1165-1223), futuro rei da França. Dizem que Ricardo era homossexual, e ele e Felipe eram amantes. Foi assim que o jovem Ricardo, apesar de inglês, foi morar na França. Mas Ricardo já havia tido uma educação francesa, e aprendeu a chamar a França de lar.</p>
<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg2bPSUCpLqdYeM3VufSAWTFhhiyJQUSiVVgkHBZRT-S0mi5DoLq965NCznL9gacm-JzUAPjVYvrlqcnZYLgEiPlAuv914_EeXJeMg3dx_S-Q014lDKTl7-oZ_qCY5Cwd5g0Yb5Z5imWJgf0Qot6ogGEVmwdoP8Zlv84J0BaqPNIRDOQwLRFR2FD1Ramv0/s800/Ch%C3%A2teau_de_Chinon_vu_de_la_Vienne.jpg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" width="400" data-original-height="532" data-original-width="800" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg2bPSUCpLqdYeM3VufSAWTFhhiyJQUSiVVgkHBZRT-S0mi5DoLq965NCznL9gacm-JzUAPjVYvrlqcnZYLgEiPlAuv914_EeXJeMg3dx_S-Q014lDKTl7-oZ_qCY5Cwd5g0Yb5Z5imWJgf0Qot6ogGEVmwdoP8Zlv84J0BaqPNIRDOQwLRFR2FD1Ramv0/s400/Ch%C3%A2teau_de_Chinon_vu_de_la_Vienne.jpg"/></a></div>
<b>Castelo de Chinon, na França. Lugar em que ficou detida a rainha Eleanor.</b>
<p>Quando em 1188 o rei Henrique II tentou tomar a Aquitânia de Ricardo para dar a João, seu filho caçula, Ricardo se aliou a Felipe e formou uma nova aliança contra o pai. Mas desta vez a revolta teria êxito. Henrique, já velho e cansado, não teria muito mais forças para resistir a mais essa investida. Henrique, o jovem rei, já estava morto. E agora Ricardo era o mais e, portanto, sucessor do trono. Em regra, as coisas mudaram. Tendo morrido seu filho mais velho, Henrique II modificou as condições de sua sucessão: Ricardo se tornaria rei da Inglaterra, mas não teria poder até a morte de seu pai; Godofredo manteria a Bretanha, que obteve por casamento, e João, seu filho favorito, obteria o Ducado da Aquitânia. Ricardo, no entanto, recusou-se a abandonar o ducado ao qual se havia vinculado porque não desejava se tornar um rei subordinado da Inglaterra sem poder. Furioso, Henrique II ordenou que Geoffrey e João marchassem para o sul para retomar o ducado à força. A guerra foi curta e terminou com uma difícil reconciliação familiar em Westminster no final de 1184. Mas a partir de 1188 a coisa seria diferente. Após uma mediação do papa, numa conferência em La Ferté-Bernard, que parecia trazer a paz. Ricardo e Felipe atacaram Henrique II de surpresa, fazendo-o recuar. O velho rei chegou a ter uma hemorragia estomacal derivada de sua úlcera. Não viveria mais muito tempo.</p>
<p>Vitorioso, Ricardo exigiu do pai o famoso beijo da paz, que era o juramento feudal de um vassalo para o seu suserano. Henrique se recolheu triste em seu castelo. Seu filho Geofredo, de uma outra união, estava junto a ele. O velho rei pediu a lista dos nobres que o traíram, passando para o lado de Ricardo. Para sua surpresa, o nome de João encabeçava a lista. Não viveria muito tempo mais, movido pela tristeza, morrendo dia 6 de julho de 1189. Após isso, e também a sua vitória, a primeira coisa que Ricardo fez foi tirar sua mãe da prisão. Eleanor da Aquitânia tinha sido vitoriosa em ver seu filho predileto no trono.</p>
<p>Eleanor ainda viveria para ver Ricardo reinar, lutar nas cruzadas e morrer. O rei Ricardo lutaria na terceira cruzada tendo Felipe II como um aliado invejoso e sabotador. Além disso, enquanto estava no Oriente, seu irmão João começava um processo de tentar tomar o trono do irmão. É a lógica do sistema. Quem trai o pai, trai o irmão. Sabendo disso, Ricardo retorna à Europa. Mas seria feito prisioneiro pelo duque Leopoldo V da Áustria, com quem se desentendeu durante a cruzada. O duque exigiu um resgate de 150 mil marcos pelo resgate, que equivalia a dois anos de dividendos da coroa inglesa. Eleanor juntou o dinheiro para resgatar seu filho amado. Porém João, aliado a Felipe da França, ofereceu a mesma quantia para o duque mantê-lo preso. Não adiantou. Não conseguiram mantê-lo encarcerado. Ao voltar, levou apenas algumas semanas para retomar os castelos tomados por João. Anos depois, ao retornar da guerra contra Felipe na França, Ricardo morreria de uma flechada. Mais uma morte que Eleanor testemunharia.</p>
<p>Para a Inglaterra o Leão não deixou nada. Mas os ingleses entoaram canções de seu rei glorioso na Guerra dos Cem Anos contra os franceses. Uma guerra que teve como região dissidente a mesma que foi disputada por Ricardo, João e Felipe da França. Tanto que Ricardo chegou a construir um castelo que seria a maior fortaleza em solo europeu, porém hoje em ruínas: O <i>Chateau Gaillard</i>! Aquele que fez Felipe Augusto da França dizer:"<i>Eu o tomarei, ainda que os muros sejam de ferro</i>". Ao que Ricardo respondeu:"<i>Eu o defenderei, ainda que os muros sejam de manteiga</i>". O castelo seria herdado por João, que sucedeu Ricardo, após a morte deste último. A incompetência de João no trono inglês, que trouxe tristezas à sua mãe Eleanor, fez perder inúmeras coisas conquistadas por seu pai e o irmão, inclusive o Chateau Gaillard. Houve revoltas no reino. Entre as quais, a revolta dos barões ingleses, que teve como consequência a assinatura da Magna Carta em 1215. Uma carta que limitaria a autoridade dos reis ingleses, até chegar ao ponto que está hoje.</p>
<p>O reinado de João foi desastroso aos olhos de sua mãe. Além da revolta dos barões e da Carta Magna, provavelmente foi nessa época que apareceu um personagem lendário conhecido como Robin Hood. Eleanor não viveria muito para ver seu último filho morrer. Ela morreu em Poitiers aos 80 anos de idade, em 1º de abril de 1204, algumas semanas após a captura do Château Gaillard por Felipe Augusto da França. Ela está enterrada em Fontevraud onde, apesar dos saques e profanações revolucionárias de 1793, ainda podemos ver sua figura reclinada ao lado de seu marido, Henrique II Plantageneta.</p>
<p>Assim morreu a rainha que estava à frente de seu tempo. Aquela que usou os filhos como armas de vingança marital. A Inglaterra perdeu muitas de suas terras no continente e o Império angevino, forjado por Henrique II e Eleanor, entrou em colapso. A influência de Eleanor continuou a ser sentida, no entanto, através de fortes e independentes mulheres, como sua neta Branca de Castela. Seja como um modelo, seja por meio da poesia que inspirou, o impacto de Eleanor continuou durante muito tempo após sua morte.</p>
<p> O rei Henrique II, que morrera vários anos antes, morreu decepcionado. Suas aventuras com amantes lhe custaram caro. Existe uma história interessante sobre as amarguras do velho rei inglês(que na verdade era 10 anos mais jovem que a sua rainha). Na câmara do rei Henrique II no castelo de Winchester estava pintada com cenas alegóricas de sua vida. Uma delas era a pintura de uma águia e quatro aguietas. Três atacavam a águia, enquanto a quarta observava. Dizem que o rei comentou:"<i>Essas aguietas são meus filhos, que irão me perseguir até minha morte. O último deles, meu filho caçula, só está esperando para me arrancar os olhos com o bico.</i>" </p>
<p><b>Referências Bibliográficas</b></p>
1.TYERMAN, Christopher. <i>A Guerra de Deus: Uma Nova História das Cruzadas</i>(vol. 1). Rio de Janeiro: Imago, 2010.<br/>
2.GIASSETTI, Ricardo. <b>Ricardo, o leão das batalhas</b>. Coleção Grandes Guerras,Volume VIII. Aventura na História.Ed. Abril.2008. São Paulo.<br/>
3.DUARTE, Fernando. Em busca de Robin Hood. Revista Aventuras na História. Edição 82. Editora Abril. Maio, 2010. São Paulo.<br/>
Gustavo Pedrozahttp://www.blogger.com/profile/15982321070169803360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4322194361971823951.post-23885468162580718392023-10-30T09:35:00.002-03:002023-10-30T17:58:07.000-03:00Batalha de Viena - O crepúsculo do domínio otomano<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjBS633LBCgOECrfA7xqcIkZam_YN-nQrbfDVCnjfJdP6VYyV2FxGRoxHmx9xkkIE3oZuSymjtj2HR5jUmGNed8W3zjf1Hb2YumZ1ohOFhB-V4Ms6_iz-dwby68Z1cL1ObO17XyfaW6O9VI6YiR0CTi3WhAcvnVDOFnxotdxLPWcsevKR0tZtnFk0iZRvo/s984/Hussardos%20alados.webp" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" width="400" data-original-height="700" data-original-width="984" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjBS633LBCgOECrfA7xqcIkZam_YN-nQrbfDVCnjfJdP6VYyV2FxGRoxHmx9xkkIE3oZuSymjtj2HR5jUmGNed8W3zjf1Hb2YumZ1ohOFhB-V4Ms6_iz-dwby68Z1cL1ObO17XyfaW6O9VI6YiR0CTi3WhAcvnVDOFnxotdxLPWcsevKR0tZtnFk0iZRvo/s400/Hussardos%20alados.webp"/></a></div> <b>Cavaleiros Hussardos alados</b>
<p>Em tempos em que a Turquia, e o presidente Erdogan, busca supremacia até no continente europeu, parece oportuno falar daquilo que foi a última tentativa de invasão de um império islâmico na Europa: <b>O Império Otomano</b>! Uma dinastia turca surgida numa época em que muitos reinos asiáticos ascendiam e caíam, tudo por causa dos ataques mongóis desde o século XIII.</p>
<p>O império otomano, nascido no século XIV e se expandindo rapidamente, começou a adentrar o continente europeu ainda em meados do século XV. Desde o fim do século XIV que já havia Cruzadas defensivas dos países balcânicos contra os otomanos. Em 1408 nasceria a conhecida <i>Ordem do Dragão</i>, criada pelo imperador do Sacro Império Sigismundo de Luxemburgo. Ordem de cavalaria anti islâmica que tinha vários príncipes dos Bálcãs como membros, e até mesmo reis de Aragão, na península Ibérica. O objetivo era defender Constantinopla e até os reinos cristãos da Europa da maré otomana. Muitos príncipes europeus tinham codinomes derivados da ordem, como <i>Constantino Dragases</i>, o último imperador de Constantinopla, ou <i>Vlad Draculea</i>(conhecido por histórias de vampiros), por se tornarem defensores da cristandade.</p>
<p>Com a morte do sultão<i> Maomé II</i>, o conquistador de Constantinopla, em 1481, o império otomano já tinha conquistado a região dos Bálcãs. Tendo o sultão<i> Selim I</i>(1470-1520) dado um descanso para a Europa, pois se voltaria para a Ásia, o filho deste, <i>Solimão, o magnífico</i>(1494-1566), se voltaria para a Europa novamente. Com a <i>Batalha de Mohács</i>(1526), o reino da Hungria teve seu exército destroçado pelos otomanos, e o próprio rei <i>Luís II</i> morto no campo de batalha. Seu corpo nunca mais foi encontrado. Era o fim da independência da Hungria. E um nobre chamado <i>João Szapolyai</i>, aliado dos otomanos, seria o último rei do país.</p>
<p>Uma minoria de nobres reconheceu <i>Fernando de Habsburgo</i>, irmão de Carlos V do Sacro Império, como sucessor do trono, e depuseram João Szapolyai. Não queriam um aliado dos turcos como soberano da Hungria. João fugiu para a Polônia e pediu ajuda a Solimão para recuperar o trono. Em 1528 o sultão entrou triunfante em Budapeste para coroar seu vassalo. Um ano depois, o sultão trouxe um exército de 120 mil e cercou Viena. O fato comoveu todo continente europeu. A cidade recebeu ajuda de tropas espanholas e resistiu a vinte assaltos. Os otomanos voltariam em 1532, mas aí <i>Carlos V </i>resgataria a cidade. Seria preciso os otomanos esperarem 150 anos para o próximo cerco à Viena.</p>
<p>Em 1540, com a morte de João Szapolyai, Solimão avançou sobre a Hungria central e formou um governo. Encontrou resistência de Fernando Habsburgo na parte da Hungria imperial. Mas em 1571, Estêvão Bathory assumiu o trono polonês, se aproveitou da resistência anti Habsburgo na Hungria, aceitou a vassalagem otomana e reinou sobre uma parte do país, garantindo assim uma relativa independência da Hungria.</p>
<p>No século XVI era interessante notar que muitos preferiam ser vassalos dos turcos a serem submissos a um império católico. Era aquele ditado que muitos cristãos protestantes e ortodoxos diziam na época:"<i>Preferimos o turbante do sultão ao chapéu do papa</i>". Essa lógica vai fazer entender muitas coisas mais tarde. A <b>Guerra dos Trinta Anos(1618-1648)</b>, entre católicos e protestantes, tendo inclusive a França católica lutando do lado protestante, traria consequentes raciocínios sobre "<i>traição</i>" entre vários cristãos. Principalmente sobre quem foi a pessoa responsável sobre a decisão da França lutar do lado das potências protestantes, como a Suécia. Foi o primeiro ministro da França, o cardeal Armand du Plessis de Richelieu. Retratado por<i> Alexandre Dumas</i> em "<i>Os três mosqueteiros</i>", foi um clérigo mais próximo do trono francês, do que do papa. Todo esse emaranhado de alianças improváveis serviu para mostrar o quanto o mundo mais vale a política, que a religião.</p>
<p>Durante o decorrer do século XVI, o mar mediterrâneo, e principalmente o Oceano Índico, viu chegar os ingleses em seus mares. Depois vieram os holandeses. Essas eram potências economicamente mais fortes, e politicamente mais implacáveis que Portugal. Por outro lado, o mundo otomano no século XVI era muito mais abrangente que o europeu. Os súditos do sultão somavam cerca de 14 milhões. A Espanha tinha 5 milhões, e a Inglaterra 2,5 milhões. Constantinopla, que na sua queda tinha 40 mil, aumentou 10 vezes mais. Porém, nessa época, o triunfo otomano foi pouco duradouro. Desafiado pelos Habsburgos na Europa, Moscóvia, além de guerras contra os Safávidas no Irã, as tropas otomanas iam se retirando pouco a pouco da Hungria, do Cáucaso e do Iraque. Na <b>Batalha de Lepanto(1571)</b> os otomanos enfrentaram a Liga formada pela Espanha, Veneza e Malta, sendo derrotados por João d'Áustria. A derrota sofrida pela armada otomana fez anular as conquistas de Solimão. No final do século XVII, na época da última tentativa de invasão à Viena, muitos avanços obtidos durante o reinado de Solimão haviam se perdido.</p>
<p>A captura da cidade de Viena sempre foi uma aspiração estratégica do Império Otomano, devido ao controle que a cidade tinha sobre o Danúbio e as rotas comerciais terrestres para a Alemanha e o Mediterrâneo Oriental. Durante os anos anteriores ao cerco, o Império Otomano, sob os auspícios do grão-vizir <i>Kara Mustafa Pasha</i>(1635-1683), empreendeu extensos preparativos logísticos, incluindo a reparação e estabelecimento de estradas e pontes que conduzem ao Sacro Império Romano e aos seus centros logísticos, bem como o encaminhamento de munições, canhões e outros recursos de todo o Império para estes centros e para os Balcãs. O Cerco de Szigetvár em 1566 bloqueou o avanço do Sultão Solimão, o Magnífico, em direção a Viena e interrompeu o avanço otomano em direção à cidade naquele ano. Viena não foi ameaçada novamente até 1683. Em 1679, a peste assolava a cidade.</p>
<p>Na frente política, o Império Otomano vinha fornecendo assistência militar aos húngaros e às minorias não católicas nas partes da Hungria ocupadas pelos Habsburgos. Lá, nos anos anteriores ao cerco, a agitação generalizada transformou-se em rebelião aberta contra a busca de Leopoldo I pelos princípios da Contra-Reforma e o seu desejo de suprimir o protestantismo. Em 1681, os protestantes e outras forças anti-Habsburgos, lideradas por <i>Imre Thököly</i>(1657-1705), foram reforçados com um contingente militar significativo dos otomanos, que reconheceram Thököly como rei da "<i>Alta Hungria</i>"(a parte oriental da atual Eslováquia, e partes do nordeste da Hungria, que ele havia anteriormente tomado à força dos Habsburgos). Este apoio incluía a promessa explícita do "Reino de Viena" aos húngaros se este caísse em mãos otomanas. No entanto, antes do cerco, existia um estado de paz há 20 anos entre o Sacro Império Romano e o Império Otomano como resultado da <b>Paz de Vasvár</b>.</p>
<p>O Rei da Polônia, João III Sobieski(1629-1696), o verdadeiro herói desta batalha, preparou uma expedição de socorro a Viena durante o verão de 1683, honrando as suas obrigações para com o tratado, e partiria de Cracóvia em 15 de agosto. Durante este período a maior parte da Polónia ficaria em grande parte indefesa e, aproveitando a situação, Imre Thököly da Alta Hungria, como estado vassalo otomano, tentaria uma invasão. Jan Kazimierz Sapieha, o Jovem, atrasou a marcha do exército lituano, fazendo campanha nas Terras Altas da Hungria, e chegou a Viena somente depois de ter sido substituído.</p>
<p>O principal exército otomano sitiou Viena em 14 de julho. No mesmo dia, Kara Mustafa enviou a tradicional exigência de que a cidade se rendesse ao Império Otomano. Ernst Rüdiger Graf von Starhemberg, líder dos restantes 15.000 soldados e 8.700 voluntários com 370 canhões, recusou-se a capitular. Apenas alguns dias antes, ele recebeu a notícia do massacre em Perchtoldsdorf, uma cidade ao sul de Viena, onde os cidadãos entregaram as chaves da cidade depois de terem tido uma escolha semelhante, mas foram mortos de qualquer maneira. Então não dava para cnfiar. E nesta batalha nem tudo saiu como esperado. Tropas da Valáquia e da Moldávia foram requisitadas pelos otomanos. Alguns vieram. Outros lutaram do lado dos imperiais e poloneses. E mesmo aqueles que lutaram do lado otomano, sabotaram os canhões. Colocaram balas de canhão leves, que poucos danos causariam nas muralhas de Viena. Parece que os ataques aos Bálcãs no século XV não haviam sido esquecidos. Por outro lado, Imre Thököly, como líder protestante, preferia ficar do lado islâmico, do que lado católico. Natural, para uma época moderna, em que a política secular valeria mais que a religião. O assalto otomano à Viena tinha sido coordenado em aliança com o rei francês Luís XIV. E, talvez mais da metade dos soldados que procuravam capturar a cidade eram cristãos. Haviam gregos, armênios, húngaros, búlgaros, romenos e sérvios. Todos lutando do mesmo lado que árabes, turcos, curdos e outros nas fileiras otomanas. O acadêmico britânico Ian Almond, em seu livro "<i>Duas fés, uma bandeira: Quando muçulmanos e cristãos lutaram juntos nos campos de batalha da Europa</i>", fala da complexa teia de relações de poder, alianças feudais, simpatias étnicas e ressentimentos históricos que moldaram boa parte da história européia. Histórias como de <i>Frederico II Hohenstaufen</i>, sacro imperador alemão no século XIII, que tinha uma guarda sarracena em seu palácio na Sicília.</p>
<p>O cerco otomano cortou praticamente todos os meios de abastecimento de alimentos para Viena. A fadiga tornou-se tão comum que von Starhemberg ordenou que qualquer soldado encontrado dormindo durante o serviço fosse baleado. Cada vez mais desesperadas, as forças que controlavam Viena estavam à beira da derrota quando, em agosto, as forças imperiais comandadas por Carlos V, duque de Lorena(1643-1690), derrotaram Thököly em Bisamberg, a 5 km a noroeste de Viena. Em 6 de setembro, os poloneses sob o comando de Sobieski cruzaram o Danúbio 30 km a noroeste de Viena, em Tulln, para se unirem às tropas imperiais e às forças adicionais da Saxônia, Baviera, Baden, Francônia e Suábia. Às forças também se juntaram vários regimentos mercenários de cossacos zaporozhianos, contratados pela Comunidade Polaco-Lituana.</p>
<p>Uma aliança entre Sobieski e o imperador Leopoldo I resultou na adição dos hussardos poloneses ao exército aliado existente. O comando das forças aliadas europeias foi atribuído ao rei polaco, conhecido pela sua vasta experiência na liderança de campanhas contra o exército otomano. Notavelmente, ele alcançou uma vitória decisiva sobre as forças otomanas na Batalha de Khotyn (1673) e agora comandava um exército de 70.000 a 80.000 soldados, combatendo uma suposta força otomana de 150.000. A coragem e aptidão de Sobieski para o comando já eram conhecidas na Europa.</p>
<p>Quem eram os cavaleiros <b>hussardos</b> poloneses? A etimologia da palavra hussardo deriva da palavra sérvia gusar que significa "<i>andarilho/brigador</i>". Os hussardos se originaram em unidades mercenárias de guerreiros sérvios exilados da Hungria. Lanceiros mercenários de origem sérvia, conhecidos como Rascians, eram frequentemente contratados para combater os sipahi e a cavalaria de delicatessen otomanos . No século XV, os hussardos baseados nos de Matthias Corvinus foram adotados por alguns exércitos europeus para fornecer unidades de cavalaria leves e descartáveis. A referência mais antiga de hussardos nos registros poloneses data do ano de 1500, quando os rascianos foram contratados pelo Grande Tesoureiro Andrzej Kościelecki para servir sob a bandeira da casa real. No entanto, é possível que estivessem em serviço muito antes e a sua contribuição não estivesse bem documentada. À medida que os ataques otomanos na fronteira sudeste se intensificavam, a chamada Reforma Rasciana(1500-1501) durante o reinado de João I Alberto solidificou o papel de um dos primeiros hussardos nas fileiras polacas. A primeira formação de hussardos foi estabelecida pelo decreto do Sejm(parlamento polonês) em 1503, que contratou três bandeiras húngaras. Logo, o recrutamento também começou entre os poloneses. Sendo muito mais dispensáveis do que os lanceiros fortemente blindados da Renascença, os hussardos servo-húngaros desempenharam um papel bastante menor nas vitórias da Coroa polaca durante o início do século XVI, exemplificadas pelas vitórias em Orsha (1514) e Obertyn (1531). Durante o chamado "período de transição" de meados do século 16, os hussardos pesados substituíram em grande parte os lanceiros blindados montados em cavalos blindados, nas Obrona Potocznaforças de cavalaria polonesas que serviam na fronteira sul. Entre o século XVI e a Batalha de Viena em 1683, os Hussardos travaram muitas batalhas contra vários inimigos, a maioria das quais venceram. Nas batalhas de Lubiszew em 1577, Byczyna(1588), Kokenhausen(1601), Kircholm(1605), Klushino(1610), Chocim(1621), Martynów(1624), Trzciana(1629), Ochmatów(1644), Beresteczko(1651), Połonka(1660), Cudnów(1660), Khotyn(1673) e Lwów (1675).</p>
<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjn4pZCb6HERkvXaxPuT2apnYzHFj9VMiTGNidCRbstoooVHYUECSm8Yv6ORc3C6dT-wn4yn6W5TCQ3NBbdJ2ZxN9AUX_Y6_Wh-mPp7Z8wYm6xiVSRDXP15bwamJplqp2gqBd5oxdXue4XWKYq0NLne-7Iiz_hOhf5qDyHDxj7QMiqzrApQ__cXbzDksZk/s650/mapa%20Europa%201683.gif" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" height="320" data-original-height="650" data-original-width="600" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjn4pZCb6HERkvXaxPuT2apnYzHFj9VMiTGNidCRbstoooVHYUECSm8Yv6ORc3C6dT-wn4yn6W5TCQ3NBbdJ2ZxN9AUX_Y6_Wh-mPp7Z8wYm6xiVSRDXP15bwamJplqp2gqBd5oxdXue4XWKYq0NLne-7Iiz_hOhf5qDyHDxj7QMiqzrApQ__cXbzDksZk/s320/mapa%20Europa%201683.gif"/></a></div> <b>Mapa da Europa na segunda metade do século XVII</b>
<p>A batalha começou antes que todas as unidades estivessem totalmente implantadas. Às 4h00 da madrugada do dia 12 de setembro, o exército otomano atacou, tentando interferir no envio de tropas da Liga Sagrada. Os alemães seriam os primeiros a contra-atacar. Carlos de Lorena avançou com o exército imperial à esquerda e outras forças imperiais no centro e, após intensos combates e múltiplos contra-ataques otomanos, assumiu várias posições-chave, em particular as aldeias fortificadas de Nussdorf e Heiligenstadt. Ao meio-dia, o exército imperial infligiu danos significativos às forças otomanas e estaria perto de um avanço.</p>
<p>Está registrado que a cavalaria polonesa emergiu lentamente de uma floresta próxima sob os aplausos da infantaria que esperava sua chegada. Às 16 horas, um destacamento de 120 hussardos engajou-se numa carga de cavalaria pesada, provando com sucesso a vulnerabilidade otomana ao ataque, mas sofrendo muitas baixas. Neste ponto, o vizir otomano decidiu abandonar esta posição e retirar-se para o seu quartel-general no acampamento principal mais a sul. No entanto, a essa altura muitos soldados otomanos já estavam deixando o campo de batalha.</p>
<p>O exército de socorro estava agora pronto para um ataque final. Por volta das 18 horas, o rei polonês ordenou que a cavalaria atacasse em quatro contingentes, três grupos poloneses e um do Sacro Império Romano-Germânico. 18.000 cavaleiros atacaram colinas abaixo, o maior ataque de cavalaria da história. Sobieski liderou o ataque à frente de 3.000 lanceiros pesados poloneses, os "Hussardos Alados". Os tártaros Lipka que participaram do lado polonês usavam um ramo de palha em seus capacetes para distingui-los dos tártaros que lutavam no lado otomano. A carga rompeu rapidamente as linhas de batalha dos otomanos, que já estavam exaustos e desmoralizados e começariam a recuar do campo de batalha. A cavalaria dirigiu-se diretamente para os campos otomanos e para o quartel-general de Kara Mustafa, enquanto a guarnição vienense restante saiu de suas defesas para se juntar ao ataque.</p>
<p>As forças otomanas estavam cansadas e desanimadas após o fracasso da tentativa de enfraquecimento, o ataque à cidade e o avanço da infantaria da Liga Sagrada sobre o Türkenschanze. Menos de três horas após o ataque decisivo da cavalaria, as forças da Liga Sagrada venceram a batalha e defenderam Viena com sucesso. O primeiro oficial católico que entrou na cidade foi Luís Guilherme, Marquês de Baden-Baden, à frente dos seus dragões. Posteriormente, Sobieski parafraseou a famosa citação de Júlio César(<i>Veni, vidi, vici</i> ) dizendo "<i>Venimus, vidimus, Deus vicit</i> " - "<i>Viemos, vimos, Deus conquistou</i>".</p>
<p>De acordo com <i>Walter Leitsch</i>, historiador da Universidade de Viena, a derrota do exército Otomano fora dos portões de Viena, há 340 anos, é geralmente considerada o início do declínio do Império Otomano. No entanto, marca um ponto de viragem: não só foi interrompido o avanço otomano nos territórios cristãos, mas também na guerra seguinte que durou até 1698, quase toda a Hungria foi reconquistada pelo exército do imperador Leopoldo I. A partir de 1683, os turcos otomanos deixaram de ser uma ameaça para o mundo cristão.</p>
<p><b>Referências Bibliográficas</b></p>
1.<b>Atlas da História Universal, The Times</b>, <i>O Globo</i>. Patrocínio:CCBB. 2001.<br/>
2.BURNS, Edward McNall. <b>História da Civilização Ocidental. Volumes I e II</b>. Tradução: Lourival Gomes Machado, Lourdes Santos Machado, Leonel Vallandro. 21ª Edição. Editora Globo. Porto Alegre, RS. 1978.<br/>
Gustavo Pedrozahttp://www.blogger.com/profile/15982321070169803360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4322194361971823951.post-35299294208767052862023-10-18T00:43:00.003-03:002023-10-18T00:43:49.434-03:00O lado sinistro das células-tronco<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgs0HNVkvyZ8eF14tOEHCOpcDSeMEHYFCmCsVusifq_qh5Mg5aMr3clKPDjTHWK02K04ueTC-PLVxEWgRu4G8I_lbCUWRErTErvEYYf8wrcbLFxOwJdq2KikNgaPgIajgvFRh1-nbCSXysk-u9u0NjlHw9kWCy9Yv6P-_FHKmZxdxhEBv-zl67aJM_gx4Y/s316/cancer%20tronco.webp" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" width="400" data-original-height="141" data-original-width="316" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgs0HNVkvyZ8eF14tOEHCOpcDSeMEHYFCmCsVusifq_qh5Mg5aMr3clKPDjTHWK02K04ueTC-PLVxEWgRu4G8I_lbCUWRErTErvEYYf8wrcbLFxOwJdq2KikNgaPgIajgvFRh1-nbCSXysk-u9u0NjlHw9kWCy9Yv6P-_FHKmZxdxhEBv-zl67aJM_gx4Y/s400/cancer%20tronco.webp"/></a></div>
<p>Neste dia do médico, convém relembrar uma das maiores descobertas da medicina genética: O uso das <b>células-tronco</b>! Desde que se deu a descoberta da molécula helicoidal do DNA, que a engenharia genética vem avançando. Desde o século XIX que os cientistas de todo o mundo têm estudado células-tronco, seja a partir de plantas, de camundongos, ou de células de pacientes em busca de cura para doenças.</p>
<p>Em 1868 o termo “<i>células-tronco</i>” aparece na literatura científica pela primeira vez, quando biólogo alemão <b>Ernst Haeckel(1834-1919)</b> usa a expressão para descrever o óvulo fertilizado que se torna um organismo, usa também para descrever o organismo unicelular que serviu como a célula ancestral para todos os seres vivos.</p>
<p>Em 1998, a equipe do biólogo <b>James Thomson</b>, da Universidade de Wisconsin(EUA), isolou e desenvolveu pela primeira vez em laboratório uma linhagem de células-tronco extraídas de embriões humanos. Foi um feito técnico e um problema ético para a pesquisa biológica. Feito, porque os estudos com essas células podem, em teoria, levar a melhores tratamentos ou à cura de uma lista quase interminável de doenças. Se devidamente cultivadas, as células-tronco embrionárias, e apenas elas, podem dar origem a todos os tecidos de um organismo, cerca de 220 tipos distintos de células que seriam a matéria-prima de novas terapias. Problema, porque a forma de obtê-las ofende a crença de parcelas da sociedade, em especial os religiosos, e, em alguns países, também as leis: as células-tronco são retiradas de embriões, que, ao ceder esse material, tornam-se inviáveis.</p>
<p>Porém, atualmente vem sendo confirmada uma hipótese antiga sobre as células tronco: que elas podem provocar câncer. A ideia de que os restos do nosso passado embrionário poderiam levar à nossa morte através do cancro é, na verdade, uma hipótese de longa data, que remonta a 1829. Ao longo de meados do século XIX, acumularam-se teorias e observações de que os tumores estavam ligados ao crescimento do tecido embrionário, culminando numa teoria abrangente do “<i>repouso embrionário</i>” apresentada por <b>Julius Friedrich Cohnheim(1839-1884)</b> em 1875. A teoria afirmava que os tumores podem surgir de células embrionárias que sobraram do desenvolvimento, e que permanecem adormecidas até serem ativadas, para se tornarem cancerosas.</p>
<p>As células-tronco são células humanas especiais que são capazes de se desenvolver em muitos tipos de células diferentes. Isso pode variar de células musculares a células cerebrais. Em alguns casos, eles também podem reparar tecidos danificados. Os investigadores acreditam que as terapias baseadas em células estaminais poderão um dia ser utilizadas para tratar doenças graves, incluindo alguns tipos de cancro. No entanto, as células-tronco também podem se tornar a causa do câncer.</p>
<p>As células-tronco cancerígenas(CSCs) são uma subpopulação de células dentro de um tumor que compartilham algumas características com as células-tronco normais. Tal como as células estaminais normais, as CSC têm a capacidade de se auto-renovar e diferenciar em múltiplos tipos de células, o que lhes permite impulsionar o crescimento e a propagação do tumor. Isto significa que as CSCs são responsáveis por impulsionar o crescimento e a propagação do tumor e são consideradas a causa raiz da recaída do cancro e da resistência aos medicamentos. Acredita-se que as CSCs sejam resistentes aos tratamentos convencionais de câncer, como quimioterapia e radioterapia, devido à sua capacidade de auto-renovação e regeneração após o tratamento.</p>
<p>Por outro lado, as células-tronco também apresentam potencial terapêutico no tratamento do câncer. Vários tipos de transplantes de células-tronco são usados nesta via de tratamento. O processo envolve a administração de altas doses de quimioterapia e, às vezes, de radiação para eliminar as células cancerígenas, mas essas altas doses também podem destruir as células-tronco do paciente e interromper temporariamente a produção de células sanguíneas. Para restaurar a produção de células sanguíneas, células-tronco saudáveis são transplantadas para substituir as células destruídas. Isto permite que doses mais elevadas de quimioterapia atinjam as células cancerígenas, e as células estaminais transplantadas podem crescer em células sanguíneas maduras que funcionam normalmente e estão livres de cancro.</p>
<p>Em alguns casos, os transplantes de células estaminais de um doador também podem ajudar a eliminar as células cancerígenas de forma mais eficaz do que as células imunitárias de um paciente. Essas células doadas podem localizar e destruir células cancerígenas.</p>
<p>Um lado sinistro, e cancerígeno, das células-tronco passa pela origem de certos tipos de câncer, e pode ser a causa de muitos outros. As pesquisas com células tronco estão fornecendo respostas para antigas perguntas da oncologia. O que tanto pode servir para o combate aos tumores, como um alerta do seu surgimento.</p>
<p>O mecanismo pelo qual os tecidos mantêm constante sua população celular é o mesmo em todo organismo, e está presente em quase todas as espécies superiores. Sua base são pequenos grupos de células-tronco de vida longa, que atuam como repositórios de células funcionais. A produção segue etapas rigorosamente organizadas, segundo as quais cada geração de células descendentes se torna gradativamente mais especializada.As células do sistema que forma o sangue, hematopoiéticas, são o melhor exemplo desse tipo de produção. Embora representem 0,01% das células da medula óssea de um adulto, as células-tronco hematopoiéticas(CTH), cada uma delas origina células progenitoras com diferenciação intermediária.</p>
<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiubyOKrhqxrypJ8I9uRSlzw-OOX9gNSWowr3bo62TjK05vQLVHe83QdAnjhBOszvJ2oO2C5fqqIBur-HIwERhlWSesjfq6Lvd4SEnUgrI8VPQpzBvgZpb-vyH-trrl9nqlEEh753JM7dGqSsMLSfbJFjHQEWN5KmD1DcSHS90FkvWw_RhWUXcMYY9kFDo/s3047/Celula%20sangu%C3%ADnea.jpg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" height="320" data-original-height="3047" data-original-width="2618" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiubyOKrhqxrypJ8I9uRSlzw-OOX9gNSWowr3bo62TjK05vQLVHe83QdAnjhBOszvJ2oO2C5fqqIBur-HIwERhlWSesjfq6Lvd4SEnUgrI8VPQpzBvgZpb-vyH-trrl9nqlEEh753JM7dGqSsMLSfbJFjHQEWN5KmD1DcSHS90FkvWw_RhWUXcMYY9kFDo/s320/Celula%20sangu%C3%ADnea.jpg"/></a></div>
<p>Durante muito tempo se acreditou que qualquer célula tumoral que permanecesse no corpo tinha potencial de reiniciar a doença. Hoje sabe-se que não é assim. E a descoberta de células-tronco cancerígenas tem a ver com isso. Alguns pesquisadores acreditam que no centro de todo tumor existe um punhado de células-tronco ael anômalas que mantêm o tecido maligno. Se estiver correta, a ideia poderá explicar por que os tumores muitas vezes se regeneram mesmo depois de serem quase destruídos por drogas anticâncer. Ela também indica uma estratégia diferente para o desenvolvimento das drogas, sugerindo que deveriam ser selecionadas segundo a letalidade para as células-tronco cancerosas, e não - como ocorre hoje - por sua capacidade de matar qualquer célula e diminuir os tumores.</p>
<p>O artigo de <b>Michael F. Clarke</b> e <b>Michael W. Becker</b> pode despertar sobre a eficácia das terapias com células-tronco. A principal função das terapias com células-tronco é restaurar as funções de tecido pela substituição de células lesadas. O artigo da dupla norte-americana demonstra os diferentes tipos de câncer, que se deve a alterações de células tronco tecido-específicas. Hoje já se sabe que linhagens de células embrionárias, quando transplantadas em adultos, podem originar tumores compostos de todos os folhetos embrionários. São chamado teratomas(<i>tumor derivado de células germinativas</i>). E há linhagens de células embrionárias que têm instabilidade genômica.</p>
<p>Também se sabe hoje que há dois tipos de células-tronco na medula óssea: <i>Hematopoiética</i> e <i>mesenquimais</i>. Estas últimas revelaram potencial oncogênico em camundongos. E pacientes transplantados com células-tronco hematopoiéticas desenvolvem neoplasias, que são crescimentos desordenados de células no organismo. Esse crescimento desordenado leva à formação de uma massa anormal de tecido, que pode ser cancerígeno ou não.</p>
<p>Mas nem tudo são desastres ou notícias ruins. Cientistas da Escola de Medicina de Harvard descobriram um jeito de transformar células-tronco em '<i>máquinas</i>' para lutar contra o câncer cerebral. O estudo, publicado no jornal científico Células-tronco, foi resultado de um trabalho de cientistas do <b>Hospital de Massachusetts</b> e do <b>Instituto de Células-Tronco de Harvard</b>.</p>
<p>Em uma experiência com ratos, as células-tronco foram geneticamente modificadas para produzir toxinas que podem matar tumores no cérebro sem matar as células normais. Pesquisadores dizem que o próximo passo seria testar esse processo em seres humanos. "<i>Depois de fazer toda a análise molecular e de imagem para controlar a inibição da síntese de proteínas dentro de tumores cerebrais, nós vimos as toxinas matarem as células cancerígenas</i>", explicou <b>Khalid Shah</b>, principal autor da pesquisa e diretor do <b>Laboratório de Neuroterapia no Hospital de Massachusetts</b> e na <b>Escola de Medicina de Harvard</b>.</p>
<p>Pesquisadores querem "<i>treinar</i>" células imunológicas para reconhecimento e ataque às células cancerígenas. Outra ideia é o uso de drogas que forcem a diferenciação dessas células, de modo a eliminar sua capacidade de auto renovação. Com a combinação do método de destruir as vias genéticas responsáveis pela sua manutenção e pela sinalização do microambiente, se espera eliminar as verdadeiras células responsáveis pelo câncer.</p>
<p><b>Referências Bibliográficas</b></p>
1.CLARKE, Michael F. e BECKER, Michael W. <i>O potencial maligno das células tronco</i>. <b>Scientific American Brasil: As novas descobertas contra o câncer</b>. nº30. Agosto, 2006. <br/>
2.<b>As células-tronco e o câncer</b>: https://hsci.harvard.edu/stem-cells-and-cancer<br/>
3.PIVETTA, Marcos.<i> Células-tronco</i>. <b>Revista FAPESP</b>. Edição 110. Abril, 2005. https://revistapesquisa.fapesp.br/celulas-tronco/
Gustavo Pedrozahttp://www.blogger.com/profile/15982321070169803360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4322194361971823951.post-31434613885121987562023-10-12T02:17:00.005-03:002023-10-13T15:46:53.343-03:00Saladino - O rei do Oriente<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj1ECa52h6MTI7vfzAxloy_MuJlBGwFU_U3Tide04GYM5cC6JzJ_sGbqt0xuMkM10_UBSV-KWMZa2rJatzi-K1WlAyRVDWed03z-aU8huSKmZ_s4VmHQsN3F7yjYNdCFKhneXce6RnuXzSQKsrahI1wUc5p9wm16Azz4TgE_8IpqLagTmIG3hczE9TfB60/s554/Saladino%20no%20oriente.jpeg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" width="400" data-original-height="554" data-original-width="554" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj1ECa52h6MTI7vfzAxloy_MuJlBGwFU_U3Tide04GYM5cC6JzJ_sGbqt0xuMkM10_UBSV-KWMZa2rJatzi-K1WlAyRVDWed03z-aU8huSKmZ_s4VmHQsN3F7yjYNdCFKhneXce6RnuXzSQKsrahI1wUc5p9wm16Azz4TgE_8IpqLagTmIG3hczE9TfB60/s400/Saladino%20no%20oriente.jpeg"/></a></div>
<p>Em tempos em que o mundo islâmico necessita se mostrar pacífico e equilibrado, é preciso falar do maior ícone da História islâmica. Alguém que transcendeu a rivalidade atual, como Israel, Hamas, Hezbollah,etc. Até mesmo transcendeu a rivalidade nas cruzadas. Quando se fala nas cruzadas, muitas pessoas pensam como um só evento, mas foram vários. Não só as oito cruzadas para Jerusalém e norte da África, mas também no Báltico contra tribos politeístas, além de cruzadas nos Bálcãs contra os otomanos a partir do final do século XIV. Isso somado ao fato desse termo "<i>cruzadas</i>" sequer existir na idade média europeia. Falava-se muito em "<i>tomar a cruz</i>". Talvez daí tenha surgido esse nome adotado hoje.</p>
<p>No final do século XII, um grande líder islâmico surgiria em meio aos curdos. Seu nome era <b>Al-Malik Al-Nasir Salah Al-Dunya Wa'l-Din Abu'l Muzaffar Yusuf Ibn Ayyub Shadi Al-Kurdi</b>, conhecido no Ocidente como <b>Saladino</b>. Um nobre curdo dos ayúbidas, tido como herói do islã até os dias de hoje. Quem está acostumado a ver prisioneiros com a cabeça decepada pela Al Qaeda, pode ter certeza que eles nada aprenderam com o maior líder islâmico da História. Líder carismático, implacável na luta, generoso na vitória. Aquele que seria conhecido como o maior adversário do rei Ricardo, <i>Coração de Leão</i>, da Inglaterra, durante a terceira cruzada. De família curda, Yusuf nasceu em 1137 nas montanhas de Tikrit, no atual Iraque. Curiosamente, a mesma cidade natal de Saddam Hussein. O pai dele, Najm Ad-Dim, tornou-se comandante da fortaleza do líder Zengi, em Baalbek, no Líbano atual. Seu tio, Xirkuh, chefiava o exército quando Zengi tomou Edessa em 1144.</p>
<p>Em 1146, com a morte de Zengi, subiu ao trono <b>Nur Al-Din</b>(1118-1174), da facção sunita. Em 1164 este rei enviou tropas para invadir o Egito. Xirkuh, tio de Saladino, era o líder do exército. Ele morreu algum tempo depois engasgado num jantar. Segundo o escritor paquistanês Tariq Ali, no Livro de Saladino, Xirkuh morreu de tanto comer. Saladino teria ficado tão traumatizado com isso que passou o resto da vida comendo pratos vegetarianos. Sim, isso mesmo! <b>O maior herói da História islâmica se tornou vegetariano!</b></p>
<p>Em 1169, Saladino se tornou vizir de Nur Al-Din. Dois anos depois, eliminou todos os fatímidas(<i>descendentes de Fátima e Ali, filha e genro de Maomé</i>) do reino. Isso resultou numa elevação perante a corte do Califado de Bagdá. Saladino se tornou sultão do Egito desde então. Com a morte de Nur Al-Din ele ocupou Damasco e unificou o reino. Agora Saladino era governante absoluto, pois entenderia seu reino até a alta mesopotâmia.</p>
<p>Em 1177, já em conflitos contra os estados cruzados, Saladino perde a <b>Batalha de Montgisard</b> para outra lenda das cruzadas, Balduíno IV, o rei leproso de Jerusalém. E perdeu tendo muito mais tropas que o rei cristão. A vitória de Balduíno nesta batalha foi relatada muitos anos depois como um verdadeiro milagre. Algo que jamais poderia ter acontecido.</p>
<p>O rei <b>Balduíno IV</b>(1161-1185)e <b>Filipe da Alsácia</b>(1143-1191) que haviam chegado recentemente em peregrinação, planejaram uma aliança com o Império Bizantino para um ataque naval ao Egito. No entanto, nenhum desses grandes planos se concretizou. Em vez disso, Filipe decidiu se juntar à expedição de <b>Raimundo de Trípoli</b>(1140-1187) para atacar a fortaleza sarraceno de Hama, no norte da Síria. Um grande exército cruzado, o Hospitalário dos Cavaleiros e muitos cavaleiros templários o seguiram. Isso deixou o Reino de Jerusalém com muito poucas tropas para defender seus vários territórios. Enquanto isso, Saladino estava planejando sua própria campanha mobilizada do Egito, com o objetivo de retomar a Cidade Santa pela força, e partiu em 18 de novembro de 1177. Quando ele foi informado da expedição para o norte, deixando a "Cidade Santa" desprotegida, ele não perdeu tempo em mobilizar suas forças, invadindo o reino com um exército de cerca de 30.000 homens. Sabendo dos planos de Saladino, Balduíno IV deixou Jerusalém com, de acordo com Guilherme de Tiro, apenas 375 cavaleiros para tentar uma defesa em Ascalon. No entanto, Balduino foi interceptado e cercado lá por uma vanguarda avançada de tropas enviadas por Saladino.</p>
<p>Saladino continuou sua marcha em direção a Jerusalém, pensando que Balduíno não se atreveria a segui-lo com tão poucos homens à sua disposição. Ele atacou Ramla, Lydda e Arsuf, e avaliando que Balduino não era um perigo para suas forças, ele permitiu que seu exército fosse espalhado por uma grande área, saqueando e forrageando. O excesso de confiança de Saladino sobre o tamanho de seu próprio exército parece ter sido parte de seu desmoronamento. No entanto, sem o conhecimento de Saladino, as forças que ele deixou para subjugar o rei tinham sido insuficientes e foram superadas. E agora ambos, Balduíno e os Templários, tendo vindo de Gaza, estavam marchando para interceptá-lo antes de chegar a Jerusalém. Além disso, com suas forças sendo amplamente dispersas, a comunicação, o comando e o controle eram, na verdade, inexistentes. Os cristãos, liderados por Balduíno IV(na época com 16 anos), acompanharam os sarracenos executando uma varredura tática para o norte ao longo da costa, depois manobrando o sudeste, pegando Saladino de surpresa em Montgisard, perto de Ramla. <b>Ibn Al-Athir</b>(1160-1233), um dos cronistas árabes, menciona que Saladino pretendia sitiar um castelo dos cruzados na área. Mas o trem de bagagem de Saladino aparentemente ficou atolado, dificultando seu movimento. Os cronistas egípcios concordam que a bagagem havia sido atrasada em uma travessia do rio. Saladino foi tomado totalmente de surpresa. O exército dele estava em desordem. Parte disso foi retido pelo trem de bagagem à terra livre, enquanto outra parte de sua força foi amplamente dispersa em grupos de ataque em todo o campo. Alguns homens tiveram que se apressar para recolher suas armas do trem de bagagem.</p>
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<p>Formando-se para a batalha, Balduíno, os Cavaleiros de <b>Raynald de Châtillon</b>(1125-1187) e os Templários, embora numericamente inferiores, executaram uma carga frontal de cavalaria blindada no centro das linhas de batalha apressadamente formadas de Saladino, imediatamente causando pesadas baixas. O impacto foi imediato e devastador, criando uma cunha, quebrando a formação do inimigo. Balduíno, tão enfraquecido como estava por sua condição, lutou ao lado de seus homens, o que, como faria Henrique V na Batalha de Agincourt em 1415, teve um efeito inspirador em seu exército. Os francos, com o coração disciplinado dos Templários, colocaram os Ayyubidas em derrota, expulsando-os do campo. Eles massacraram um número importante de inimigos, vários dos quais eram generais de Saladino. Diante da derrota de suas tropas, Saladino encontrou abrigo no coração de sua guarda de elite, composto por mil mamelucos altamente disciplinados.</p>
<p>O rei Balduíno, lutando com as mãos enfaixadas para cobrir suas feridas, estava no meio da luta, inspirando ainda mais suas tropas. O comando egípcio estava sob o sobrinho de Saladino, Taqi ad-Din. Taqi ad-Din aparentemente atacou os francos enquanto Saladino estava reformando sua guarda mameluca. O filho de Taqi, Ahmad, morreu nos primeiros combates. Os homens de Saladino foram rapidamente sobrecarregados. Saladino felizmente, evitou a captura escapando, como <b>Ralph de Diceto</b>(1120-1202) afirma, em um camelo de corrida. Ao cair da noite, os egípcios que acompanhavam Saladino tinham chegado a Caunetum Esturnellorum perto do monte de Tell el-Hesi. Isto fica a cerca de 40 km de Ramla. Balduino perseguiu Saladino até o anoitecer, e depois se retirou para Ascalon. Cansado depois de dez dias de fortes chuvas, e sofrendo a perda de cerca de noventa por cento de seu exército, incluindo seus guarda-costas pessoais mamelucos, Saladino fugiu de volta para o Egito, assediado por beduínos ao longo do caminho. Apenas um décimo de seu exército voltou para o Egito com ele.</p>
<p>Após a unificação do Egito e da Síria, Saladino partiu aos preparativos para seu maior objetivo: Jerusalém! Em 2 de outubro de 1187 as tropas do Sultão entraram em Jerusalém. A derrota na Batalha de Hattin, ainda no deserto, e a queda de Jerusalém, abalaram o velho continente europeu. Josias, arcebispo de Tiro, partiu para a Europa. Chegou primeiro à Sicília, depois à Roma. O papa Urbano III teria morrido ao ser informado. No Oriente, diferentemente de seus inimigos, Saladino ofereceu possibilidade de exílio aos moradores da cidade. Mas, para isso, tiveram que pagar. Os pobres foram isentos. Porém muitos tiveram que vender tudo para saírem livres.</p>
<p>A derrota na Batalha de Hattin foi uma "<i>facada nas costas dos cruzados</i>". Fragilizou-os e facilitou a queda de Jerusalém. Na manhã de 4 de julho, os francos tentaram abrir caminho para o lago, distante aproximadamente 10 quilômetros. Saladino respondeu mandando seus homens atearem fogo nos arbustos em volta, aumentando o calor e produzindo espessa fumaça, o que veio a acrescentar mais sede aos ocidentais. Quando o calor atingiu o auge por volta do meio-dia, os arqueiros de Saladino, cada um equipado com 400 flechas, receberam ordens para lançarem um bombardeio livre e devastador sobre o inimigo. Na confusão resultante, a infantaria franca se dispersou, abandonando sua posição protetora usual em volta da cavalaria. Um grupo, comandado por <b>Raimundo de Trípoli</b>(1140-1187), rompeu através do cerco muçulmano e escapou. Mais tarde, surgiu uma versão de que receberam permissão para saírem por um acordo prévio com Saladino, demonstrando cabalmente as traições devidas às rivalidades, desconfianças, rixas e brigas entre os nobres latinos. A desordem geral do fatídico dia foi citada em uma carta da época, enviada ao Mestre dos Cavaleiros Hospitalários na Itália. A disciplina dos francos não foi tão boa como deveria ter sido, com muitos dos combatentes não dando apoio quando os Cavaleiros Templários acuavam o inimigo. Consequentemente, eles se encontraram isolados, cercados e, finalmente, massacrados.</p>
<p>Os francos restantes reuniram-se nas ladeiras dos dois morros do Monte Hattin (na verdade uma ampla colina, os restos de um antigo vulcão). Os morros são também chamados <i>Cornos de Hattin</i>, um nome posteriormente muitas vezes aplicado à própria batalha. O local oferece fraca proteção graças a um bom número de arruinadas muralhas da Idade do Ferro, mas o resultado era inevitável. Duas últimas e desesperadas cargas que visavam diretamente a Saladino e sua guarda pessoal, falharam, e os muçulmanos encerraram em vitória.</p>
<p><b>Guy de Lusignan</b>(1150-1194) foi capturado, mas tratado hospitaleiramente e mais tarde libertado, enquanto <b>Reynald de Chatillon</b>(1125-1187), que anteriormente havia atacado uma caravana muçulmana, contrariando uma trégua, recebeu merecido castigo em retribuição, sendo impiedosamente esquartejado, o primeiro golpe vindo da própria cimitarra de Saladino. A maioria dos outros nobres francos capturados foram colocados em liberdade após pagamento de um resgate, porém os soldados comuns foram vendidos como escravos. Diferentemente, de acordo com o historiador árabe Ibn al-Athir, quaisquer irmãos dos Cavaleiros Hospitalários e Cavaleiros Templários que tenham sido capturados foram executados, pois Saladin temia as habilidades de combate e a devoção à causa cristã. O Mestre dos Templários, Gerard de Ridefort, foi poupado para resgate, mas tendo perdido 230 de seus cavaleiros, sua ordem foi colocada de joelhos.</p>
<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEges2GhxewBXIFxIhVkFlo8F1csb6ua5Z_n6bFVZp-LFNwpJW2Fzsouy5kljaIB3ECLb1iXqskkFtsT512WKyvl6XFSwP_EzC-RuA3qN-k64JazBnj07seh5qXhr_Ulv6Ttq0uY2I42Pdg6Qi8bh_aApMZWsuTEGmafVkI0Xb2sE4quJ-JnHR-jkru4PmI/s1095/The_Crusader_States_in_1135.svg.png" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" height="320" data-original-height="1095" data-original-width="800" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEges2GhxewBXIFxIhVkFlo8F1csb6ua5Z_n6bFVZp-LFNwpJW2Fzsouy5kljaIB3ECLb1iXqskkFtsT512WKyvl6XFSwP_EzC-RuA3qN-k64JazBnj07seh5qXhr_Ulv6Ttq0uY2I42Pdg6Qi8bh_aApMZWsuTEGmafVkI0Xb2sE4quJ-JnHR-jkru4PmI/s320/The_Crusader_States_in_1135.svg.png"/></a></div> <b>Estados cruzados no Oriente, em meados do século XII
</b>
<p>Saladino, além de obter uma vitória, conseguiu a sagrada relíquia da Verdadeira Cruz, retirada da tenda real de Guy após a batalha. A perda de tão precioso talismã espiritual funcionou como um verdadeiro choque para os francos e para a Europa Ocidental em geral. Saladino celebrou o sucesso em Hattin erguendo um edifício abobadado no local, cujas fundações ainda são visíveis hoje em dia. Outra atitude de Saladino, após conquistar Jerusalém, foi lacrar nove das dez portas da Igreja de Santo Sepulcro. A única que ficou aberta ganhou uma chave, que foi confiada a duas famílias árabes: Nuseibeh e os Joudah. Ainda hoje a chave permanece em poder delas.</p>
<p>Saladino virou uma espécie de ícone do mundo islâmico. Hoje muitas escolas militares no Oriente Médio usam suas táticas militares como exemplo. Isso a tal ponto que muitos líderes do mundo árabe "<i>quiseram ser Saladino</i>". <b>Saddam Hussein</b>(1937-2006), <b>Aiatolá Komeini</b>(1902-1989) e o que mais perto chegou do antigo sultão, que foi <b>Gamal Nasser</b>(1918-1970), antigo líder do Egito. Mas seus valores éticos estão longe desse líder, como o caso de Saddam Hussein, que lutou contra o Irã, tendo o apoio dos EUA. Coisa que Saladino jamais faria. Todos eles buscaram se assemelhar ao líder curdo da época das cruzadas, mas nenhum deles atingiu seu nível de <i>gentleman</i>. Dizem que pouco antes de tomar Jerusalém, Saladino teria dito ao filho mais velho, Al-Afdal:"Lembre que todos somos mortais e governamos porque o povo assim o permite. Nunca tente obter riquezas porque demonstra insegurança." Por manter esse pensamento ao pé da letra, Saladino morreu pobre.</p>
<p>Em fevereiro de 1193, após se desentender com o califa de Bagdá, numa briga que poderia rachar o islã, Saladino ficou depressivo. Morreria um mês depois, aos 55 anos. Como não possuía posses, seus seguidores fizeram "<i>vaquinha</i>" para comprar argila seca para o seu túmulo. Dizem que no leito de morte teria dito:"<i>Espetem um trapo em meu porta bandeira. E mostrem ao povo que isso é tudo que o rei do Oriente levará para o túmulo...</i>"</p>
<p><b>Referências Bibliográficas</b></p>
1.<b>Batalha de Hattin</b>. WORLD HISTORY ENCYCLOPEDIA.https://www.worldhistory.org/Battle_of_Hattin/ <br/>
2.SGARIONI, Mariana. <b>As mil e uma noites de Saladino</b>. Coleção Grandes Guerras, Volume V. Aventura na História. Ed. Abril.2005. São Paulo.<br/>
3.TYERMAN, Christopher. <i>A Guerra de Deus: Uma Nova História das Cruzadas</i> (vol. 1). Rio de
Janeiro: Imago, 2010.<br/>
4.<b>A Batalha de Montgisard</b>.https://northumberlandkt.com/?page_id=2311
Gustavo Pedrozahttp://www.blogger.com/profile/15982321070169803360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4322194361971823951.post-78554974510847989722023-10-10T20:50:00.002-03:002023-10-23T14:40:54.687-03:00HIV: A descoberta 40 anos depois<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhwILnqhFRm-l2q_y9uFZ89JmZfoNw8lD4vC9Kg35qgRjQA6gufwbc0b1wMa_iolsJHbPIjtuzu4PsLDLzNSv8GqDZbkhDCR05pkJ4oi30Lu9_gVNLwA-kdDxevm5Kex8LSo6xEejLz57Fdve-PvPlQ3zK-cyGGgLDHOvVermLj-lHtCb2PsBg8LsZFTeg/s1600/HI-Virion-fr.svg.png" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" width="400" data-original-height="1130" data-original-width="1600" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhwILnqhFRm-l2q_y9uFZ89JmZfoNw8lD4vC9Kg35qgRjQA6gufwbc0b1wMa_iolsJHbPIjtuzu4PsLDLzNSv8GqDZbkhDCR05pkJ4oi30Lu9_gVNLwA-kdDxevm5Kex8LSo6xEejLz57Fdve-PvPlQ3zK-cyGGgLDHOvVermLj-lHtCb2PsBg8LsZFTeg/s400/HI-Virion-fr.svg.png"/></a></div>
<p>Muitos de nós, que vivemos os anos 80 e 90 no século XX, lembramos da descoberta, e da febre(e medo), da AIDS. Muitas pandemias já assolaram o mundo, mas a AIDS não é uma delas. É uma doença silenciosa, de período incubatório longo. Não faz o feitio das pandemias que já estiveram sobre a terra.</p>
<p>O termo AIDS (<i>Acquired Immunodeficiency Syndrome</i>) foi utilizado pela primeira vez em 1982, quando ainda era desconhecido o agente causador da doença. Foi por intermédio do Centers for Disease Control(CDC), nos EUA, que ocorreu a classificação para denominar a epidemia apelidada de "<i>câncer gay</i>" no Brasil. Ela foi atribuída a homens homossexuais de Los Angeles, Nova Iorque e São Francisco. E ainda ocorriam boatos que esse vírus teria sido "fabricado em laboratório por virologistas ingleses na África". O HIV é um retrovírus, possuindo um envelope lipídico, um capsídeo e o RNA viral. Possui também a proteína chamada Transcriptase Reversa, que converte RNA em DNA.</p>
<p>Na manhã de domingo do dia 12 de junho de 1983, leitores do Jornal do Brasil no Rio de Janeiro, e Notícias Populares de São Paulo, acordaram com a seguinte manchete: "Brasil registra dois casos de 'câncer gay', e a 'peste gay' já apavora São Paulo". Como a Peste Negra do século XIV na Europa, a epidemia foi associada a um castigo divino. Em 1985, já se associava a doença a sintomas de Sodoma e Gomorra.</p>
<p>Muitas terapias têm sido testadas desde aquela época. Medicamentos como <b>AZT</b>(<i>Azidotimidina</i>), assim como o<b> DDI</b>(<i>Didanosina</i>), é um antirretroviral direcionado a inibir a proteína chamada Transcriptase Reversa, que no HIV faz o RNA viral sintetizar DNA. Sim, isso mesmo! Como os vírus não são seres vivos, nem sempre seguem a ordem DNA —> RNA → Proteínas, como existe nos processos bioquímicos dos seres vivos. Nenhum dos dois foi criado para o HIV, mas foram utilizados como antirretrovirais após a descoberta do <b>Dr. Luc Montagnier</b> em 1983.</p>
<p>Antirretrovirais, como o caso do <b>Fuzeon</b>, são grandes descobertas. Este seria uma espécie de "pílula do dia seguinte para grupos de risco", como se pode dizer. Este é um antiviral que interfere na fusão do envelope viral com a membrana celular dos linfócitos T4. Quando as pessoas acham que tiveram contato com o HIV, tomam este medicamento para evitar qualquer penetração do vírus na célula. Outro seria o <i>Ritonavir</i>, que age com bloqueio de proteases. Ele impede o desmonte da mega molécula proteica que daria origem ao capsídeo, envelope viral e a enzima viral. Já o AZT impede a ação da Transcriptase Reversa. Impede que a cadeia de DNA seja montada pelo RNA viral.</p>
<p>O HIV foi detectado pela primeira vez em infecções em 1981, nos EUA. Mas sua descoberta, e mapeamento, foi em 1983 na França. Foi feito pelo virologista <b>Dr. Luc Montagnier(1932-2022)</b>, e a <b>Dra. Françoise Barré-Sinoussi(1947- )</b>, ambos do <b>Instituto Pasteur(França)</b>. E, simultaneamente, descoberto pelo <b>Dr. Robert Gallo(1937- )</b>, da <b>Universidade de Marlyland(EUA)</b>. Dr. Robert Gallo se inspirou no <i>Dr. David Baltimore(1938- )</i>, que criou a <b>Classificação de Baltimore</b>, que classifica os vírus em grupos. Então o Dr. Robert Gallo começou suas pesquisas sobre os retrovírus, ou seja, vírus que não só são de RNA, mas seus RNAs podem montar cadeias de DNA. E fazem isso mediante uma proteína chamada Transcriptase Reversa. Dessas pesquisas nasceu a descoberta do HIV nos EUA. Em 1987, os presidentes Ronald Reagan e Jacques Chirac, dos Estados Unidos e França respectivamente, chegaram a um acordo de co-autoria entre os dois cientistas franceses e o norte americano.</p>
<p>O boato que se divulgou a respeito do HIV, como tendo sido "fabricado em laboratório na África" se deve à confusão que se faz entre o HIV-2, segunda variante do HIV, só encontrado na África Ocidental, e o SIV(Vírus da Imunodeficiência Símia). As pessoas fazem muitas confusões biológicas com que não se sabe. Assim como o então presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, alegou haver HIV nas vacinas da Pfizer contra o vírus "sars cov 2", sendo que os dois vírus nem "parentes" são, pela classificação de Baltimore. E isso muito espantou o Dr. Robert Gallo da Universidade de Maryland, que perguntou como deixamos um presidente "que não é da área" dar palpite sobre essas coisas. Esse último boato surgiu por causa de uma matéria da Revista Exame, que foi mal compreendido.</p>
<p>Muitos antirretrovirais, como AZT e o DDI, foram usados. Mas, além de gerarem muitos efeitos colaterais(antivirais são bem mais pesados que antibióticos e antifúngicos), forçaram a seleção natural viral, fazendo aparecer os resistentes. Por isso se buscou saídas alternativas para essas falências terapêuticas, como trabalhos naturais com moléculas extraídas de vegetais, que apresentaram ação inibidora de replicação do HIV. Substâncias retiradas de plantas, como ácido platânico e ácido betulínico, são usadas em lugar de antivirais tradicionais. Existem, nesses vegetais, substâncias inibidoras da Transcriptase Reversa, como é o caso dos calanolídeos.</p>
<p>Assim como substâncias do guaco combatem o Trypanossoma Cruzi, protozoário da doença de Chagas. Substâncias como o Galato de Epigalocatequina(EGCG), isolado do chá verde, que impede a ligação da glicoproteina 120 do HIV-1 com a molécula CD4 de nossos linfócitos T, está sendo usada como alternativa natural anti-HIV.</p>
<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_xWKcn67cvn0fLuM6UVkJSCcyDVM9Sz-jEUXtcsqqkB3ITIm3SeMEqLVzBMFpwSGnPJQD8jEHiXc5j7lvbdjkj3RWAiBKHU-WNJJiIeEwfrbTl870qvD5F3pQ2jk7uqyMMvPTitmBd8V4iGatQgZ_HEqoDImDqboRFjk1r3KsZ70slTt7dXKJjWBJHo4/s767/IMG-20231007-WA0007.jpg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" width="320" data-original-height="588" data-original-width="767" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_xWKcn67cvn0fLuM6UVkJSCcyDVM9Sz-jEUXtcsqqkB3ITIm3SeMEqLVzBMFpwSGnPJQD8jEHiXc5j7lvbdjkj3RWAiBKHU-WNJJiIeEwfrbTl870qvD5F3pQ2jk7uqyMMvPTitmBd8V4iGatQgZ_HEqoDImDqboRFjk1r3KsZ70slTt7dXKJjWBJHo4/s320/IMG-20231007-WA0007.jpg"/></a></div>
<p>E ainda há o uso de terapia gênica, como o uso do <b>CRISPR/Cas9</b> em mutações artificiais. O CRISPR(do inglês Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats) aliado à proteína Cas9, conhecido como tesoura genética, foi criado para uso de edições genéticas em vírus bacteriófagos. E o Cas9 é uma enzima que usa sequências CRISPR como guia para reconhecer, e abrir cadeias específicas de DNA, que são complementares à sequência CRISPR. E essa terapia de tesoura é usada para bloquear a entrada do HIV na célula através da deleção do <b>gene CCR5</b>. Isso porque os receptores CD4 são importantes na célula, não sendo recomendável sua inativação. Sabendo que a mutação natural do gene CCR5 é uma condição autossômica recessiva que existem(por exemplo) em cerca de 10 a 20% da população europeia. Indivíduos que possuem a inativação do CCR5 podem viver de forma saudável, mesmo tendo o HIV. E foi justamente de uma mutação natural do CCR5 que surgiu a quarta cura do HIV nestes últimos anos. Um paciente, portador do HIV desde os anos 80, adquiriu leucemia e precisou receber transplante de medula óssea na <b>Universidade da Califórnia(EUA)</b>. Como o doador compatível tinha o CCR5 inativado, ele adquiriu isso, resultando na cura do HIV. A ciência avança a passos largos nesse início de século XXI….</p>
<p><b>Referências Bibliográficas</b></p>
1.<b>Vírus – Inimigos Úteis</b>. <i>Scientific American, nº28</i>, Segmento – Duetto Editorial LTDA, 2008<br/>
2.HISTÓRIA. <b>Dossiê Homossexualidades: da perseguição à luta por igualdade</b>. <i>Revista da Biblioteca Nacional</i>, ano 10, n. 119, 2015.<br/>
3.<b>Antivirais, 2021</b>. Prof Alexandre Lourenço. https://www.youtube.com/watch?v=VqCcwlaTk2o
Gustavo Pedrozahttp://www.blogger.com/profile/15982321070169803360noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4322194361971823951.post-80254737567656721912023-09-03T21:07:00.005-03:002023-09-04T13:49:03.152-03:00A descoberta do DNA - Os 70 anos de aplicação genética<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhjjDqeo4XeqdXb9ZvH9mCaMWPvdv8Pz2rYJpEcyjX6lyNSCp9dh0rkgwwMwXdOasZy1WfJfDwADZacdmX2m3m13UD7YPUWlvnesteD3-5q6PkUBbMZGF_EfkQLr2_y81IbZ8xIY-ucLvz3GMX25PWHzfRNO9g9rU6zPhUlfaxRzIqQy-Wcq0Iyz0phgLo/s900/NHGRI-86891.jpg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" width="400" data-original-height="574" data-original-width="900" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhjjDqeo4XeqdXb9ZvH9mCaMWPvdv8Pz2rYJpEcyjX6lyNSCp9dh0rkgwwMwXdOasZy1WfJfDwADZacdmX2m3m13UD7YPUWlvnesteD3-5q6PkUBbMZGF_EfkQLr2_y81IbZ8xIY-ucLvz3GMX25PWHzfRNO9g9rU6zPhUlfaxRzIqQy-Wcq0Iyz0phgLo/s400/NHGRI-86891.jpg"/></a></div>
<p>Neste dia do biólogo, inaugurado em 3 de setembro de 1979, convém falar na maior descoberta da idade contemporânea: O modelo helicoidal da cadeia de DNA! A molécula de DNA foi descoberta em 1869 pelo bioquímico suíço <i>Johann Friedrich Miescher(1844-1895)</i>. Mas sua estrutura helicoidal(o que é muito mais importante) foi descoberta pelo bioquímico norte-americano <i>James Dewey Watson(1928- )</i> e o biofísico britânico <i>Francis Harry Compton Crick(1916-2004)</i>, há 70 anos atrás.</p>
<p>Porém essa descoberta do formato helicoidal do DNA pode anteceder ao ano de 1953. Dentre os momentos históricos mais fantásticos da ciência biológica está o trabalho da química britânica <i>Rosalind Franklin(1920-1958)</i>, com difração do raio X do DNA, fornecendo uma prova mais empírica do formato helicoidal da molécula. Para Francis Crick, Rosalind não era uma cientista muito imaginativa. Para Watson, os métodos dela contrariavam a orientação metodológica adotada por eles, pois não era fruto de muitas experimentações. E também ambos não acreditavam que não havia nenhuma inclinação teórica para representação helicoidal da molécula.</p>
<p>Em 1951, Rosalind apresentou documentação farta de que o grupo fosfato estaria na parte externa da hélice do DNA. O que Francis e James fizeram foi juntar peças do que já havia. Porém Francis e James fizeram muito mais do que apresentar o modelo de dupla-hélice do DNA. Apresentaram, na sequência, aquilo que viria a ser o dogma central da biologia: A compreensão das funções do RNA. O artigo do Nature em 1953 trouxe uma guinada para a medicina e a biologia. Em 1957 foi descoberto que o DNA se auto replica, o que chamou a atenção do mundo acadêmico para os dois cientistas. Em 1958, viria a falecer Rosalind na Inglaterra. Em 1962 viria o prêmio Nobel de Medicina para Francis Crick e James Watson.</p>
<p>Hoje o DNA não é apenas uma entidade científica. Ele irrompeu como fenômeno natural nas ciências e nas artes, como metáfora para nossas várias naturezas. O próprio James Watson admitiu, numa entrevista à revista Scientific American em 2003, até sobre o caráter laico da ciência, hoje muito debatido e controverso: "Os EUA não são mais como na época da chegada dos puritanos. Mudamos tudo. Nunca procuramos respeitar o passado. Tentamos melhorá-lo. E creio que qualquer coisa contra isso, seria contra o espírito humano". Isso foi a ciência norte-americana, renascendo após o controverso Julgamento do macaco no Tennesse(EUA) em 1925, naquele "mico biológico" nacional. Seria o troco dado ao atraso do conservadorismo.</p>
<p>Em 14 de abril de 2003, numa verdadeira revolução biológica, alguns cientistas anunciaram ao mundo o sequenciamento de 3 bilhões de pares de nucleotídeos de DNA, com a receita de como se "<i>faz um ser humano</i>". Nascia ali o famoso <b>projeto Genoma</b>. Dirigido pelo geneticista <i>Francis Sellers Collins</i>, o projeto visava uma espécie de "comemoração" pelos 50 anos do artigo da Nature sobre a descoberta helicoidal do DNA.</p>
<p>Convém lembrar que quando Watson e Crick descreveram o DNA, o codificaram com 4 letras(A,C,G e T). Ou seja, quatro nucleotídeos <b>Adenina, Citosina, Guanina e Timina</b>. Mas são 20 aminoácidos nas moléculas protéicas, então óbvio que era necessária uma "<i>palavra genética</i>" para formar o aminoácido. O código pode evoluir(lembrando de Darwin), o que significa que evoluiu de fato. A relação códon-aminoácidos da natureza não é um mero acidente.</p>
<p>Algumas pessoas devem estar se perguntando: Mas qual a utilidade prática disso? Cura para doenças congênitas, conserto para síndromes vinculadas ao DNA ou RNA, etc. Um exemplo foi o uso da terapia genética do <b>CRISPR/Cas9</b>, a chamada <i>tesoura genética</i>, para tratamento de HIV. Mas casos de ética tentam evitar isso, para não permitir alguns avanços, como a Ovelha Dolly, no Instituto Roslin, na Escócia. A engenharia genética sempre pôs medo na população em geral. </p>
<p>O desenvolvimento de terapia genética foi um grande avanço na biologia molecular do século XXI. O CRISPR/Cas9(do inglês,<i> Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats</i>, CRISPR), aliada a proteína Cas9, se trata de repetições palindrômicas, que seriam trocas, adições ou subtrações de nucleotídeos, ou trocando a ordem de códons de DNA ou RNA, a fim de ter um objetivo alcançado. Já se conseguiu inutilizar HIVs dentro de células brancas do sangue em camundongos, por exemplo. Mas as terapias não param aí. Também tem as terapias usando RNAm, já usadas há 20 anos, que recentemente foram usadas nas vacinas da Pfizer contra a COVID19.</p>
<p>E falando em COVID19, também há a descoberta do bioquímico norte-americano <i>Kary Banks Mullis(1944-2019)</i>, em 1983, que lhe rendeu o Nobel de química em 1993, dez anos antes do anúncio do projeto Genoma. Era o PCR(<i>Polymerase Chain Reaction</i>), ou técnica da Reação em Cadeia da Polimerase, que permite os testes para diagnóstico de COVID19. E não só isso, mas diagnóstico de tuberculose também. E o Dr. Kary Mullis morreu alguns meses antes de desencadear a maior pandemia do século XXI, que paralisou o mundo. E não assistiu todo planeta usando sua bioquímica em testes para diagnóstico da doença que assombrou o mundo. Mas isso já seria outra história…</p>
<p><b>Referências Bibliofráficas</b></p>
1.SMITH, John Maynard. <b>Os limites da Teoria da Evolução</b>. <i>In</i>:A Enciclopédia da ignorância. Editora Universidade de Brasília,1981. Parte II, capítulo 5. Pgs 273-281.
<p>2.<i>Revista Scientific American Brasil</i>. <b>Genoma:O código da vida</b>. Edição Especial. nº16, 2013. Editora Duetto.</p>
Gustavo Pedrozahttp://www.blogger.com/profile/15982321070169803360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4322194361971823951.post-48950939344012459092023-07-26T23:50:00.002-03:002023-07-26T23:54:28.242-03:00Barbie - O filme. A Odisséia dos papéis sexuais<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEggOirqR4WL1nBx-AwWeyUneqO0qnjGV1-_IyFEXjjU3dsfxuxDdEJ-r4o1zXxldDa79FcFRKhaEENpscFvPkzQSkyQ-plK9rxAKgAvr1sSqfknEEvBOkeEe6cF6YJBKWG71PTZO3YKHGjbfji-lLwAjZjck0ghkixGIh4MjMm8KqRvMwtbUZb5yRhYUSo/s760/barbie-760x450.png" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" width="320" data-original-height="450" data-original-width="760" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEggOirqR4WL1nBx-AwWeyUneqO0qnjGV1-_IyFEXjjU3dsfxuxDdEJ-r4o1zXxldDa79FcFRKhaEENpscFvPkzQSkyQ-plK9rxAKgAvr1sSqfknEEvBOkeEe6cF6YJBKWG71PTZO3YKHGjbfji-lLwAjZjck0ghkixGIh4MjMm8KqRvMwtbUZb5yRhYUSo/s320/barbie-760x450.png"/></a></div>
<p>Eu finalmente fui ver o filme da Barbie. Fui todo de laranja, minha cor predileta, da cabeça aos pés, e até minha bolsa também. Foi um filme de lacração feminista? Até foi, mas de uma forma muito infantil. Muito infantil mesmo! Se fosse em termos adultos, diria que terminou com a mesma mensagem que "<i>Minha Vida em Marte</i>" com Monica Martelli e Paulo Gustavo: <i>Que as mulheres estão se transformando em seus papéis, e é bom os homens fazerem o mesmo</i>. O filme começa com uma imitação infantil de “<i>2001, uma Odisseia no Espaço</i>”. É verdade que usou muito o termo "patriarcado". Isso soou um pouco forçado. Mas a mensagem final da Barbie para o Ken foi "<i>estou me tornando livre. Por que você não faz a mesma coisa? Por que não corre atrás da sua identidade?</i>" Ou seja, a questão ali não é se mulheres não têm direito a serem "donas de casa" ou “mulheres profissionais". É sobre o direito que o Ken teria em ser "dono de casa", se assim quisesse. Mas os "Kens" estavam mais cegos com respeito a papéis fixos, do que as "Barbies".</p>
<p>E é assim na nossa realidade aqui fora. As revoluções mentais atingem primeiro as mulheres. E então os homens, só para sair da <i>zona de conforto</i>, mudam. Aquilo não é só dizer que as mulheres podem ser empoderadas ou donas de casa. É também dizer que os homens podem ser empoderados ou donos de casa também. Aliás, tal fato já ocorre na Alemanha e nos países nórdicos da Europa.</p>
<p>Eu não tive a Barbie na infância. Eu tive a <i>Susi</i>, que era a nossa vertente boneca adulta no Brasil, enquanto a Barbie não vinha para cá. Quem me deu foi uma amiga de infância, a qual não me recordo o nome, que possuía duas em sua prateleira. Ela brincava comigo na minha rua. Nunca mais a vi. Mas se engana quem pensa que a Susi era mais antiga que a Barbie. Não era. Ela era a vertente que existia no Brasil desde 1966. Nos EUA a Susi existia desde 1962, mas com outro nome: <i>Tammy</i>! A Susi era cria da mesma empresa que criou os tais "<i>ursinhos de pelúcia</i>" décadas antes: <i>Ideal Toy Company</i>! Já a Barbie era cria de uma das mais geniais fábricas de brinquedos da história: A <i>Mattel</i> ! A mesma que também criou o único videogame que tive na vida: O <i>Intellevision</i>!</p>
<p>A tradução de tudo isso é que não existe isso de "<i>brinquedo de menino</i>" ou "<i>brinquedo de menina</i>". Não existe esse tipo de tendência. Nem mesmo pela genética. Digo isso porque muitos conservadores se baseiam num documentário chamado "<i>O paradoxo da igualdade</i>", o qual mostra que homens e mulheres nascem com escolhas de brincadeiras diferentes. Mas não existem provas disso! Nenhuma! Somente uma médica inglesa que alega Darwin no final. Mas daí ocorre um problema: A maioria dos conservadores repudia Darwin. Então realmente não há saída para esse povo fanático. Como evangélico e darwinista, eu acho graça no fanatismo deles.</p>
<p>Mas voltando ao filme, ele faz uma revelação no final: Que o intuito não é fazer guerra dos sexos entre barbies e kens! É dizer que em cada grupo existem personagens individualizadas que podem escolher seu papel no mundo. Barbies podem ser empoderadas ou donas de casa. Os kens da mesma forma, empoderados ou donos de casa. Porém, como na sociedade em geral, o sexo masculino demora muito mais a acordar que o feminino. Tanto que a Barbie não vê o menor problema em dizer que “<i>não tem vagina</i>”, quando visita o mundo real. Já o Ken sente vergonha, e mente que “<i>tem pênis</i>”. Em regra, se vê no filme o quanto tudo isso também é danoso aos homens. Mas as mulheres sempre se colocam à frente de muitas transformações sociais que existem. Por isso que há muito mais mulheres na esquerda, e também no liberalismo, do que homens. O conservadorismo já é confortável aos homens, e prejudicial também.</p>
<p>Por isso que as religiões, durante séculos, sempre culparam mais a mulher. E por isso que a igreja está arrumando o maior caos por causa desse filme. Dizendo que está passando uma ideia contra os ideais de família tradicional. E, para piorar a paranóia desse povo, ainda tem uma <i>Barbie transexual</i>, que é a médica da <i>Barbielândia</i>, interpretada pela atriz trans <i>Hari Nef</i>. O mundo pode passar o ideal que quiser. Eles não têm compromisso com a Palavra de Deus, mas nós é que temos. E, ainda assim, tem muitas coisas que esse povo boçal acha que é contra a Bíblia, mas não é. Mas, para quem já foi conservador um dia, como eu, não é de se assustar com isso. Que barbies e kens possam dizer como eu disse há 10 anos atrás: <b>Nenhuma união vale o preço da minha liberdade</b>!
Gustavo Pedrozahttp://www.blogger.com/profile/15982321070169803360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4322194361971823951.post-7882401470000521712023-05-29T07:58:00.003-03:002023-05-31T08:54:33.446-03:00O príncipe empalador - A lenda dos Bálcãs no século XV<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhzWrfjYvOaZ4v7Q_6f7lOtQ_iSHTb-Ow6wHrwhOxla4A-AbUG72PHeV6A7U6912LotVuXp7rFSRbs9h7BoYkPHEfvHxO5rKAf4vDWub3uvwAaHIDSPcDXNq7qLRxtWtIOESvCAUBSTtEng6SvUpB0sZShBx9MSN4l-Y-KBcyBf0qpjog-xrcDmZKe/s720/Vlad%20entre%20os%20corpos.jpg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" width="400" data-original-height="510" data-original-width="720" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhzWrfjYvOaZ4v7Q_6f7lOtQ_iSHTb-Ow6wHrwhOxla4A-AbUG72PHeV6A7U6912LotVuXp7rFSRbs9h7BoYkPHEfvHxO5rKAf4vDWub3uvwAaHIDSPcDXNq7qLRxtWtIOESvCAUBSTtEng6SvUpB0sZShBx9MSN4l-Y-KBcyBf0qpjog-xrcDmZKe/s400/Vlad%20entre%20os%20corpos.jpg"/></a></div>
<p>Neste dia 29 de maio de 2023, ao fazer 570 anos da Queda de Constantinopla, convém relembrar a história de um príncipe dos Bálcãs que lutou contra a onda turca que avançava pela Europa desde o século XIV. Seu nome era Vlad, conhecido como <b>Vlad Tsepesh</b>(Vlad, Empalador), ou <b>Kazıklı Bey</b>(príncipe empalador) pelos turcos. Porém o mundo conheceria tal príncipe apenas como <b>Drácula</b>, o filho do Dragão. Aquele que povoou a imaginação do escritor irlandês Bram Stoker. A história do príncipe Vlad, voivoda da Valáquia, está intimamente ligada à queda da cidade de Constantinopla para o Império Otomano,em 1453. Sua história, assim como a lenda que o seguiu, começa na cidade de Sighisoara, no principado da Transilvânia. Ali,em 1431, nasceu Vlad Drácula, conhecido como 'filho do Dragão'. A fama de empalador vinha do modo como matava suas vítimas. Elas eram amarradas e estacas não muito afiadas, eram cobertas com óleo e introduzidas em seus corpos(abdômem, ânus ou no estômago), em seguida puxadas por cavalos,até que saíssem pela boca. Uma vez, cerca de 20 mil mercadores e boiardos de Brasov foram empalados na Transilvânia, em que as árvores foram cortadas exclusivamente para isso. Desde o século XIV, tanto a Valáquia, como Transilvânia, eram províncias dos Bálcãs,que ora eram vassalos da Hungria, ora do Império Otomano. Os principados dos Bálcãs tinham que se equilibrar entre esses dois poderes. Ao contrário do que se pensa, Vlad não era príncipe da Transilvânia, mas da Valáquia. Vlad nasceu na Transilvânia porque nasceu no período em que seu pai, Vlad II, estava no exílio. A Transilvânia ainda era um principado agregado ao reino húngaro. Portanto, para a época, Vlad III teria nacionalidade húngara.</p>
<p>O nome de Vlad deriva do pai, que por sua vez, deriva do avô. Que por sua vez deriva de um general traidor(mais embaixo falo sobre isso). O codinome '<i>Drácula</i>', ou '<i>Draculea</i>', já tem uma origem diferente. O pai de Vlad fazia parte da <b>Ordem do Dragão</b>(uma ordem de cavalaria alemã), e acrescentou o codinome Dracul(O dragão) ao seu nome. Vlad III, ao entrar para a ordem, colocou Draculea(o filho do Dragão). Esses termos vêm do moldávio antigo, das raízes dos idiomas eslavos.</p>
<p>Mas o que a <b>queda de Constantinopla</b> tem a ver com isso? Vlad fez parte dos muitos príncipes dos Bálcãs que formavam uma barreira contra os turcos, aliados ao Império Bizantino(nome que só seria conhecido desse jeito mais tarde), para impedir o avanço otomano pela Europa. Ali, em 1453 cairia a última estrela do império bizantino. Cidade fundada por Constantino I no século IV, Constantinopla foi a última cidade a resistir ao cerco turco. Era a última resistência de um império moribundo. Era o fim do maior império cristão da idade média. O canhão de dardanelos punha fim a inviolabilidade das muralhas da cidade. E este canhão foi construído por Urban, um artífice cristão húngaro contratado pelo <b>sultão Maomé II</b>, sendo pago a preço de ouro. O cerco a cidade durou alguns meses. Havia esperança da nova aliança feita entre as igrejas romana e ortodoxa, onde o papa Nicolau V enviaria a ajuda prometida. Mas a ajuda não veio. A maioria da Europa estava comprometida com a Guerra dos Cem anos(que já durava bem mais que isso) entre Inglaterra e França, sendo cada um aliado de um ou de outro. O máximo que viria seria uma leva de navios genoveses, comandadas pelo capitão <i>Giovanni Giustiniani</i>, que mais tarde viraria lenda na defesa da cidade.</p>
<p>A cidade de Constantinopla já não andava ‘bem das pernas’ desde a invasão católica em 1204, durante a Quarta Cruzada, patrocinada por venezianos. Por isso a união com o ocidente foi bem vinda. Mas a população não aceitava a união com o papa. Preferia o sultão turco. Tanto que muitos gregos gritavam nas ruas de Bizâncio:”<i>Preferimos o turbante do sultão ao chapéu do papa!</i>” E isso não demoraria a acontecer. Após a queda de Constantinopla para os cristãos ocidentais em 1204, a cidade se recuperou. Mas nunca mais como antigamente. Na época, a estupidez dos chamados ‘cruzados criados para defender a terra santa’ não sabia. Mas, ao remover o Império Bizantino do caminho dos católicos, acusando-os de ‘separatistas hereges’, estavam removendo um estado-tampão que os protegia dos otomanos. E essa burrice sairia caro mais tarde. Muito caro. Este preço viria do leste. Com o fim do século XIV, um novo inimigo se aproximava dos Bálcãs: Os turcos otomanos. Vieram a cavalo do Mar de Aral, destruindo os reinos islâmicos por onde passavam. Finalmente eles próprios se tornaram muçulmanos. Eram uma dinastia turca fundada por <b>Osman</b>. Vinham do Turquestão Ocidental. Por isso que os turcos são parentes dos bárbaros das estepes da Ásia central, como mongóis, unguzes, Hsiung-Nu, Hunos e até, indiretamente, chineses. Mas nunca de árabes.</p>
<p>Então, para defender a Europa da <i>maré otomana</i>, o <b>Sacro Império Romano-Germânico </b>resolveu criar, em 1408, uma ordem de cavalaria, chamada <b>Ordem do Dragão</b>. Tinha o objetivo de conter a ameaça turca na Europa. O imperador <b>Sigismundo de Luxemburgo</b> criou tal ordem, da qual faziam parte vários príncipes e nobres da Europa. Alguns membros fundadores foram Stefan Lazarević, da Sérvia, e Hermann de Celje, sogro do imperador, e conde da Estíria. Outros membros notáveis eram Alfonso V de Aragão, Fernando I de Nápoles, Vlad II Dracul e Vlad III Drácula. Nessa época, o sultão Bayezid, conhecido como 'o relâmpago', foi tomando parte após parte do Império Bizantino. Isso deixou os principados eslavos em alerta, assim como os reinos búlgaro, sérvio, húngaro e polonês. Enquanto os europeus cruzavam o Atlântico em busca de novos mundos, os otomanos se aproximavam do instável reino húngaro.</p>
<p>No século XV a situação era diferente em cada país. Enquanto na Suécia(que se tornaria independente no século XVI) e Rússia os monarcas eram impostos, as nobrezas húngara e polonesa se impunham sobre seus reis. As disputas internas ameaçavam a unidade do estado, e facilitaram a chegada dos otomanos. Mesmo reis como Mathias Corvinus, da Hungria, tentavam evitar o pior, implantando uma espécie de absolutismo provisório. Ele chegou a afirmar, em uma assembleia de nobres na Silésia, que “<i>seus conselheiros e nobres teriam que atuar como vassalos obedientes</i>”. Mas isso não evitaria a derrota para os turcos na <b>Batalha de Mohács</b> em 1526, já sob o rei <b>Luís II da Hungria</b>.</p>
<p>O país de Vlad Drácula era a Valáquia, que hoje junto com a Transilvânia(que já foi húngara) forma a Romênia. Mas quando surgiu? A fundação da Valáquia passa pelas origens do reino húngaro,no século X. A invasão da Hungria, pelos mongóis, em 1241, possibilitou o enfraquecimento do reino,e a independência dos principados dependentes do mesmo, como Valáquia e,mais tarde, Transilvânia. Todo o leste europeu foi devastado pelos mongóis, fato que explica seu atraso até hoje. Não vem do socialismo,como em geral se pensa. Pelo contrário. Foi por serem frágeis que se tornaram presas fáceis da onda vermelha soviética. Em 1301 cai a dinastia Árpád, na Hungria. Nasce a Hungria angevina, com parentela francesa. Foi daí que principados como Valáquia e Sérvia aproveitaram para emancipar-se. A Valáquia surgiu, como principado independente,em 1310. Surgiu com o clã dos Basarab. Desde então, este clã manteve uma certa independência em relação ao reino húngaro, formando o principado valaquiano.</p>
<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiGJ4ajtLwF6-DElXVcdIzQLFGcCkxkwMiqtV96F-LgZV5he6Ttxi4gr_wLSHNfeROM9_5QSl10ka4gb_6IsbqLEexyeZcVEh0COKSDvu3U1tUk-wP-6En78JNMmbjzIrNJUy_MJvuPHaoZ3aLjaZTRkFQxKU-oCxUfw_u8Qumda8kfLiu1d6AZxHIH/s1204/CristianSB_%2836%29.jpg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; clear: left; float: left;"><img alt="" border="0" height="320" data-original-height="1204" data-original-width="800" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiGJ4ajtLwF6-DElXVcdIzQLFGcCkxkwMiqtV96F-LgZV5he6Ttxi4gr_wLSHNfeROM9_5QSl10ka4gb_6IsbqLEexyeZcVEh0COKSDvu3U1tUk-wP-6En78JNMmbjzIrNJUy_MJvuPHaoZ3aLjaZTRkFQxKU-oCxUfw_u8Qumda8kfLiu1d6AZxHIH/s320/CristianSB_%2836%29.jpg"/></a></div>
<b>Igreja evangélica saxã, fundada por colonos alemães no século XIII, na região da Transilvânia</b>
<p>Na região da Dácia, onde hoje fica a atual Romênia(só criada no século XIX), surgem os principados valaquiano, transilvano e moldávio. Os dois primeiros vassalos da Hungria,e o último do ducado polonês. A Polônia só se tornaria um reino, separado do Sacro Império, no século XII. Não existiam, nesses territórios, os títulos de nobreza que conhecemos como duque,conde e marquês. A sucessão do chefe do principado, o Voivoda, era eletiva. Não era hereditária,como na Europa Ocidental. Um grupo de nobres, chamados boiardos, decidiram em assembleia qual sucessor do voivoda herdaria seu trono. Quando chegou o início do século XIV, o principado da Valáquia se tornou independente da Hungria. Na segunda metade do século, os valaquios adotaram a crença ortodoxa, por influência do Império Bizantino. Isso em contrapartida com a Polônia e a Hungria, que eram católicas.</p>
<p>O <b>Império Bizantino</b> já vinha com problemas internos, que facilitaram sua queda, há vários anos. Quais eram as condições do Império Bizantino no início das cruzadas no século XI ? Durante 112 anos, a França teve três reis: Roberto II, Henrique I e Felipe I. E o império bizantino teve 15, sem contar os 'auto proclamados' imperadores, que inclusive se utilizavam de ajuda do império turco para subir ao trono. Uma dessas 'ajudas' custou caro, pois despertou a visão turca de como os bizantinos estavam frágeis. Numerosos historiadores avaliam que a queda de Constantinopla constituiu uma verdadeira ruptura, marcando o fim da Idade Média e o advento da Renascença. Na verdade, a “<i>Nova Roma</i>”, afetada pela peste de 1347, perdera a prosperidade econômica e o dinamismo demográfico que conhecera antes de 1204.</p>
<p>Se aproximando do fim do século XIV, um novo inimigo se aproximava dos Bálcãs: Os otomanos! Vieram a cavalo do Mar de Aral, destruindo os reinos islâmicos por onde passava. Finalmente eles próprios se tornaram muçulmanos. Nessa época, o sultão Bayezid, conhecido como 'o relâmpago', foi tomando parte após parte do Império Bizantino. Isso deixou os principados eslavos em alerta, assim como os reinos búlgaro, sérvio, húngaro e polonês. Nessa época, o avô de Vlad III, príncipe Mircea, sentava no trono valaquiano. Havia traidores europeus que muitas vezes passavam para o lado dos turcos. Um deles era um general de confiança de Mircea: Chamava-se Vlad(mais tarde chamado de <b>Vlad, o usurpador)</b>. Foi devido a esse general, e sua confiança nele, que Mircea colocou o nome em seu filho Vlad, mais tarde Vlad II. O general Vlad assumiu o trono valaquiano como Vlad I, após a <b>Batalha de Rovine(1394)</b>. Mas isso durou pouco. Logo o príncipe Mircea recuperou o trono, e <b>Vlad I</b> seria expulso. Morreria pouco depois. Apesar de que o nome Vlad era comum nos reinos eslavos.</p>
<p>Após a Batalha de Rovine, Mircea se recusou a pagar as taxas que o sultão otomano exigia. E não exigia só isso. Exigia 500 garotos europeus, para formar o exército de janízaros. Os janízaros eram o exército de elite do sultão, composto por 10.000 soldados, retirados dentre os meninos dos Bálcãs. Esses meninos eram islamizados, treinados e armados como o melhor do exército otomano. O sultão começou a avançar sobre os principados dos Bálcãs. Foi preparada uma cruzada, com ajuda dos reinos cristãos do oeste da Europa. A Cruzada de Nicopolis(1396) foi um desastre. Os otomanos estavam muito mais bem preparados, e os europeus se traíram uns aos outros. Soldados valaquios roubavam soldados franceses pelo caminho. Húngaros torturavam turcos e sérvios ao mesmo tempo. Enfim, a batalha foi uma zona só.</p>
<p>Muitas das vezes os países se beneficiam dos inimigos dos seus inimigos. Uma coisa pôs um freio no avanço otomano. Em 1402 o exército otomano era arrasado por um inimigo maior: Os mongóis! O exército de Tamerlão, que vinha arrasando tudo pelo caminho, derrotou os turcos,aprisionou Bayezid, e deu um descanso para os principados europeus. Mas ocorreu que os turcos foram libertados por seus futuros inimigos. Galeras venezianas libertaram prisioneiros turcos, e os ajudaram a se recompor da derrota. Essa ajuda ainda sairia caro. Se Tamerlão não tivesse derrotado o Império Otomano, Constantinopla não teria caído em 1453, mas ainda nos tempos do sultão Bayezid. Os últimos anos do principado de Mircea I foram de 'corda bamba' entre os poderes otomano e húngaro, principalmente o primeiro.</p>
<p>Em 1436 o príncipe Vlad II, pai de Vlad, retorna do exílio da Transilvânia, e retoma o trono valaquiano de um príncipe do clã danesti. Daí para frente Vlad III moraria no seu principado: A Valáquia! Em 1439 tem lugar na Europa o Concílio de Ferrara-Florença, em que os ortodoxos pedem ajuda aos europeus em geral para impedir o avanço turco. O Cardeal Júlio Cesarini encabeçava a Cruzada. Ela seria em Varna, na Bulgária, à beira do Mar Negro. Os resultados da <b>Batalha de Varna(1444)</b> são conhecidos. O exército cristão foi massacrado. O rei Ladislau da Hungria havia firmado um tratado de paz com o sultão Murad II, dos turcos. Mas o cardeal Cesarini o fez voltar atrás, alegando que “<i>uma palavra dada a um infiel não vale</i>”. Após a derrota, os janízaros exibiram a cabeça do rei Ladislau numa lança, e na outra lança o tratado de paz do rei. E chamavam o rei de perjuro. Antes da Batalha de Varna, o príncipe Vlad II enviou os seus dois filhos caçulas, Vlad e Radu, aos turcos, como sinal de sua fidelidade. Se absteve de ir à batalha,e enviou seu filho mais velho, Mircea. Sua ideia era do sultão não maltratar seus filhos, se ele em pessoa não se juntasse à cruzada. Mas isso desagradou aos húngaros, e ao chefe do seu exército. O comandante dos exércitos húngaros era um príncipe cruel, que até o sultão tinha medo,chamado João Corvinus(pai do futuro rei Mathias Corvinus), chefe dos chamados '<b>cavaleiros brancos da Hungria</b>'. Este príncipe acusou Vlad II e seu filho de covardia na Batalha de Varna. Após a batalha, Vlad II e seu filho Mircea foram mortos por ordem de Corvinus. Provavelmente enterrados vivos. Enquanto isso, Vlad e Radu ficaram no acampamento turco. Vlad passou maus bocados nas mãos dos turcos, já que seu pai e irmão foram mortos pelos húngaros. Enquanto isso, João Corvinus colocava o seu fantoche, Vladislav II, no trono valaquiano.</p>
<p>Em 1448 os turcos libertam Vlad, enquanto Radu seria mantido para a tropa dos janízaros. Neste ano Vlad tomaria o trono valaquiano do seu oponente, usando suporte turco. Mas isso durou pouco. Dois meses depois, Vladislav retomava o trono com ajuda do exército de Corvinus. Vlad ficaria no exílio na Moldávia por três anos. Quando passaram três anos, Corvinus chama Vlad do exílio, porque seu fantoche ficou rebelde. Vlad jura lealdade à Hungria, e ele e Corvinus, juntos, invadem a Valáquia e a Sérvia, respectivamente. Corvinus perde a batalha contra os turcos,e é morto nela. Vlad vence na Valáquia,e retoma o trono em 1456. Mata seu oponente, e instala o terror no principado. Todas as lendas referentes a Vlad Drácula estão contidas nesse período, que vai de 1456 a 1462. Uma delas diz respeito a um cálice de ouro, que o príncipe teria colocado em praça pública, para a população beber água da fonte na praça. O medo das consequências era tanto que o cálice nunca foi roubado. A maioria dessas lendas teria origem russa ou turca, dependendo do fato.</p>
<p>A situação, ao alvorecer do século XV, era meio tenebrosa para os cristãos, tanto do leste, como do oeste, fossem católicos ou ortodoxos. Cenário político da época: A maior nação cristã do mundo está ameaçada de extinção, o ocidente crê que em breve a Europa se tornará muçulmana. Os países da Europa se batem entre si,e muitos acham que o velho continente está decadente moralmente. Príncipes como Wladislau III, Ivan III, Casimiro IV, Vlad III, Matias Corvino, Carlos V e Luís II tentam montar uma barricada europeia para evitar o pior.</p>
<p>O ataque final otomano contra Constantinopla foi lançado em 29 de maio de 1453 por mar e terra. Eram 15 mil, entre gregos, genoveses e napolitanos, contra 150 mil turcos fora das muralhas. Os gregos eram alvo da artilharia por todos os lados. A cidade parecia perdida. O saque foi tão violento que o sultão ordenou o encerramento do butim, com medo de que nada sobrasse de sua nova conquista. Quando as investidas dos otomanos se faziam mais e mais violentas, Constantino foi morto, depois de heróica resistência, o que levou a uma derrota geral dos últimos defensores da cidade. E muitos nem sabiam, mas o imperador Constantino XI Dragases fora traído. O autor da traição foi seu almirante, grão-duque Notaras, chefe da esquadra bizantina, que teria que estar ajudando Giustiniani a defender as muralhas, mas estava ajudando o sultão a entrar, baseado na promessa do mesmo que o colocaria como cabeça sobre todo o reino, assim que o conquistasse. Após um sítio de 53 dias, Constantinopla finalmente caía em mãos de Mehmed II, agora batizado de “O Conquistador”. E o sultão cumpriu sua promessa ao almirante grego: Decepou sua cabeça, colocando-a no ponto mais alto da cidade, onde finalmente o almirante pôde estar como ‘cabeça sobre todos na cidade’. A moral da história é que ninguém confia em um traidor.</p>
<p>Poucos sabem, mas um evento teve importância nisso. Em 22 de maio daquele ano, ocorreu um fenômeno celeste que mudaria o rumo daquela história. Um <i>eclipse lunar</i>. Todos nós sabemos que um eclipse lunar ocorre quando o Sol, a Terra e a Lua estão alinhados e a Lua entra na sombra da Terra, o que escurece sua superfície, dando a ela uma coloração avermelhada. Mas naquela época, o fenômeno ainda era visto de forma muito supersticiosa, como um sinal de grandes mudanças. Então, quando a Lua nasceu eclipsada naquela noite, provocou reações diferentes nos dois exércitos, o que acabou virando o jogo em favor dos otomanos.</p>
<p>Curiosamente, foram os mesmos gregos, ancestrais dos que ali representavam o que sobrava do império romano, quem explicaram os eclipses e previram pela primeira vez sua ocorrência. Só que depois de mil anos de escuridão, período em que a ciência foi suprimida no ocidente pelos dogmas religiosos, os bizantinos, cristão ortodoxos, não foram capazes de compreender que aquele era apenas um fenômeno da natureza. Só se lembraram de uma profecia milenar que dizia que Constantinopla existiria enquanto a Lua brilhasse sobre ela. Eles interpretaram o eclipse como um sinal da queda de Constantinopla.</p>
<p>Do lado otomano, igualmente religioso, mas que não abominava a ciência, o eclipse foi utilizado de forma estratégica. Avisado com antecedência da ocorrência do fenômeno, o sultão Maomé II aproveitou a chamada “Lua de Sangue” para motivar sua tropa. Eles prepararam com cuidado um último, massivo e decisivo ataque, que ocorreu em 29 de maio de 1453. Na tarde daquele dia, Maomé II entrou triunfante pelas muralhas da cidade. Constantinopla, que era o sonho de Osmã, fundador do império otomano, havia finalmente sido conquistada.</p>
<p>Em 1462 os turcos atacam a Valáquia pela rebeldia de Vlad em não pagar os impostos, e recusar o envio de garotos para o exército de janízaros. Dizem que a esposa de Vlad se atirou do alto do castelo,para não ser prisioneira dos turcos. Vlad é obrigado a fugir para a Hungria, onde Mathias Corvinus, filho de João Corvinus, é agora o rei da Hungria. Chegando em Budapeste, Vlad é aprisionado por ser acusado de traição. Fica na prisão por cerca de 12 anos. Alguns documentos falam que foi somente até 1466. De repente é solto pelo rei Matias Corvino. É oferecido um acordo, para se casar com a irmã do rei, que é católica, abraçando o catolicismo. Em troca receberia dinheiro e armas para recuperar o trono valaquiano e seu principado.Sua resposta ao rei húngaro foi:"O estandarte de guerra que estiver na minha mão não interessa". Então ele se casa com a irmã do rei, renega a crença ortodoxa, abraçando o catolicismo romano. Em troca de sua 'conversão' em casamento, o papa e a Hungria enviam-lhe dinheiro e armas para recuperar seu principado. Durante todo o período que Vlad esteve na Hungria, seu irmão Radu foi príncipe da Valáquia, como fantoche turco. Logo em seguida, assumiria o príncipe Basarab. Tudo isso durante a prisão de Vlad.</p>
<p>Em 1474 Vlad começa seus preparativos para retomar seu trono. Reuniu tropas na Transilvânia, e até na Moldávia, do seu primo Stephan III da Moldávia, para retomar o trono. Em 1476 Vlad marcha com seus aliados em direção a Valáquia. Seu irmão Radu já era morto,e foi substituído pelo príncipe Basarab, do clã danesti. Vlad expulsou Basarab, e retomou o trono. Mas, após a vitória, seus aliados retiraram suas tropas, deixando sua posição enfraquecida. No mesmo ano os turcos invadem a Valáquia, vencendo Vlad numa batalha perto de Bucareste. A cabeça de Vlad foi cortada e enviada ao sultão, sendo exposta em Constantinopla, como prova de que o empalador estava morto. Seu corpo foi enterrado no Mosteiro de Snagov.</p>
<p>Ainda hoje, as lendas de Vlad Drácula que chegaram até nós vieram, em sua maior parte, da Rússia e da Turquia. Foi de lá que o escritor Bram Stoker retirou seus dados. Foi Vlad que fundou a cidade de Bucareste, hoje capital romena. O castelo de Vlad, ao qual os filmes de vampiro tanto se referem, é o castelo Poenari, às margens do rio Arges. Não é o castelo de Bran, como muitos pensam. Até hoje sua história é distorcida em filmes de vampiros.</p>
<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEim2KI5dS4PfXcUvB8VSi4hfcG4o0Ru8Mz_8PaiudvoQ1QBDx80Jc_eR4xW2SmueIhgtn3arW9YUjlzu1B4Yp_K8hDyOTDb2Qe6H03ZTWlVJdp0d0eoI30eNqNWS4bUiPoy5Xspnb0DbjNzkn-nqK8sHugLfb8IkTajmLME1JbGkIgOsUDWDM0uqIkC/s5616/Castelo%20Poenari.jpg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; clear: left; float: left;"><img alt="" border="0" height="320" data-original-height="5616" data-original-width="3744" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEim2KI5dS4PfXcUvB8VSi4hfcG4o0Ru8Mz_8PaiudvoQ1QBDx80Jc_eR4xW2SmueIhgtn3arW9YUjlzu1B4Yp_K8hDyOTDb2Qe6H03ZTWlVJdp0d0eoI30eNqNWS4bUiPoy5Xspnb0DbjNzkn-nqK8sHugLfb8IkTajmLME1JbGkIgOsUDWDM0uqIkC/s320/Castelo%20Poenari.jpg"/></a></div> <b>Castelo Poenari, às margens do Arges, hoje parciamente em ruínas.</b>
<p>A queda da cidade de Constantinopla trouxe consequências inimagináveis, do oriente ao ocidente. Com a queda do império bizantino, seriam fechadas as portas comerciais entre os europeus e o leste. Isso iria favorecer reinos litorâneos, como Portugal e Espanha. E mais tarde Inglaterra e Holanda. Estava aberta a temporada das navegações, em que poemas como ‘Os Lusíadas’ de Luís Vaz de Camões ficariam famosos. Seria feita a colonização da América, onde um novo cenário histórico seria montado.</p>
<p>Nessa época, após a queda de Bizâncio, a Europa entra em divisão total. Os turcos entraram até 1/3 do território europeu. As pessoas começam a chamar o sultão de 'anticristo'. Parece algo com os dias atuais? Mas toda essa fantasia pára por aí. Os otomanos, por causa do próprio jeito como arrumam seu império, não têm capacidade para dominar o mundo. O exército de janízaros volta-se contra os sultões. O império começa a cair no alvorecer do século XVII. A <b>Batalha de Viena(1683)</b> seria a última ameaça otomana na Europa. Dali para frente os otomanos só serão acuados pelos europeus. A América do Norte cresce. O último suspiro do grande império otomano dá-se em 1915, no fim da <b>2ª Guerra Balcânica</b>. Durante a 1ª Guerra Mundial, a Turquia perdeu a Albânia, a Macedônia e a Trácia. Ficou apenas com uma região em torno de Istambul(antiga Constantinopla). E, se não fosse por um líder nacionalista chamado <b>Mustafá Kemal</b>, talvez nem isso lhe restasse.</p>
<p>A Romênia de Vlad Drácula que hoje conhecemos só surgiu no século XIX, como resultado da união entre Valáquia e Moldávia. Mais tarde entrou o principado da Transilvânia. E a Moldávia se separou, aderindo à URSS. A formação da Romênia iniciou após a Guerra da Crimeia, onde o império turco perdeu vários territórios. As lendas sobre Vlad surgiram na Rússia e Turquia por motivos diferentes. Na Turquia, os turcos muçulmanos tentaram manchar seu nome, alegando que foram derrotados por um 'ser sobrenatural'. E na Rússia pelo ressentimento que ficaram em relação a Vlad, por este ter abandonado a ortodoxia, e abraçado o catolicismo. Em 1931, arqueólogos abriram a tumba de Vlad III, o empalador, e encontraram apenas ossos de animais. Na Romênia atual, Vlad é hoje lembrado como salvador de seu país. E muitos rezam pelo seu retorno.</p>
<p><b>Referências Bibliográficas</b></p>
1)IMBER,Colin.<b>Crusade of Varna, 1443-45</b>.Ed. Aldershot,UK;Burlington,VT:Ashgate.2006.</br>
2)PORTAL, Roger. <b>Eslavos:Povos e Nações</b>.Tradução:Natalia Nunes. Ed.Cosmos.Lisboa,1968.</br>
3)YUDENITSCH,Natalia.<b>A queda da última estrela do império bizantino</b>. Coleção Grandes Guerras,Volume VIII. Aventura na História.Ed. Abril.2008. São Paulo.</br>
4)<b>Vlad the impaler - How did he rise to power?</b>(Part 1/2) --> https://www.youtube.com/watch?v=gjWk_8Zicx0&t=188s</br>
5)<b>Vlad the impaler - How did he become a legend?</b>(part 2/2) --> https://www.youtube.com/watch?v=tZiHnhKDXAw&t=29s</br>
6)<b>Vlad the Impaler - Dracula the man & myth</b> ---> https://www.youtube.com/watch?v=k63bLFRBcvY&t=1s</br>
Gustavo Pedrozahttp://www.blogger.com/profile/15982321070169803360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4322194361971823951.post-57921904419762598022023-05-17T10:23:00.001-03:002023-05-17T10:23:36.441-03:00O dia D da liberdade!<p>A <b>União Europeia</b> presta sua homenagem à comunidade LGBTQIA+, devido à vitória de 43 anos do início do ganho de suas causas. Em 17 de maio de 1990, a <b>Organização Mundial da Saúde</b>(OMS) retirou a homossexualidade da Classificação Internacional de Doenças (CID). Desde então, a data virou símbolo da luta por direitos humanos e pela diversidade sexual, contra a violência e o preconceito. A homossexualidade passou a ser vista como patologia por volta do fim do século XIX.</p>
<p>Em 1886, o psiquiatra alemão Richard von Krafft-Ebing definiu-a como "um distúrbio degenerativo". O principal trabalho de Krafft-Ebing é Psychopathia Sexualis: <i>eine Klinisch-Forensische Studie</i>(Psicopatia Sexual: Um Estudo Clínico-Forense), que foi publicado pela primeira vez em 1886 e expandido em edições subsequentes. A última edição escrita pelo autor(a décima segunda) continha um total de 238 casos de comportamento sexual humano. Essa crença rendeu uma série de preconceitos médicos por cerca de cem anos.</p>
<p>A mudança em 1990 foi um marco significativo no reconhecimento dos direitos das pessoas LGBTQIA+ e contribuiu para a desestigmatização da homossexualidade. Parabéns à União Europeia, que se tornou um símbolo da modernidade mundial!</p>
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<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdJ-11ugEE-1Avg-PMwX-v7RQ1w6cJlSy9mQ2AsOl-b3wa4w7gCE9IZV2a91YnJp-kh3BCFX4h3UXWjFzn3firmuC5GJwsxXTIALUbTR8WzidgAZKjniVTnKMxr2Y2NonncPxZWnEH7OkA1jJIa2F5kFndUukKevHMWutePFmakDG_hO8HDD8Zs3Rc/s720/FB_IMG_1684320513159.jpg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; clear: left; float: left;"><img alt="" border="0" width="320" data-original-height="399" data-original-width="720" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdJ-11ugEE-1Avg-PMwX-v7RQ1w6cJlSy9mQ2AsOl-b3wa4w7gCE9IZV2a91YnJp-kh3BCFX4h3UXWjFzn3firmuC5GJwsxXTIALUbTR8WzidgAZKjniVTnKMxr2Y2NonncPxZWnEH7OkA1jJIa2F5kFndUukKevHMWutePFmakDG_hO8HDD8Zs3Rc/s320/FB_IMG_1684320513159.jpg"/></a></div> Gustavo Pedrozahttp://www.blogger.com/profile/15982321070169803360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4322194361971823951.post-78102727576130996102023-04-21T20:49:00.001-03:002023-04-21T20:49:54.459-03:00Parabéns para Roma<p> Roma, a lendária. A vitoriosa. A capital dos césares. Maior que Atenas, maior que Alexandria, maior que Antioquia. A maior do mundo nos dias áureos de seu glorioso império. A primeira cidade da terra a possuir um milhão de habitantes. Com base em diversos cálculos, ainda na época de Júlio César, o historiador Varro estabeleceu que, em 21 de abril de 753 aC., Romulus traçou o perímetro da cidade e começou a construção no Monte Palatino. A partir desse momento, o tempo foi medido “ab urbe condita”, desde a fundação de Roma.</p>
<p> A lenda que explica a origem de Roma conta que, na planície do Lácio, havia a cidade de Alba Longa, que teria sido fundada por descendentes do troiano Enéas. O rei de Alba Longa, Numitor, tinha um irmão chamado Amúlio e uma filha, Réia Sílva. Amúlio, desejando o poder, mandou prender o irmão e se apoderou do trono. Para garantir que não correria riscos em seu reinado, Amúlio obrigou a sobrinha Réia Sílvia a se tornar vestal.</p>
<p> As vestais eram sacerdotisas que cuidavam do templo da deusa Vesta e deviam permanecer virgens. Dessa forma, Réia Sílva não teria filhos, e, portanto, não haveria herdeiros para o trono. Réia Sílva, porém, teve dois filhos gêmeos, Rômulo e Remo. Segundo a lenda, seriam filhos dela com o deus Marte. Para evitar que as crianças fossem mortas por ordem do rei – que poderia vê-las como uma ameaça - Réia Sílva colocou-as em uma cesta, que foi lançada no rio Tibre. A cesta navegou um pouco e depois encalhou nas margens do rio. Os bebês foram encontrados por uma loba, que os amamentou. Após algum tempo, foram encontrados pelo pastor Fáustulo, que os criou.</p>
<p> Quando adultos, os gêmeos ficaram sabendo de sua origem e decidiram voltar para Alba Longa. Lá, tiraram Amúlio do poder e recolocaram seu avô, Numitor, no trono. Em seguida, foram viver nos aredores de Alba Longa, onde fundaram Roma, em 753 a.C. Logo após a criação da nova cidade, os dois irmãos se desentenderam. Rômulo matou Remo e tornou-se o primeiro rei de Roma. Curiosamente, o último imperador de Roma também se chamava Rômulo. Era o imperador menino Rômulo Augusto(461-?512). Parabéns à cidade eterna, que hoje completa 2776 anos!</p>
<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjN6kBAYGnpWcWbibbIOBwPDJQLWRJ3WWrkLW15HINy6Sg6UFhAcZuov3WjjZ_xr4QYD6dzV8tSn7DC6K6BOEiEeIhEnPBf1mRNGZhm4JXtq-x0KwhQ3HkvUwDPzPn4AWaT-9GnZ2UHlZuvIGN1Qjyol-tSp1a0SV3H7VmVvrV4lT8srMv-_29icm-9/s639/Roma%20antiga.jpg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" width="320" data-original-height="480" data-original-width="639" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjN6kBAYGnpWcWbibbIOBwPDJQLWRJ3WWrkLW15HINy6Sg6UFhAcZuov3WjjZ_xr4QYD6dzV8tSn7DC6K6BOEiEeIhEnPBf1mRNGZhm4JXtq-x0KwhQ3HkvUwDPzPn4AWaT-9GnZ2UHlZuvIGN1Qjyol-tSp1a0SV3H7VmVvrV4lT8srMv-_29icm-9/s320/Roma%20antiga.jpg"/></a></div> Gustavo Pedrozahttp://www.blogger.com/profile/15982321070169803360noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4322194361971823951.post-89203910367016859292023-02-22T13:09:00.002-03:002023-02-22T13:14:12.644-03:00A inutilidade da guerra cultural conservadora<p>O Brasil está doente. Doente com uma enfermidade chamada fanatismo. O país sempre foi de índole corrupta, mas nunca violento e fanático dessa forma. Extremistas de esquerda sempre foram violentos nas ruas, mas eram casos isolados e, de certa forma, controláveis. Pois eles não tinham um conteúdo que transformaria seus fanatismos numa doença mais letal: A religião!</p>
<p>A religião torna a coisa toda mais belicosa. Similarmente às cruzadas, quando hordas de católicos partiam da Europa para, inclusive, comer carne humana às vésperas da tomada de Antioquia. Também aos grupos islâmicos sunitas no Iraque e na Síria, que decretam a Sharia para a população civil.</p>
<p>Estes casos mostram o quão longe a religião pode chegar, quando misturada à causa ideológica política. Coisas como "revelações e profecias que viram Donald Trump ganhar na justiça, e ser presidente". Ou que "Deus iria coroar Jair Bolsonaro, como fez com rei Davi". Esses delírios de profetas de Baal(cristãos que leem isso, entendem) provocam a queda da fé de muitos cristãos por decepção. E Deus adquire nome sujo por causa da estupidez humana, que crê no ser humano como senhor dos próprios desejos.</p>
<p>Agora vivemos um momento diferente. O momento em que grupos reacionários desconfiam de todas as instituições, não só do Brasil, mas do mundo. Indústrias farmacêuticas estariam em comum acordo com líderes mundiais, para provocar matança em massa. Tribunais superiores de vários países estariam de comum acordo para eleger candidatos progressistas em vários cantos do mundo, para favorecer a queda do conservadorismo. Pessoas agridem políticos, juízes e até repórteres nas ruas. Tudo por considerarem eles "inimigos da causa".</p>
<p>Muito legal ver conservadores que chamavam direitos humanos de lixo, que diziam que as condições dos presídios não precisavam melhorar, que prisioneiro tinha que sofrer, agora se desesperar em prol de seus direitos civis. Eu nem diria conservadores, mas reacionários mesmo. A convenção de Genebra diz que prisão é só para suprimir a liberdade, mas não é para fazer prisioneiro sofrer. Mas davam crédito? Claro que não! As prisões na Suécia não possuem saidinhas como as daqui, nem redução de pena. Mas são lugares confortáveis. Não precisa ser pardieiros de animais. Mas davam ouvidos a isso? Não! Agora precisam de tudo isso, e sentem a coisa apertar.</p>
<p>Por isso que não me arrependo de deixar de ser conservador, coisa que fiz há mais de 20 anos atrás. Evangélico ainda sou, mas conservador nunca mais. Muitos agora citam a constituição de 1988, e também Ulisses Guimarães. Mas são os defensores de 1964 dizendo isso? Não eram os mesmos que chamavam Ulisses Guimarães e sua CF88 de comunistas? Decidam-se: Ou as prisões de patriotas são desumanas, ou os presos usam celulares para fazer live criticando as prisões. As duas coisas não dá. Como é legal ver conservadores falarem em "Convenção de Genebra". Parece um milagre. Essas são as voltas que a terra plana dá.</p>
<p>Quando Daniel Silveira foi preso em 2021, ele disse:"Me levaram de noite, sem despedir dos meus familiares." Igual o AI-5, não é? Mas os brasileiros ainda não se preocupavam com os chamados Direitos Humanos. Direitos esses que vieram, em 1° lugar, da chamada Convenção de Genebra em 1955. Desta veio a abertura para o Pacto de San Jose da Costa Rica em 1968, a chamada Convenção Americana de Direitos Humanos.</p>
<p>Este ano de 1968 foi chave para o mundo, uma vez que eram realizadas passeatas no mundo inteiro, principalmente Europa e EUA. Mas nem tudo eram flores. No mesmo ano tropas da ex-URSS invadiram a antiga Tchecoslováquia. Ali se mostrou que o socialismo era impossível de ser reformado. Teóricos socialistas, como o francês Roger Garaudy, diziam que a URSS fazia de modo muito errado o espalhar dos ideais socialistas. Quanto ao Brasil, a realidade era outra, pois a convenção só seria ratificada por aqui em 1992, já nos tempos da abertura política.</p>
<p>Em 1984, ainda dentro do regime, foi criada e sancionada a lei n° 7210, que era a Lei de Execuções Penais. Ali, mesmo antes da Convenção Americana ser ratificada por aqui, já se estabeleciam alguns princípios. Um deles dizia que preso estava ali para ter sua liberdade privada, não para sofrer em cárcere. Por isso que países como Suécia, em cumprimento à Genebra, o preso não tem "saidinha de natal", mas também as prisões são lugares confortáveis. É difícil fazer o brasileiro, ignorante como é, entender isso. Muitos já diziam que bandido que troca tiros com a polícia não pode ter esse tipo de tratamento. Só que a prisão dos chamados "patriotas" fez pensar isso. A lei não estabelece diferenças entre pessoas que vão presas. Se uma merece tratamento digno, a outra também vai merecer. Não tem como separar isso, de modo nenhum.</p>
<p>Por último, é sempre bom lembrar que a última vez que falávamos nos termos "Deus, Pátria e Família" estando juntos, estávamos falando do nazismo do século passado. Deus até pode ser associado à família, mas nunca ao patriotismo. Esse conceito não era cabível aos primeiros apóstolos, tampouco aos pais apostólicos do século II. Por isso estamos chegando numa época em que conservadores reacionários serão tratados como "escórias da sociedade", gente arcaica que não merece convívio social. E, como era de se esperar, os cristãos serão o próximo grupo marginalizado. Sim, por causa da tolice de alguns, nós iremos "pagar o pato", como se dizia no meu tempo. Isso simplesmente porque cristãos não travam "guerra cultural". Cristãos travam guerra espiritual(Efésios 6:12). Muitos da velha geração serão entregues por seus filhos e netos para a morte. E, quando isso acontecer, estarão pessoas como eu para dizerem aos fanáticos de plantão: Eu avisei!</p>
<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhjisUQxh-WghAryNa9q_RFuqxp-O9hfrWI5n78abHgKvxy2HQXnyo7eZNBjLSmeGdCngH4qdTCJCDvd49GVm3mWalqNMFjzsyH_PovBigBt1vhTaNq2YIvprxH8L5YjCxrbfTVX8E3iOVQ1xO0K5Bbkhk9HV8jRnTtEJ-XBy92PPQnwz4mf-c_X8ef/s794/morte%20dos%20conservadores.jpg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; clear: left; float: left;"><img alt="" border="0" height="320" data-original-height="794" data-original-width="718" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhjisUQxh-WghAryNa9q_RFuqxp-O9hfrWI5n78abHgKvxy2HQXnyo7eZNBjLSmeGdCngH4qdTCJCDvd49GVm3mWalqNMFjzsyH_PovBigBt1vhTaNq2YIvprxH8L5YjCxrbfTVX8E3iOVQ1xO0K5Bbkhk9HV8jRnTtEJ-XBy92PPQnwz4mf-c_X8ef/s320/morte%20dos%20conservadores.jpg"/></a></div>
Gustavo Pedrozahttp://www.blogger.com/profile/15982321070169803360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4322194361971823951.post-86671776901389329862022-12-30T06:46:00.002-03:002022-12-30T06:59:34.514-03:00O prisma de cores : Do arco-íris se fez Newton<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjJNFYKajTgPtMarXJEMz8kItXQ515uGZwzUnheRcNCy-6WMnPRWCUi2u7_LBYId5A_iuvPIqCIkrsSXjdXiojBTZWljumpEMagjWoewVgSE74yDGPR2wD5EEKTpq-DoWXnceWdIE79qr6s5UESUnUkAhkOTWDpGxiwe_O3tuWCyT-KymfZok7-KuWg/s424/Newton%20e%20o%20espectro.png" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" width="400" data-original-height="292" data-original-width="424" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjJNFYKajTgPtMarXJEMz8kItXQ515uGZwzUnheRcNCy-6WMnPRWCUi2u7_LBYId5A_iuvPIqCIkrsSXjdXiojBTZWljumpEMagjWoewVgSE74yDGPR2wD5EEKTpq-DoWXnceWdIE79qr6s5UESUnUkAhkOTWDpGxiwe_O3tuWCyT-KymfZok7-KuWg/s400/Newton%20e%20o%20espectro.png"/></a></div>
<p>O que é luz? Para responder a isso, Einstein introduziu, no início do século XX, o conceito quântico de fóton, tanto partícula, como onda. Estava resolvida a discussão sobre a natureza da luz, que seria tanto corpuscular, como ondulatória. Questão que havia dividido vários físicos do passado.</p>
<p>As duas teorias tiveram seus defensores, que foram <b>Isaac Newton(1642-1727)</b> defendendo a teoria corpuscular, enquanto <b>Christian Huygens(1629-1695)</b>, <b>Thomas Young(1773-1829)</b> e <b>Augustin Fresnel(1788-1827)</b> defendiam a teoria ondulatória. Mesmo estando sozinho em sua ideia, Isaac Newton não estava de todo errado. O seu artigo Optica, de 1672, agora fazendo 350 anos, já faria um caminho para que a luz tivesse duas naturezas. E uma delas não era contemplada por ele.</p>
<p>Muitas vezes, quando vemos um arco-íris no céu, não nos damos conta do que é aquilo. Quantos não fizeram a experiência da mangueira d'água no quintal, lançando um jato d'água sob a luz do sol, e viram um arco colorido se formar? Pois é. Isto tem nome, e se chama dispersão luminosa. É um tipo especial de difração da luz. E foi feita por vários cientistas no século XVII, incluindo <b>René Descartes(1596-1650)</b>.</p>
<p>Porém Descartes e os outros não faziam ideia do que era a chamada dispersão luminosa. Eles acreditavam do que luz se dividia no arco-íris ao atravessar um prisma. Mas não sabiam que cada luz monocromática daquela poderia ser separada. E nem que cada luz pudesse ser separada por frequência. Esse desmantelar da teoria luminosa coube a um homem. Seu nome era Isaac Newton(1642-1727).</p>
<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhmJXAVarOpow2KIpvwu9NLGmVabeArJXpBvs9QFtt6CCamYosW-p1CX9yspqZTpKm-gV5IiFA889LSXw2min3C15VMX42dHatYMeJsbQRPFUya6XDxE1Y3UwZW3w0vUe1NoDYHBZqmaACh05v_mpd3sw-dFp8bVSbHa1DumBICQJgK1-Abh_WbUAqo/s512/piramide%20de%20newton.jpg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; clear: left; float: left;"><img alt="" border="0" width="320" data-original-height="383" data-original-width="512" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhmJXAVarOpow2KIpvwu9NLGmVabeArJXpBvs9QFtt6CCamYosW-p1CX9yspqZTpKm-gV5IiFA889LSXw2min3C15VMX42dHatYMeJsbQRPFUya6XDxE1Y3UwZW3w0vUe1NoDYHBZqmaACh05v_mpd3sw-dFp8bVSbHa1DumBICQJgK1-Abh_WbUAqo/s320/piramide%20de%20newton.jpg"/></a></div>
<p>Newton era não só um cientista, um curioso com brinquedos mecânicos em sua infância, mas também profundamente religioso. Tinha falhas doutrinárias em relação ao cristianismo ortodoxo, pois seguia uma espécie de arianismo cristão. Mas, ainda assim, um religioso cristão. Então ele via na luz, primeira criação divina segundo o Gênesis, o objeto da perfeição de Deus. Uma vez passou um longo tempo olhando para o sol. Depois fechava os olhos. Daí via círculos coloridos esporadicamente. Depois viu cores através de uma pena de ave, ao colocá-la contra o sol. Tudo isso ele precisava saber o porquê.</p>
<p>Até que um dia, ao frequentar o mercado de antiguidades com seu amigo John Wickins, não comprou livro algum. Comprou um prisma numa loja de alquimia. Os prismas tinham a propriedade, segundo muitos físicos, de mudar a luz branca em cores de arco-íris. Mas será que mudavam a luz branca ou mostravam como era essa luz? Era isso que as experiências de Newton iam mostrar. Aquilo que se falava sobre a luz nos Princípios de Filosofia, ou na Dióptrica de Descartes, não era satisfatório.</p>
<p>Tanto aquela explicação de Descartes não era satisfatória, que o próprio Christian Huygens(1629-1695), matemático e físico holandês, estava preparando uma explicação que melhor satisfizesse os cientistas da época. Huygens divergia de Newton na parte sobre a natureza da luz, assim como o matemático e filósofo alemão<b> Gottfried Leibniz(1646-1716) </b>divergia com Newton na área do Cálculo. Huygens era de uma geração anterior de matemáticos, e muito mais experiente, em relação aos outros dois. Pudera, em 1687 Huygens foi considerado o maior físico do mundo ainda vivo. Também é importante esclarecer que tanto Newton, como Leibniz, consideravam o velho matemático holandês como um mestre.</p>
<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgSE3WjaztbAVG6fCpGKmjupN_5z_qriieRghNVGQmbChelKgXwjf1hcxPvXyDIZ2OiCM8dI0qWTFEbiG3LrpS2avzOw-BM_foWZlK_FEh0je430z5D2XO2PFVX02vfOenDsbFGooN9M_pDw_Y2DsppdVDoFpTDkVEZ2J2XmIfLYlRZUPq6FCWJJJXl/s512/Newton%20e%20Huygens.jpg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; clear: left; float: left;"><img alt="" border="0" width="320" data-original-height="300" data-original-width="512" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgSE3WjaztbAVG6fCpGKmjupN_5z_qriieRghNVGQmbChelKgXwjf1hcxPvXyDIZ2OiCM8dI0qWTFEbiG3LrpS2avzOw-BM_foWZlK_FEh0je430z5D2XO2PFVX02vfOenDsbFGooN9M_pDw_Y2DsppdVDoFpTDkVEZ2J2XmIfLYlRZUPq6FCWJJJXl/s320/Newton%20e%20Huygens.jpg"/></a></div>
<p>Contrariamente à expectativa de Newton, seu artigo de 1672 foi mal recebido. Ele é criticado com base em três objeções: 1°) Alguns físicos não conseguem refazer suas experiências; 2°) Outros físicos, como Robert Hooke(1635-1703), não questionaram a experimentação, mas a interpretação de Newton; 3°) E, finalmente, Huygens propõe que Newton põe em evidência uma propriedade secundária da luz, que seria a desigual refratabilidade de seus raios. Na verdade, Newton divergia sobre metodologia na sua época. No século XVII se acreditava que era preciso várias experiências para tirar conclusões. Newton não acreditava nisso. Além disso, o detalhe das cores não foi plenamente compreendido por Huygens, por exemplo.</p>
<p>Isaac Newton teria muitas rivalidades científicas na vida. Não só por sua vaidade, mas também por seu isolamento social. Após os ataques recebidos por esse artigo, ele ficaria anos em silêncio. Foi descoberto por <b>Edmond Halley(1656-1742)</b>, para dar sua contribuição à gravitação universal. Mas houve muitas divergências, como Hooke na questão da luz, ou Leibniz na questão do cálculo. Mas o cientista isolado teve o sepultamento de um rei. Em uma homenagem, o poeta inglês <b>Alexander Pope(1688-1744)</b> parafraseou o livro de Gênesis, da Bíblia, para dar uma interpretação da vida de Newton, dizendo:<i>"A natureza e suas leis escondiam-se na noite. Deus disse: Que se faça Newton. E tudo se fez luz!"</i> Em seu funeral estava presente uma figura ilustre, que também era seu fã. Nada menos que <b>François-Marie Arouet(1694-1778)</b>, mais conhecido pelo pseudônimo de <b>Voltaire</b>. Este filósofo publicou, em 1738, o seu frontispício chamado Elementos da Filosofia de Newton. Esta obra que tornou conhecida a física newtoniana na França.</p>
<p>Hoje sabemos que a natureza da luz é tanto corpuscular, quanto ondulatória. Já no espectro de cores, sabemos que Newton estava absolutamente certo. Alguém que propôs isso há 350 anos atrás merece todo crédito necessário. Já as notas de cálculo, hoje se usam muito mais as posteriores a Newton, ou até mesmo a de Leibniz, do que as dele próprio. A concepção de fóton, descoberta por <b>Albert Einstein(1879-1955)</b>, veio a trazer um mundo novo a desvendar. Em alguns anos, observaremos uma floresta tropical na superfície de um planeta gêmeo da Terra, em órbita em torno de uma estrela longínqua. Para isso, centenas de espelhos formarão um interferômetro espacial de um novo tipo: Um hipertelescópio! Mas isso já é outra história…</p>
<p><b>Referências Bibliográficas</b></p>
1.WHITE, Michael. <b>Personagens que mudaram o mundo:Isaac Newton.</b> Tradutor:Matilde Leone.Editora Globo. Rio de Janeiro,1993.</br>
2.<i>Revista Scientific American Brasil.</i> <b>Edição Especial Todos os estados da luz.</b> nº29. Editora Duetto. Maio, 2007.</br>
3.<i>Revista Scientific American Brasil.</i> <b>Coleção Gênios da Ciência:Isaac Newton.</b> nº01. Editora Duetto. Março,2007. Gustavo Pedrozahttp://www.blogger.com/profile/15982321070169803360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4322194361971823951.post-64253091100392896212022-12-29T17:49:00.001-03:002022-12-29T23:42:14.476-03:00Não existe tratado do lado de baixo do Equador<p>"<i>Brandindo achas e empurrando quilhas, vergaram a vertical de Tordesilhas</i>."</p> <b>Guilherme de Almeida, monumento aos Bandeirantes, no parque Ibirapuera, São Paulo.
</b>
<p>Do que trata a frase poética do paulista em questão acima? Isso foi o reconhecimento, por parte dos bandeirantes paulistas, que o Tratado de Tordesilhas, ratificado mais tarde pelo papa Júlio II em 1506, era cada vez mais burlado. Portugueses avançavam para dentro do território sul americano sem nenhum reconhecimento, ou repreensão, por parte de autoridades espanholas. Isso viria a trazer consequências bem sérias mais tarde, onde portugueses, que não tinham nenhum respeito pelos jesuítas, avançaram sobre os territórios dos <i>Sete Povos das Missões</i> e os destruiu. Este povoamento era o conjunto de sete aldeamentos indígenas fundados pelos Jesuítas espanhóis na Região do "Rio Grande de São Pedro", atual Rio Grande do Sul, composto pelas reduções de<i> São Francisco de Borja, São Nicolau, São Miguel Arcanjo, São Lourenço Mártir, São João Batista, São Luiz Gonzaga e Santo Angelo Custódio.</i> De forma brutal, interesses escusos de Portugal, Espanha e Inglaterra acabaram com a maior missão civilizatória da América do Sul em pleno século XVIII.</p>
<p>Essa mesma realidade se aplica aos Tratados internacionais sobre territórios que, no passado colonial, pouco valiam. O mundo já foi muito mais selvagem do que os tempos atuais e, muitas vezes para tratados valerem, era preciso se impor pela espada, ou mesmo pelo medo do sobrenatural. Enfim, algo que colocasse os homens sob ameaça, caso tentassem quebrar a palavra.</p>
<p>As navegações do século XV e XVI trouxeram novas visões de mundo para o continente europeu. Mas mundo afora isso já estava em prática. O navegador mongol muçulmano Zheng He, a serviço da China Ming, já percorria os mares do Atlântico sul no início do século XV, segundo o oficial da Marinha britânica, Gavin Menzies. E não só isso. Os nórdicos da Noruega avançaram sobre a Islândia, Groenlândia e, mais tarde, Canadá. Porém em nenhum desses casos fora da Europa havia a intenção de colonizar as terras descobertas. Havia casos de colonos e suas famílias, como ocorreu no Canadá do ano 1000 em diante(chamado de Vinlandia), porém tais habitações duravam pouco. Ou mesmo só para extrair riquezas, como foram o saque de muitos reinos africanos e asiáticos.</p>
<p>O processo colonizador começou mesmo no século XV, após a frustração da época das cruzadas. A morte de Marco Polo no século XIV encerra um período de geógrafos lendários(e às vezes ainda delirantes), no qual a Europa era fascinada pelas culturas árabe, persa, mongol e, principalmente, chinesa. Após isso viriam a peste negra e as navegações. Mas, mesmo na baixa idade média, não havia pouca cultura na Europa, como se imagina. E Marco Polo não foi o primeiro europeu a pisar na China. Antes dele veio um comerciante judeu italiano chamado Jacob d'Ancona. Ele veio na época da dinastia Song, e presenciou o ataque dos mongóis sob Kublai Khan. Escreveu um livro chamado<i> Cidade da Luz</i>, que possui muito mais detalhes sobre a China que o veneziano Marco Polo.</p>
<p>Quando Constantinopla foi tomada pelos turcos em 1453, foi fechada a passagem por terra para muitos europeus. O mediterrâneo era um mar fechado pelos venezianos. Então a saída era dar a volta, pelo litoral da África, indo até a Ásia. Ou para o ocidente, como fez Cristóvão Colombo. Tudo isso era para alcançar as especiarias das índias. As Índias era uma localização geográfica que englobava não só a Índia, mas todo o leste africano, e até mesmo as áreas da Península da Indochina, onde muita coisa ainda iria acontecer.</p>
<p>Quando o processo colonial do novo mundo começou, também se fez necessário tratados entre as potências que tomavam posse das terras do hemisfério sul do planeta. Tratados como Tordesilhas, Madri, Santo Ildefonso, Alcáçovas, Saragoça, etc. E estes tratados quase nunca eram respeitados. Para começo de conversa, as pessoas dos séculos XV e XVI não tinham quase nenhum senso de nacionalidade. O homem não era um patriota. Ele era fiel ao seu príncipe, assim como sua religião. Assim, um morador da Normandia, norte da França, não era cidadão francês, muito menos inglês. Era um súdito do rei da Inglaterra, pois aquele território era parte do reino inglês. Basta lembrar que Carlos V, Sacro imperador da Germânia do século XVI, governava súditos falantes de catalão, basco, castelhano, náhuatl, alemão, quíchua e italiano. E não só isso, mas em pleno século XX, durante a segunda guerra, vários poloneses do interior se classificavam como <i>pessoas do lugar</i>.</p>
<p>Em se tratando do século XX, houve a partilha da África tentando se utilizar dos mesmos tratados dos séculos XV e XVI. Já naquela época, as demais potências marítimas não aceitavam o mundo ser partilhado entre as potências ibéricas Portugal e Espanha. Logo Inglaterra, França e as Províncias Unidas(Holanda) iriam se lançar aos mares. Portanto, se 400 anos antes as potências não aceitavam divisões desiguais, quanto mais no século XX. A Conferência de Berlim(1884-1885) tentou a partilha da África. Mas os ingleses não viam com bons olhos o avanço do imperialismo alemão. Então tais rivalidades não puderam ser resolvidas em uma mesa de conferência, mas sim com explosivos, gases venenosos e tanques. Estava iniciada a primeira guerra mundial. O mundo não mais pertencia aos ideais de D. Quixote de la mancha…</p>
<p>Portanto, as rivalidades entre as potências do norte em relação às colônias do Sul do planeta, raras vezes puderam ser resolvidas através de tratados. E parodiando o fantástico cantor brasileiro Ney Matogrosso, em seu não existe pecado do lado de baixo do Equador, pode-se dizer que esta não foi a única falta que as grandes navegações, e o futuro imperialismo, deixaram a desejar…</p>
<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhpwKSQA-gHj8ni7fQ1DNK0DNQxA8ESW52LTCO6AlpGP5OdkzBYWZMPeT1f9rJJzrJtjwLVtQDXSnrhIOYU2jV-ETOFJDn24E6S9usGMsvNE_HROp1F1_UFm2jJsuzkWbXpNn51bhWamNoaK8KfoDOQ-ToOuh-MP-OS9RfvinFDvzJLTGkCXdKA7l3M/s512/mapa%20tratado.jpg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" width="320" data-original-height="259" data-original-width="512" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhpwKSQA-gHj8ni7fQ1DNK0DNQxA8ESW52LTCO6AlpGP5OdkzBYWZMPeT1f9rJJzrJtjwLVtQDXSnrhIOYU2jV-ETOFJDn24E6S9usGMsvNE_HROp1F1_UFm2jJsuzkWbXpNn51bhWamNoaK8KfoDOQ-ToOuh-MP-OS9RfvinFDvzJLTGkCXdKA7l3M/s320/mapa%20tratado.jpg"/></a></div>
<p><b>Referências Bibliográficas</b></p>
1. <b>Revista História Viva GRANDES TEMAS: Mar Português</b>. Editora Duetto. nº14. Dezembro, 2009. São Paulo.</br>
2. <b>Revista História Viva GRANDES TEMAS: As muitas conquistas da América</b>. Editora Duetto. nº23. Agosto,2010. São Paulo.
Gustavo Pedrozahttp://www.blogger.com/profile/15982321070169803360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4322194361971823951.post-54898838744854888512022-12-24T08:57:00.001-03:002022-12-24T08:57:35.579-03:00Olof Skötkonung - O nascimento do cristianismo sueco 🇸🇪🇸🇪🇸🇪 <p>A história dos povos nórdicos, e a conversão deles ao cristianismo, é tema de um longo repertório de pesquisas, inclusive pelo revisionismo que levou à "<i>europeização</i>" da História a partir do século XIX. Desde os pagãos como Rurik, até cristãos como Olof, ou mesmo Gustavo de Vasa, cerca de 600 anos depois.</p>
<p>O fenômeno do celtismo, comum na Europa do século XIX, procurava recuperar as raízes dos povos europeus, e os escolhidos foram os celtas, normalmente retratados com capacetes e chifres, imagem também reconhecida nos vikings. E este estereótipo era desconhecido por cronistas da antiguidade, como Jordanes, ao escrever sobre os godos do período final do império romano. E este fenômeno que deu um certo glamour ao estudo sobre os chamados povos do norte, ou normandos.</p>
<p>As origens históricas(e míticas) dos povos do norte remetem a ilha de Gotland, à leste de Gothia, que seria o conjunto de terras que hoje forma Suécia e Noruega. Gotland, que se estende desde Malmo, ao sul, até os lagos setentrionais Vener e Veter. O Veter delimita Ostergotland(Gotland do leste, donde vieram os ostrogodos) e Vastergotland(Gotland do oeste, donde vieram os Visigodos). Era ali, entre o oeste e o leste de Gothia, no castelo de Ovralid, perto de Vadstena, que Heidenstam, o poeta, evocava a antiguidade da Suécia: "Scandza insula, vagina nationum"(a ilha de Scanza, matriz da nação). Daqui surgem os escandinavos, de acordo com Jordanes, na sua descrição da origem dos povos godos. Já desde 4.000 a.C., no período neolítico, a tribo Svear(donde veio o nome Suécia mais tarde) ocupava a região do lago Mälaren. Porém a história escandinava estava apenas no início.</p>
<p>A História da Suécia ganha notoriedade com o reinado de Olavo, o Grande. O 1º rei cristão sueco. Olof Skötkonung, às vezes estilizado como Olaf, o Sueco (980–1022), foi rei da Suécia, filho Érico VI da Suécia, apelidado o vitorioso e, de acordo com fontes islandesas, Sigrid, a orgulhosa. Ele sucedeu seu pai em 995, e está no limiar da história registrada, pois é o primeiro governante sueco sobre o qual existe conhecimento substancial. Ele é considerado o primeiro rei conhecido por ter governado tanto os suecos quanto os godos . Na Suécia, o reinado do rei Olavo é considerado a transição da era Viking para a Idade Média, pois foi o primeiro rei cristão dos suecos, que foram os últimos a adotar o cristianismo na Escandinávia. Ele está associado a uma crescente influência da igreja no que hoje é o sudoeste e centro da Suécia. As crenças nos deuses nórdicos persistiram em partes da Suécia até o século XII.</p>
<p>Os vikings suecos eram conhecidos como varegues ou varangianos. De acordo com a Crônica Primária de Kiev, do século XII, um grupo de varangianos, conhecidos como "Rus", estabeleceu-se em Novgorod em 862 sob a liderança de Rurik. Antes de Rurik, os 'Rus' podem ter governado uma política hipotética anterior chamada 'Khanato Rus'. O parente de Rurik, Oleg, conquistou Kiev em 882 e estabeleceu o estado de 'Kievan Rus', que mais tarde foi governado pelos descendentes de Rurik.</p>
<p>Atraídos pelas riquezas de Constantinopla, os varegues começaram as guerras com os bizantinos, algumas das quais resultaram em tratados comerciais vantajosos. Pelo menos desde o início do século X, muitos varangianos serviram como mercenários no exército bizantino, constituindo a Guarda Varangiana de elite (os guarda- costas dos imperadores bizantinos). Eventualmente, a maioria deles, em Bizâncio e na Europa Oriental, foram convertidos do paganismo nórdico ao cristianismo ortodoxo, culminando na cristianização da 'Rus' de Kiev em 988. Coincidindo com o declínio geral da Era Viking, o influxo de escandinavos a 'Rus' parou, e os varegues foram gradualmente assimilados pelos eslavos orientais no final do século XI.</p>
<p>Porém neste texto será tratado, de acordo com crônicas islandesas e germânicas, a história de Olavo, o primeiro rei cristão da Suécia. Pouco se sabe, a não ser por crônicas ou poemas suecos do passado, quais reis foram seus antecessores. Não se sabe se ele era sucessor de Rurik, considerado o pai dos varegues. Mas a sua história já é bem documentada, considerando reis varegues anteriores.</p>
<p>O "sobrenome" do rei tem uma etimologia ainda obscura. Na realidade, em tempos antigos as pessoas não tinham sobrenome, mas sim apelidos. E era muito comum entre reis vikings, como "<i>Erik, o Machado sangrento</i>", "<i>Harald, o dente azul</i>", etc. Uma das muitas explicações para o nome Skötkonung é que ele é derivado da palavra sueca "skatt", que pode significar "impostos" ou "tesouro". O último significado foi interpretado como "rei tributário" e um estudioso inglês especula sobre uma relação tributária com o rei dinamarquês Sweyn Forkbeard , que era seu padrasto. Essa explicação, no entanto, não é apoiada por evidências ou fontes históricas. Outra possível explicação para o nome refere-se ao fato de ter sido o primeiro rei sueco a cunhar moedas. Uma antiga cerimônia de posse de terra que colocava uma parcela de terra no colo de alguém (sueco: sköte ) era chamada de scottinge pode ter estado envolvido neste epíteto.</p>
<p>Nosso conhecimento do rei Olavo da Suécia é baseado principalmente nos escritos de Snorri Sturluson(1179-1241), que era um historiador, poeta e político islandês e nos escritos de Adam de Bremen(?1048 - ?1084), cronista alemão do feudo de Meissen. Mas ambos foram alvo de críticas de estudiosos, pois os contos e poesias vikings costumavam ser exagerados. O relato mais antigo do cronista eclesiástico alemão Adam de Bremen, em 1075, relata que Sweyn Forkbeard foi expulso de seu reino dinamarquês pelo rei sueco Erico, o Vitorioso, no final do século X. Quando Eric morreu em 995, Sweyn voltou e recuperou seu reino, casando-se com a viúva de Eric. Enquanto isso, Olavo sucedeu seu pai Érico VI, reuniu um exército e lançou um ataque surpresa contra Sweyn. O rei dinamarquês foi mais uma vez expulso, enquanto Olavo ocupava suas terras. Depois disso, no entanto, o conflito foi resolvido. Como Sweyn se casou com a mãe de Olavo, ele foi reintegrado no trono dinamarquês e os dois reis foram posteriormente aliados. Snorri Sturluson, em 1230, e os outros escritores da saga islandesa também dizem que Sweyn se casou com a mãe de Olavo após a morte do rei Érico VI, mas sem mencionar nenhum conflito. Além disso, Snorri descreve Sweyn e Olavo como aliados, em pé de igualdade, quando derrotaram o rei norueguês Olav Tryggvason na Batalha de Svolder no ano 1000 e, posteriormente, dividiram a Noruega entre eles. Acredita-se que o relato de Adam sobre as derrotas de Sweyn nas mãos de Érico VI e Olavo é parcial, e pode ter sido mal interpretado; o casamento com a mãe de Olavo pode de fato ter selado a posição privilegiada de Sweyn frente ao rei sueco.</p>
<p>De acordo com Snorri, Olavo liderou uma expedição viking a Wendland(uma província da Baixa Saxônia) no início de seu reinado. Ele capturou Edla, filha de um chefe Wendish, e a manteve como amante. Ela deu a ele o filho Edmundo(que se tornaria rei da Suécia), e as filhas Astrid(mais tarde esposa de Olavo II da Noruega) e Holmfrid (casada com Sven Jarl da Noruega). Mais tarde, ele se casou com Estrid dos Obotritas, e ela lhe deu o filho Anund Jacob e a filha Ingegerd Olofsdotter.</p>
<p>Enquanto Adam de Bremen elogia Olavo como um bom cristão, os autores islandeses pintam uma imagem desfavorável do rei como arrogante e espinhoso. Diz-se que o rei Olavo preferia os esportes reais à guerra, o que pode explicar a facilidade com que Sweyn Forkbeard retomou as terras dinamarquesas que o pai de Olavo, Érico VI, havia conquistado. Olavo também pode ter perdido o direito ao tributo que seus predecessores haviam preservado no que hoje é a Estônia e a Letônia.</p>
<p>Quando o reino norueguês foi restabelecido por Olavo II da Noruega em 1015, uma nova guerra eclodiu entre a Noruega e a Suécia. Há um relato circunstancial disso na obra de Snorri Sturluson. Como ele escreve, muitos homens na Suécia e na Noruega tentaram reconciliar os reis. Em 1018, o primo de Olavo, o conde de Västergötland, Ragnvald Ulfsson, e os emissários do rei norueguês, Björn Stallare e Hjalti Skeggiason, chegaram à propriedade de Uppsala na tentativa de convencer o rei sueco a aceitar a paz e, como garantia, casar sua filha Ingegerd Olofsdotter com o rei da Noruega. O rei sueco ficou muito zangado e ameaçou banir Ragnvald de seu reino, mas Ragnvald foi apoiado por seu pai adotivo Thorgny, o orador da lei.</p>
<p>Thorgny fez um discurso poderoso no qual lembrou ao rei as grandes expedições vikings no Oriente, que predecessores como Erik Anundsson e Björn haviam empreendido, sem ter a arrogância de não ouvir os conselhos de seus homens. O próprio Thorgny participou de muitas expedições de pilhagem bem-sucedidas com o pai de Olavo, Érico VI, o vitorioso, e até mesmo ele ouviu seus homens. O atual rei não queria nada além da Noruega, que nenhum rei sueco antes dele havia desejado. Isso desagradou o povo sueco, que estava ansioso para seguir o rei em novos empreendimentos no Oriente para reconquistar os reinos que pagavam tributo aos seus ancestrais, mas era desejo do povo que o rei fizesse as pazes com o rei da Noruega, e desse a ele sua filha Ingegerd como rainha.</p>
<p>A lei westrogótica, de 1240, é a primeira crônica sueca breve, que começa com Olof Skötkonung. Relata que Olavo foi batizado na Igreja de Husaby, em Västergötland, pelo missionário Sigfrid, e fez generosas doações ao local. Na igreja paroquial de Husaby há uma placa comemorativa de seu batismo. E, nas proximidades, acredita-se que seja a mesma fonte sagrada onde Olavo foi batizado. Ele foi o primeiro rei sueco a permanecer cristão até sua morte. No entanto, as circunstâncias sobre seu batismo não são claras. Um documento de 1008 diz que um certo bispo, despachado pelo arcebispo Bruno de Querfurt, visitou a tribo Suigi e conseguiu batizar o rei, cuja rainha já era cristã. E mil pessoas, e sete comunidades, seguiram seu exemplo. Os Suigi às vezes foram identificados como suecos, embora isso tenha sido rejeitado por vários outros estudiosos. Por outro lado, a cunhagem de moedas do rei Olavo indica que ele já era cristão na época de sua ascensão em 995.</p>
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<p>De acordo com Adam de Bremen, Olavo planejava derrubar o templo de Uppsala, que era supostamente um importante centro de culto pagão. O fato de grande parte dos suecos ainda serem pagãos o forçou a abandonar esse objetivo. Os pagãos, cansados de seus planos, fizeram um acordo com Olavo no sentido de que, se ele quisesse ser cristão, deveria exercer sua autoridade real em uma província de sua escolha. Se ele fundasse uma igreja, não deveria forçar ninguém a se converter. Olavo se contentou com isso, e instalou um bispado na província de Västergötland, mais perto da Dinamarca e da Noruega. A pedido de Olavo, o arcebispo de Hamburgo-Bremen ungiu Thurgot como o primeiro bispo em Skara. Este Thurgot teve sucesso em disseminar o cristianismo entre os godos ocidentais e os godos orientais.</p>
<p>A lenda de São Sigfrid, conhecida desde o século XIII, relata que o ainda pagão rei Olavo dos suecos chamou o arcebispo inglês de York, Sigfrid, para ensinar a nova fé em seu reino. No caminho, Sigfrid e seus três sobrinhos chegaram a Värend, no sul de Småland, onde as doze tribos locais endossaram o cristianismo em uma assembleia. Sigfrid deixou seus sobrinhos para cuidar dos assuntos em Värend e foi para a corte do rei Olavo, onde o rei e sua família foram batizados. Enquanto isso, uma reação pagã em Värend custou a vida dos sobrinhos, cujas cabeças foram afundadas no lago Växjö. Ouvindo sobre isso, Sigfrid voltou para Värend, onde as cabeças foram descobertas por um milagre. O rei Olavo então apareceu em Värend com uma força, puniu os assassinos e forçou os habitantes locais a ceder propriedades à Igreja. Se a lenda reflete a expansão do reino de Olavo para o sul, é incerto. A história parece incorporar vários elementos para legitimar o estabelecimento do Bispado de Växjö em 1170. No entanto, sabe-se de Adam de Bremen, que um missionário inglês chamado Sigfrid pregou entre os suecos e godos na primeira metade do século XI.</p>
<p>Pode-se afirmar que as conversões vikings ao cristianismo começaram logo que conheceram a nova fé. Mas as conversões foram lentas. Mesmo assim, a maioria abraçou a nova fé com fervor. Tanto que, quando surgiu a empreitada cristã europeia conhecida como Cruzadas, muitos normandos as lideraram. Desde Godofredo de Bulhões, que se tornou o 1° rei cristão de Jerusalém, até Tancredo da Sicília, bem conhecido na primeira cruzada. A velha religião foi declinando aos poucos, e os ataques vikings se tornaram coisa do passado. Mas, segundo Jörmundur Ingi, líder dos pagãos islandeses, algo sempre ainda resta. "<i>O gado morre, os parentes morrem, todo homem é mortal</i>", diz um poema islandês. "<i>Só uma coisa não morre: A glória dos grandes feitos."</i></p>
<p>A julgar pela cronologia dos eventos de Snorri Sturluson, o rei Olavo da Suécia morreu de morte natural no inverno de 1021–1022. Adam de Bremen afirma que morreu aproximadamente ao mesmo tempo que Cnut, o Grande(1035), da Dinamarca, o que certamente seria tarde demais.</p>
<p>Interessante saber sobre uma história viking que se passou há mil anos atrás, que só foi resgatada por causa das tradições e poemas vikings islandeses e germânicos, além das pedras rúnicas suecas, que ajudam a desvendar escritas antigas. Porém sempre haverá quem fantasie por demais as lendas vikings nos cinemas, fazendo até sátiras, como Erik, o viking, de Terry Jones(1989), em que satiriza o modo como as pessoas veem a história dos povos nórdicos. Mesmo assim, muitas coisas são válidas, ainda que falsas, para que o maior número de pessoas possível possa ver as belezas da história…</p>
<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi82-17H62uTyqGEEHfxoejE1Pz04k117YB3iSHBGSBMCoe2xuuGXBU6MET47PoQjp2QCFsCFHaa_RYjWAnA-x7HBupvHimKwfFkEq6gFE__aL7haAgbBUB-8ovfZTxtqlktt8x8VRuV8g3oEiKCxY5Fegfkgb_6dKZETHcHBP5Lj_7Jpu-Fhsu5peR/s344/Olof_Sk%C3%B6tkonung.jpg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" height="320" data-original-height="344" data-original-width="250" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi82-17H62uTyqGEEHfxoejE1Pz04k117YB3iSHBGSBMCoe2xuuGXBU6MET47PoQjp2QCFsCFHaa_RYjWAnA-x7HBupvHimKwfFkEq6gFE__aL7haAgbBUB-8ovfZTxtqlktt8x8VRuV8g3oEiKCxY5Fegfkgb_6dKZETHcHBP5Lj_7Jpu-Fhsu5peR/s320/Olof_Sk%C3%B6tkonung.jpg"/></a></div> <b>Olof Skötkonung, como imaginado por Ansgar Almquist na década de 1920, estátua na Prefeitura de Estocolmo.</b>
<p><b>Referências Bibliográficas</b></p>
1.MOLITERNO, Sergio.<b> Suécia</b>. In:ENCICLOPÉDIA Geografia Ilustrada, vol II.Edição Abril Cultural. São Paulo, Brasil. 1972. 4 volumes.</br>
2.QUESADA, Pedro.<i> Os Vikings</i>. <b>Coleção Expedição</b>.Tradução:Maria Leonor Buesco e Mauro Vilar. Editora Civilização Brasileira. CELBRASIL, Lisboa, Portugal.</br>
3.REVISTA HISTÓRIA VIVA:GRANDES TEMAS. <b>A Saga Viking</b>.nº21.Julho,2012.</br>
4.VESILIND, Priit J. Revista National Geographic Brasil. Ensaio:<i>Na trilha dos vikings</i>. Tradução:Heloisa Jahn.Editora Abril. Volume I, nº 1. P.118-143.Maio,2000. Gustavo Pedrozahttp://www.blogger.com/profile/15982321070169803360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4322194361971823951.post-22290599866899871662022-12-21T19:20:00.001-03:002022-12-21T19:20:43.794-03:00Branca de Neve : Da antiga Germânia para a Disney<p>No dia 21 de dezembro de 1937 era lançado nos cinemas um clássico dos contos de fadas: a animação Branca de Neve e os Sete Anões. Foi o primeiro filme totalmente a cores do mundo, além de marcar a estreia dos Estúdios Disney nas produções de longa-metragem. A história é baseada em um conto dos Irmãos Grimm.</p>
<p>O orçamento inicial era de US$ 150 mil, mas acabou custando US$ 1,5 milhão, um valor exorbitante para a época. A produção da animação durou 4,5 anos. A parte mais difícil foi chegar a um desenho final dos anões. O filme arrecadou 8 milhões de dólares ao redor do mundo. Na época, foi brevemente a maior bilheteria de um filme sonoro. A popularidade de Branca de Neve o levou a ser relançado nos cinemas várias vezes nas décadas seguintes, até seu lançamento em home vídeo nos anos 90.</p>
<p>Havia inúmeras diferenças entre o desenho do Walt Disney e o conto alemão do século XIX. Para começo de conversa, a história que conhecemos hoje em dia não surgiu de primeira. Antes dela, a equipe de roteiristas da Disney já havia escrito outras versões, onde a Rainha Má tentava acabar com Branca de Neve utilizando um pente envenenado, o príncipe Florian era capturado pela vilã, e com os anões construindo uma cama maior para a princesa dormir confortavelmente em sua casa. No conto original, nenhum dos anões possuía nome. Walt Disney que surgiu com a ideia de nomes que coincidissem com as suas próprias personalidades. Dunga, inclusive, foi o último a ser escolhido e passou muito tempo sendo chamado apenas de Sétimo, já que a equipe não conseguia decidir qual característica dar ao personagem. A rainha má da história teve sua história inspirada, em primeira mão, em uma condessa alemã do século XI chamada Uta von Ballenstedt, esposa do margrave Eckard II, de Meissen, que era parte do império germânico medieval. Na realidade, a rainha má da Branca de Neve era inspirada na estátua da condessa.</p>
<p>Em 1937, muitas pessoas achavam uma loucura o projeto da Disney de criar uma animação com mais de uma hora de duração — já que ninguém havia feito nada parecido até então. Por isso, as manchetes dos jornais da época continham a frase “A loucura da Disney”. Porém, após o lançamento e o grandioso sucesso do filme, o The New York Times, um dos jornais mais importantes dos Estados Unidos, mudou sua manchete para “Muito obrigado, sr. Disney”.</p>
<p>Branca de Neve e os sete anões teve um enorme impacto cultural, resultando em atrações nos parques temáticos da Disney, videogames e livros. Foi classificado na lista dos melhores filmes dos Estados Unidos segundo o American Film. Isso tudo há 85 anos atrás. Direto do túnel do tempo...</p>
<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiGjqoFUh6C3mEVqcO-NDdd_XpCC-eDn3Z6-L-FDPtgVjWTLDGC6jXTJ4ECWymQm96_Id5u7GuIOhfClNNk8n2-QzZ86kiO4HVDLi5Icky8EI3cF-NgwGOtlfYdArYAR9KT0R-OepPeNcsesr5EVWYlwyyzBSAaAwj7Zy9LTuq6b9ohD6rxDAx1gvbY/s768/Branca%20de%20neve%20no%20bosque.jpg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" width="320" data-original-height="398" data-original-width="768" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiGjqoFUh6C3mEVqcO-NDdd_XpCC-eDn3Z6-L-FDPtgVjWTLDGC6jXTJ4ECWymQm96_Id5u7GuIOhfClNNk8n2-QzZ86kiO4HVDLi5Icky8EI3cF-NgwGOtlfYdArYAR9KT0R-OepPeNcsesr5EVWYlwyyzBSAaAwj7Zy9LTuq6b9ohD6rxDAx1gvbY/s320/Branca%20de%20neve%20no%20bosque.jpg"/></a></div>
Gustavo Pedrozahttp://www.blogger.com/profile/15982321070169803360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4322194361971823951.post-73588585645510032392022-11-28T22:06:00.001-03:002022-11-28T22:08:34.423-03:00A Concordata de Worms - O berço do estado laico ocidental <p>Quando se fala do estado ser laico, muitos não sabem que isso foi feito de uma forma gradual no decorrer dos séculos. Não só dos séculos da era cristã, mas até antes dela. Por causa do intenso papel religioso no estado, a maioria dos impérios do passado não via a possibilidade dessa separação. Por isso, não precisa dizer que ateísmo é uma ideia recente. Se falando em ateísmo científico podemos dizer que remonta a meados do século XVIII, às vésperas da Revolução Francesa.</p>
<p>Em termos de antiguidade a separação da religião em meio ao estado surgiu na Grécia antiga. Ali foi o 1° lugar em que a medicina e a religião começaram a separar-se. A era greco-romana trazia um caminho promissor nessa área, porém houve a cristianização do império romano com o Edito de Tessalônica em 380 AD, pelo imperador Teodósio I.</p>
<p>Após a queda do império romano, a Europa se fragmentou. E levaria mais de 300 anos até a Europa se ver unificada política e religiosamente, sob Carlos Magno, rei dos francos e dos lombardos. Este rei tinha uma grande amizade pelo papa Adriano I. Porém, com a morte do pontífice, houve uma formação de um papado monárquico, que será preciso explicar como isso deu início.</p>
<p>Antes de mais nada, é preciso explicar que nem sempre o papado teve esse poder político medieval. As coisas não ocorrem da noite para o dia. O século X, período dos imperadores otônidas, ficou conhecido como saeculum obscurum(o século das trevas). Boa parte do que se conhece a idade média como idade das trevas vem daqui. Foi um período de intrigas e batalhas constantes, de papas e antipapas. Basta pensar na exumação macabra do papa Formoso, depois de nove meses de morto, para que seu corpo pudesse ser julgado. Seu corpo foi sentenciado, o dedo de sua mão direita(com a qual dava benção) foi cortado, e seu cadáver atirado no rio Tibre. Porém o castigo veio, literalmente, a cavalo. O papa Estevão VI, responsável pelo julgamento, foi preso e estrangulado após uma revolta popular. Já o corpo de Formoso foi encontrado, e posteriormente sepultado junto a outros papas. Também pode ser lembrado o governo de terror da "senadora" Marósia, que foi amante de um papa(Sérgio III), assassina de outro(João X) e mãe de um terceiro(João XI). Marosia manteve seu filho preso no castelo de Santo ngelo até que ela mesma foi presa pelo próprio enteado, quando já estava em seu terceiro casamento. Os papas dessa época eram seus instrumentos destituídos de poder. Por isso que, entre Carlos e Magno e a Concordata de Worms, o papado não teria o poder que muitos imaginavam dele.</p>
<p>Durante o reinado de Carlos Magno houve uma formação de nobres fiscalizadores do império franco, como os missi dominici, ou seja, nobres e clérigos que andavam pelo império como fiscais do rei. Após a morte do rei franco, o reino se dividiu pelo Tratado de Verdun(843 AD), e a igreja se fortaleceu. Com a ascensão do império germânico após Luís I, o reino germânico do centro da Europa passou a ser uma monarquia eletiva, onde o imperador era um dos quatro grandes duques alemães(Francônia, Saxônia, Suábia e Baviera), eleito pelos outros três.</p>
<p>No tempo de Oto I, imperador germânico, já havia bispos com poderes condais. E isso iniciou pelo medo dos imperadores germânicos tinha dos nobres. Os imperadores germânicos começaram a distribuir terras aos bispos, fazendo-os funcionários do estado, para contrapor ao poder dos duques, de forma que o trono se tornasse cada vez mais hereditário. Essa ousadia custou bem caro mais tarde.</p>
<p>Sob o pontificado de Nicolau II(Geraldo de Borgonha, bispo de Florença) nasceu o colégio de cardeais(cardinalis, literalmente dobradiças), onde futuramente seriam eleitos os papas. Havia começado ali um protesto de não intervenção do imperador nos assuntos eclesiásticos, elegendo bispos e papas. Mas o berço das transformações veio um pouco antes. Veio em abadias como de Cister e de Cluny, ambas na França, que geraram futuros papas que não mais iriam querer a interferência do estado. Porém não iriam abrir mão da interferência no estado, pela igreja. E essa duplicidade geraria muitos conflitos até o século XIV, e crises até a Reforma Protestante.</p>
<p>Os clérigos reformistas obtiveram apoio dos normandos que haviam se estabelecido no sul da Itália, na Sicília. Além do apoio de Matilde de Toscana, obtiveram o apoio de um movimento chamado pataria, que era um movimento reformista do baixo clero, que era contra a interferência imperial na igreja. Coisas iriam acontecer. O papa Leão IX provocou o racha com os cristãos orientais em 1054. Em 1073 é eleito o papa Gregório VII, ex-monge do grupo reformista(não há provas documentais de que fora cardeal), chamado Hildebrando, para o trono pontificio.</p>
<p>Esse novo pontificado acelerou o processo das investiduras, o questionamento do imperador investir bispos e papas aos cargos eclesiásticos. O antigo monge iria entrar em conflito com o imperador germânico Henrique IV e, apoiado pela nobreza normanda da Sicília, como o caso de Roberto de Guiscard, fez o imperador germânico peregrinar até o castelo de Canossa, onde estava o papa, para prometer não mais tentar investir bispos e papas, mas respeitar as decisões do colégio de cardeais.</p>
<p>Todo esse conflito iria se estender até o sucessor do império, Henrique V, e o papa Calisto II, na Concordata de Worms, em setembro de 1122. Na Concordata ficou estipulado que o imperador faria a investidura temporal(báculo), e o papa faria a investidura espiritual(anel e cruz). E assim o sistema de equilíbrio entre o Papado e o Império, criado por Carlos Magno, e aperfeiçoado pelos otônidas, havia chegado ao fim. O autoritarismo, e a displicência dos imperadores sálicos tinha colocado um ponto final nisso. Os bispos agora não eram mais funcionários do estado, mas vassalos do império. Sem o controle sobre os bispos, os imperadores alemães perderam o controle sobre os duques. Ao mesmo tempo, uma grande parcela de terras do império germânico passa para o controle da igreja. Começava aqui o período de supremacia do poder papal na Europa Medieval. Supremacia esta que teria consequências para rachar a própria Igreja na Reforma Protestante. Reforma que o sucesso se deu principalmente devido à fraqueza do império germânico sob os Habsburgos.</p>
<p>A supremacia do papal, iniciada a partir da Concordata de Worms, deu consequências para a Igreja anos mais tarde. Outros reinos europeus começaram a se prevenir contra a supremacia papal, rejeitando a condição de um papa "juiz de reis cristãos", uma espécie de "Samuel do Antigo Testamento no seio de Roma", que seria imitado por outros reinos mais tarde, ao misturar política e religião.</p>
<p>Essa supremacia gerou o papa Inocêncio III, o mais absolutistas dos papas da história da Igreja, que coordenou o quarto Concílio de Latrão, gerou a quarta cruzada, que morreu sete meses após o início do Concílio, achado nu em pêlo na catedral de Perugia, roubado pelos próprios criados. E além de gerar este papa, culminou com o papa Bonifácio VIII, que teve seu ápice em Agnani, bem diferente de Canossa. Era o início do século XIV, da guerra dos cem anos e da peste negra. Estas coisas trariam a colheita dos exageros de Gregório VII e Inocêncio III.</p>
<p>Por isso que a Alemanha viria a ser o berço da Reforma Protestante. Pois havia um sentimento de revanchismo em relação ao conflito de Canossa, ou "humilhação de Canossa", como muitos preferiram chamar. O imperador Henrique IV seria visto como uma espécie de herói nacional na Alemanha Protestante do século XIX. Há uma placa, colocada em 1872 por Otto Von Bismarck, que mostra muito bem este sentimento. Diz "Nach Canossa gehen wir nich" (nós não iremos para Canossa). E até se esquece que o próprio Papa Gregório VII teve que fugir após uma virada que o imperador Henrique IV deu no império. Haveria de morrer fora de Roma, em fuga. Suas últimas palavras foram:"Amei o que é correto e odiei a iniquidade, portanto, morro no exílio". Hoje, em seu período mais secular, o mundo oferece à Igreja muito mais um futuro de Agnani do que de Canossa. A história da Igreja se desenvolveu para resultar nessa resposta.</p>
<b>"Que a igreja obtenha o que é de Cristo, e que o imperador tenha o que é seu" ( Obtineat Aecclesia quod Christ est, habeat imperator quod suum est)
Papa Calixto II ao Imperador Henrique V, 19 de fevereiro de 1122</b>
<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjgcwnROBZlQC8AnfgwXEoUNfanzDi31IikWny7bsqaprhq9BvE5NrbX2qJc2ojqgyjVURnOrQZTtHlovsr9yE5mEFUbtC7n80FCL5W1xwLZ0Re5oKLnv9_QZz_xTxTh-MTKYzkUh8mAkG1eJC6gEekpzwCxOk2n-pNjJLeqHSG6-ue-0bmn5exuug5/s1634/Urkunde_Wormser_Konkordat-bg.png" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" height="320" data-original-height="1634" data-original-width="1526" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjgcwnROBZlQC8AnfgwXEoUNfanzDi31IikWny7bsqaprhq9BvE5NrbX2qJc2ojqgyjVURnOrQZTtHlovsr9yE5mEFUbtC7n80FCL5W1xwLZ0Re5oKLnv9_QZz_xTxTh-MTKYzkUh8mAkG1eJC6gEekpzwCxOk2n-pNjJLeqHSG6-ue-0bmn5exuug5/s320/Urkunde_Wormser_Konkordat-bg.png"/></a></div>
<p><b>Referências bibliográficas</b></p>
1)KÜNG, Hans. <b>A IGREJA CATÓLICA.</b> Editora Objetiva. 2001.</br>
2)ARRUDA, José Jobson de Andrade. <b>História Antiga e Medieval</b>. 3ª Edição. São Paulo:Ática,1979.</br>
Gustavo Pedrozahttp://www.blogger.com/profile/15982321070169803360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4322194361971823951.post-50291038503614287352022-09-24T13:38:00.000-03:002022-09-24T13:38:07.173-03:00Os Camisas negras do Brasil - O nascimento da democracia <p>Quando estudamos história geral, aprendemos sobre os camisas negras de Milão de Benito Mussolini, na Itália fascista. Estes eram grupos paramilitares que lutavam para oprimir um país. Mas aqui no Brasil, no início dos anos 90, surgiu um movimento que vestia camisas negras, mas para libertar um país de uma onda de corrupção e medo do novo. E eu fiz parte desta história.</p>
<p>Há exatos 30 anos atrás houve um movimento político-estudantil no Brasil chamado caras-pintadas. Foi consequência da experiência da primeira eleição direta pós regime militar, em 1989. E esta eleição só ocorreu por causa da pressão exercida pelo movimento Diretas Já em 1984.</p>
<p>Em 1989, depois de 29 anos que o presidente Jânio Quadros foi eleito, veio uma eleição direta(fruto do movimento Diretas Já em 1984)no Brasil, com o carioca Fernando Collor de Mello(PRN-AL), sendo eleito por uma pequena margem de votos (42,75% a 37,86%) sobre o candidato Luiz Inácio Lula da Silva(PT-SP), em campanha que opôs dois modelos de atuação estatal: um pautado na redução do papel do Estado(Collor) e outro de forte presença do Estado na economia(Lula). E muitas pessoas que não viveram aquela época não sabem, mas o então presidente Fernando Collor de Mello tinha metas ideológicas bem parecidas com as do atual presidente Jair Messias Bolsonaro. A diferença, que se considera crucial, é que na época de Fernando Collor não havia internet, nem inteligência artificial, nem as chamadas fake news(na prática, havia), ou as deepfakes. Mas era respaldado pelo antigo medo do comunismo(estava próximo da queda da URSS), enaltecido pelas igrejas católicas e evangélicas. Parece algo bem atual, mas era a década de 90 do século XX.</p>
<p>Fernando Collor se autodenominou "caçador de marajás", que combateria a inflação e a corrupção, e que era o "defensor dos descamisados". Muitos se lembram desses estigmas do ex-presidente. Lula, por sua vez, apresentava-se à população como entendedor dos problemas dos trabalhadores, notadamente por sua história nos sindicatos do ABC paulista.</p>
<p>Nos primeiros 15 dias de mandato, Collor lançou um pacote econômico, que ficou conhecido como Plano Collor, e que bloqueou o dinheiro depositado nos bancos de pessoas físicas e jurídicas, que era tão conhecido na América do Sul como corralito. Entre as primeiras medidas para a economia, houve uma reforma administrativa que extinguiu órgãos e empresas estatais e que promoveu as primeiras privatizações, abertura do mercado brasileiro às importações, congelamento de preços e prefixação dos salários. Embora inicialmente tenha reduzido a inflação, o plano trouxe a maior recessão da história brasileira, até então, resultando no aumento do desemprego e quebra das empresas. Aliado ao plano, o presidente imprimia uma série de atitudes, características de sua personalidade, que ficou conhecida como o "jeito Collor de governar". Por trás do jeito Collor, montava-se um esquema de corrupção e tráfico de influência que veio à tona em seu terceiro ano de mandato.</p>
<p>Era comum assistir a exibições de Collor praticando esportes, voando em caças da FAB, subindo a rampa do Planalto e acenando para os fãs, comportamentos estes que exaltavam suas supostas jovialidade, arrojo, combatividade e modernidade. Todos expressos em sua notória frase "tenho aquilo roxo". Parece com algo dos dias atuais, não? Inclusive, sempre tinha um grupo de pessoas à volta da Casa da Dinda, como era conhecida. Era o “cercadinho” do presidente na época.</p>
<p>De repente, o jeito Collor de governar encontrou os primeiros problemas, que vieram da própria família, inesperadamente para o presidente. Em reportagem publicada pela revista Veja, na sua edição de 13 de maio de 1992, Pedro Collor de Mello, o irmão do presidente, acusava o tesoureiro da campanha presidencial, o empresário Paulo César Farias, de articular um esquema de corrupção de tráfico de influência, loteamento de cargos públicos e cobrança de propina dentro do governo. A mãe do presidente tentou invalidar o filho Pedro Collor como deficiente mental. Não conseguiu. Pedro Collor apresentou, em uma coletiva de imprensa, seu laudo de sanidade mental. Os reveses na família Collor estavam só no início.</p>
<p>O chamado "esquema PC" teria, como beneficiários, integrantes do alto escalão do governo e o próprio presidente. No mês seguinte, o Congresso instalou uma Comissão Parlamentar de Inquérito(CPI) para investigar o caso. Durante o processo investigatório, personagens como Ana Acioli, secretária de Collor, e Francisco Eriberto, seu ex-motorista, prestaram depoimento à comissão confirmando as acusações e dando detalhes do esquema. O grande problema é que, a todo tempo, se via acusações contra muitos neste esquema. Mas nada se via de ligações com o presidente da república. Até que um belo dia o presidente, em seus desfiles de exibição, aparece andando num Fiat Elba, em que ninguém sabia quem tinha pago pelo carro. Então as investigações mostraram que o carro havia sido pago por um dos fantasmas do PC Farias, um tal de Bonfim. Foi usado um cheque administrativo do Banco Rural(quem lembra disso?). Estava comprovado o envolvimento do presidente.</p>
<p>Um dos expedientes utilizados por PC Farias era abrir contas "fantasmas" para realizar operações de transferência de dinheiro arrecadado com o pagamento de propina, e desviado dos cofres públicos para as contas de Ana Acioli. Além disso, gastos da residência oficial de Collor, a chamada Casa da Dinda, eram pagos com dinheiro de empresas de PC Farias.</p>
<p>A partir daí, os acontecimentos se sucedem freneticamente. No dia 3 de agosto o ex-secretário de imprensa da presidência, Pedro Luís Rodrigues, avisa que não pretende se despedir de Collor ao deixar o governo. A executiva nacional do PT(Partido dos Trabalhadores) decide promover uma série de comícios no país pela aprovação do Impeachment. Neste momento da minha vida, eu estava na Igreja. Uma denominação evangélica, ainda existente hoje, chamada Projeto Vida Nova. Eles me aconselharam a não tomar parte em nada disso, pois diziam que os partidos comunistas do Brasil queriam derrubar o presidente. E que corríamos risco de sermos dominados pelo famoso Marxismo Cultural, que ameaçava a fé cristã pelo mundo. As mesmas desculpas de sempre. Temiam o fechamento das igrejas, caso o PT tomasse o poder. Como já estava deixando o conservadorismo lunático naquela época, desprezei o conselho deles. Nunca me arrependi. Pelo contrário, teria me arrependido se não tivesse tomado parte nessa história.</p>
<p>A seguir, começam os “ratos a abandonar o navio”. No dia seguinte, o ex-ministro da educação, José Goldemberg, declara que foi "enganado e burlado" por Collor. Depois o governo, numa tentativa desesperada para adiar o inevitável, decide que o prazo ideal para enfrentar a oposição na votação do impeachment será depois das eleições de 3 de outubro. Por causa desses acontecimentos, o presidente resolveu, numa quinta-feira dia 13 de agosto, fazer um apelo à população brasileira. E assim, o presidente da república, em pronunciamento, aproveitando uma manifestação de taxistas em favor dele, em seu “cercadinho”, ele disse:</p>
"<i>E essa é uma mensagem que eu dirijo a todo Brasil. A todos aqueles que têm essa mesma profissão de fé. Que saiam no próximo domingo de casa, com uma peça de roupa, numa das cores da nossa bandeira. Que exponham nas suas janelas. Toalhas, panos, o que tiver nas cores da nossa bandeira. Porque assim, no próximo domingo, nós estaremos mostrando onde está a verdadeira maioria.</i>"
<p>E então, no domingo dia 16 de agosto, muitos foram às ruas. Mas não com as cores que o presidente esperava. A maioria de preto. Sim, éramos os camisas negras do Brasil. Em princípio, não tinha as caras pintadas. Até uma menina chamada Cecília Lotufo, que mais tarde seria a primeira pessoa a ser registrada com a cara pintada frente às câmeras de TV, sabia que em princípio não havia essa ideia.</p>
<p>No dia 26 de agosto foi aprovado por 16 votos a 5, o relatório final da comissão que constatou, também, que as contas de Collor e PC Farias não haviam sido incluídas no confisco de 1990. Foi pedido, então, o Impeachment do presidente. Com o tempo, e no decorrer dos dias, até a votação do impeachment na Câmara dos Deputados no dia 29 de setembro, as caras vieram com mais cores. Eu lembro que cantávamos a seguinte marchinha, que também havia sido cantado nas marchas do PT na época de campanha eleitoral, na empolgação da juventude colorida em passeata:</p>
<p><i>O Collor vai ganhar!!!</br>
Uma passagem pra morar em outro lugar…</br>
Não vai de trem, nem metrô ou avião</br>
Vai algemado no camburão</br>
Eita Collor ladrão!</i></p>
<p>O mais impressionante foi a posição das igrejas na época. Com o tempo, elas foram aderindo. Mas no início, no dia 16 de agosto, o medo do comunismo era mais forte que o combate à corrupção do governo Collor.</p>
<p>Finalmente, em 29 de setembro, a Câmara dos Deputados votou a favor da abertura do processo de impeachment de Collor por 441 votos a favor e 33 contra. O voto que mais me chamou a atenção foi do então deputado Roberto Jefferson, que disse: "<i>Deixo aqui o meu protesto, em prol de se investigar todos os corruptos, e não apenas alguns. O meu voto é não!</i>" </p>
<p>No dia 2 de outubro, Collor é afastado da Presidência até o Senado concluir o processo de impeachment. O vice-presidente Itamar Franco assume provisoriamente o governo e começa a escolher sua equipe ministerial. No dia 29 de dezembro, Collor renuncia à presidência para evitar o Impeachment. Entretanto, no dia 30, por 76 votos a 3, ele teve seus direitos políticos cassados por oito anos.</p>
<p>Quando me dispus a pintar a cara de verde e amarelo em 1992, meus pastores foram contra. Diziam ser "coisa de comunista'. Talvez porque não vestimos camisa verde e amarela. E nem camisas vermelhas, como podia-se pensar. Vestíamos camisas negras. Aos gritos de "fora Collor", realmente éramos de maioria PT. Eu era do PV(Partido Verde) e mal conhecia o PT na época. Mas os pastores, e até padres, ficaram apavorados, pois comunistas tinham fama de ser 'anti-religião'. Mas eu estava lá, com ou sem aval de pastores. A parcialidade, e o "deus mamom satânico" das denominações, nunca deveria servir de viés de caminho para cristão nenhum. Aquilo que fiz em agosto e setembro de 1992(para nós foi o <b>setembro negro</b> de fato), ficará para sempre na minha memória.</p>
<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiutrl0ipklglekPKKrf3oqVnBXCtM8d_gBroB3lahIx4FL4cJz4pSKTVnqWc3R9gCXIqLsYnB4TKCY97ECfH1vq_FbOmYWo0ERvZ_pJuPBE-TmHVfsidFeDF8KyoyJZ5sHg_QtXBE-Qlye3b3hdaOqsI0K_RxtS7VxRaxhtfxh0j3xVmb8cGw5iAtW/s1280/os%20caras%20pintadas.jpg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" width="320" data-original-height="720" data-original-width="1280" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiutrl0ipklglekPKKrf3oqVnBXCtM8d_gBroB3lahIx4FL4cJz4pSKTVnqWc3R9gCXIqLsYnB4TKCY97ECfH1vq_FbOmYWo0ERvZ_pJuPBE-TmHVfsidFeDF8KyoyJZ5sHg_QtXBE-Qlye3b3hdaOqsI0K_RxtS7VxRaxhtfxh0j3xVmb8cGw5iAtW/s320/os%20caras%20pintadas.jpg"/></a></div>
Gustavo Pedrozahttp://www.blogger.com/profile/15982321070169803360noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4322194361971823951.post-88236982195519617732022-07-25T23:17:00.001-03:002022-07-25T23:17:45.899-03:00O forte do Cabo Bretão <div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgkyCoYEVYsgO5meexZw991aeXfTBbs3RVJLclGpBvL_ezIoxtAWQ4LngGHv7Md3Nja4DyXtqCLGpOFaF5-4p5Q6s0-IPswTWgFgBUMYdICkfUsQ5C_PrWHA3ieE8Z-c0FhXnP2mFwEoMqt1n1x5I7upRWaClXvYU83w7vbtuZmREM6FsUYZQfT8Rci/s3371/Fortaleza%20do%20Cabo%20Bretao%20_%20Canad%C3%A1.jpg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" width="320" data-original-height="2343" data-original-width="3371" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgkyCoYEVYsgO5meexZw991aeXfTBbs3RVJLclGpBvL_ezIoxtAWQ4LngGHv7Md3Nja4DyXtqCLGpOFaF5-4p5Q6s0-IPswTWgFgBUMYdICkfUsQ5C_PrWHA3ieE8Z-c0FhXnP2mFwEoMqt1n1x5I7upRWaClXvYU83w7vbtuZmREM6FsUYZQfT8Rci/s320/Fortaleza%20do%20Cabo%20Bretao%20_%20Canad%C3%A1.jpg"/></a></div><p>Durante a Guerra dos Sete Anos(1756-1763), uma fortaleza nas Américas na Nova Escócia, em território canadense, conseguiria resistir a vários ataques ingleses. Era forte da Ilha Roayle, mais tarde chamada Ilha do Cabo Bretão.</p>
<p>Construída em 1713, durante a Guerra de Sucessão Espanhola(1701-1714), a fortaleza representou um marco da resistência francesa nas Américas. Esta guerra opunha praticamente toda a Europa contra franceses e espanhóis, por um medo europeu de uma aliança franco-espanhola, com a ascensão de Felipe D'Anjou(se tornaria Felipe V da Espanha) ao trono espanhol, após o rei Carlos II da Espanha morrer sem herdeiros diretos.</p>
<p>A Guerra de Sucessão Espanhola foi vencida pela França e a Espanha, mas deixou ambas bem destruídas. A Espanha perdeu sua hegemonia para sempre. E a França ainda teria problemas mais sérios à frente. Foi uma guerra onde se tentou frear a ambição megalomaníaca de Luís XIV, no geral sem sucesso por parte do continente europeu.</p>
<p>Ao término da Guerra de Sucessão Espanhola em 1714, os conflitos entre ingleses e franceses continuaram nas Américas. O forte do Cabo Bretão permanecia firme e forte em mãos francesas. Mas a Inglaterra era a melhor marinha do mundo, sendo assim eles travavam os navios franceses, com reforços atravessando o Atlântico. Em 1748 ele seria cedido à França pelo Tratado de Aix-la-Chapelle.</p>
<p>Em 1756 começou a Guerra dos Sete Anos(1756-1763), em que não só atingiu todo continente europeu, mas também Ásia, África e América do Norte. Antes de lados opostos, agora França e Áustria seriam aliadas num pacto anti Protestante, contra a Prússia e a Inglaterra. Porém, na prática, foi o rei Frederico II da Prússia sozinho contra Áustria(e depois a Rússia) em solo europeu. Isso porque França e Inglaterra resolveram concentrar seus esforços nas batalhas das colônias da Índia e da América do Norte.</p>
<p>Sabendo do pacto franco-austriaco, a Inglaterra firmou o Tratado de Westminster com a Prússia de Frederico II. Mas a ajuda inglesa era resumida a poucas tropas e empréstimos financeiros ao rei prussiano. Na prática, em território europeu, Frederico II estava sozinho.</p>
<p>Frederico conseguiu grandes vitórias porque possuía excelentes generais. Além disso, a França procurou defender suas colônias nas Américas, contra os ataques ingleses. Mas perderam definitivamente a Índia e, em 1758, perderam o forte Roayle para os britânicos definitivamente.</p>
<p>O Tratado de Paris, em 1763, dava vitória à aliança anglo-prussiana. E também entregava definitivamente o forte do Cabo Bretão aos ingleses.</p>
<p>Encerrada a Guerra dos Sete Anos, as consequências viriam para vencidos e vencedores. A França ainda ajudaria os revoltosos colonos da América contra os ingleses em 1781. Mas a ajuda sairia cara, com a queda da monarquia francesa e a instauração da Revolução Francesa em 1789. Já o império Britânico sairia exausto de todas as guerras do século XVIII, mesmo tendo ganho a Índia e o Canadá dos franceses. Sua exaustão seria a porta aberta para a independência de uma de suas colônias, que logo se tornaria a maior potência militar do planeta: Os Estados Unidos da América! Mas isso já é outra história…</p>
Gustavo Pedrozahttp://www.blogger.com/profile/15982321070169803360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4322194361971823951.post-26351514247747726732022-07-11T06:24:00.003-03:002023-02-17T21:43:59.412-03:00Há meio século atrás<p>Hoje faço meio século de idade. Já é metade de um transcurso de uma vida, muitas vezes desperdiçada, muitas vezes vivida. Sinceramente, tenho um pouco de inveja da geração atual, que tem um mundo mais livre à sua frente, não tendo que lidar com as matutices do passado, ao estilo anos 70, anos 80. Naquela época, muitas coisas hoje aceitas, foram rejeitadas. Era o mundo do "politicamente incorreto", como muitos hoje têm saudades. Eu não tenho. A antiguidade cultural cobra seu preço. Os tempos mais sombrios, enegrecidos pelo fantasma da religião e seus dogmas, do achar que esses dogmas cabem não só as pessoas que professam aquela fé, mas a toda sociedade civil. Esses dogmas se misturam a medicina, psicologia e educação. Trazem benefícios e transtornos para as pessoas que são afetadas por isso. Quantas e quantas vezes vemos vídeos na internet que buscam a nostalgia de tempos passados. E a maioria vem de pessoas nascidas nos anos 80, no mínimo, ou anos 90. Poucos que nasceram nos anos 60 e 70 comentam tais coisas, pois sabem o quanto era difícil. Pessoas eram expulsas de escolas e ambientes de trabalho, por coisas que hoje se curariam com remédios ou psicoterapia. Enfim, o passado nunca foi o ideal para quem vislumbra o futuro.</p>
<p>Quando atingi os meus 12 anos de idade fui colocado, contra a vontade, numa psicoterapia e, para pegar uma espécie de atestado de sanidade mental, frequentei a mesma para ter permissão de continuar na escola. Um dia essa violência há de ser corrigida. Foi exigido de mim que eu conquistasse uma companheira, condição sine qua non que seria parte das exigências requeridas de qualquer homem. Isso fez eu arrumar minha primeira namorada aos 16 anos, que era uma amiga de infância. O namoro só durou enquanto havia paciência contra o preconceito(que era muito forte nos anos 80). Mas preconceito contra o quê? Talvez contra os nerds, os anti sociais da época. Essas coisas não eram bem aceitas no Brasil da época. Hoje estão mais light nesse quesito. Quando terminou a terapia, o namoro terminou em seguida, pois um só existia por causa do outro. Um ano depois, eu entrei no relacionamento amoroso mais fantástico(e tenso) da minha história. Este deixaria marcas que fariam eu me achegar a Deus, pois a separação foi muito traumática, com interrupção de amizade e tudo. Nunca mais a vi, até hoje, 32 anos depois. Foi a mulher que mais amei na vida.</p>
<p>Nesta mesma época, um amigo da esfera religiosa, e hábil em matérias exatas, fez com que eu me tornasse conservador, tanto na economia como nos costumes. Na época, ganhei admiração por homens como Edmund Burke(1729-1797), Russel Kirk(1918-1994) e Leo Strauss(1899-1973), um conservador teuto-americano que era absolutamente anti-Maquiavel. Uma coisa que eu jamais seria hoje em dia. O meu conservadorismo só duraria até dois ou três anos depois, quando percebi que a igreja tirava proveito disso por sua própria covardia. O cristianismo não só tinha medo que a esquerda assumisse o poder, mas também temia os liberais. Nestes dois ou três anos eu seria militante convicto. Assisti fitas VHS(quem lembra disso?) com palestras de Yuri Bezmenov(1939-1993), um ex agente russo da KGB, refugiado, e asilado, no Canadá, que falava sobre Nova Ordem Mundial e Marxismo Cultural. Praticamente deixei de ser conservador na morte dele. Se ele soubesse de vários trumpistas, hoje em dia, dizendo que Vladimir Putin é conservador, com certeza se reviraria no túmulo.</p>
<p>Meu estilo de vida era de um conservador até 1993. Estudei num colégio da FAB de 1985 até 1988. Vi o esqueleto do então caça AMX-1 na Base Aérea dos Afonsos, antes de ser montado. Isso em 1987 e 1988. Era vidrado em biologia molecular e história medieval, assim como comecei a me aplicar em Física termodinâmica e Teologia sistemática. Nada poderia mudar este curso da história. Mas mudou.</p>
<p>Em 1995 eu mudaria para o interior do estado do Rio de Janeiro, no distrito de Cabuçu, baixada fluminense. Ali a população não conhecera a minha história anterior. Não tinha porque contar que havia sido banido da escola de Teologia por ser darwinista, ou que já não era mais conservador desde 1993. A vida de todos mudam, e a minha não seria diferente. Neste novo contexto tive dois relacionamentos: O primeiro que me deu minha filha e o segundo que durou longos 15 anos, no qual as marcas duram até hoje. Os anos na baixada fluminense foram passando e as tensões ficando mais intensas, por causa do meu comportamento eclético. Em 2007 eu descobri a Internet. De primeira, eu usava para pesquisar história e geografia do leste e norte da Europa, assim como sua história medieval e as ciências de engenharia genética do norte da Europa. Comecei a dar asas à modernidade de novo, após 14 anos fora da cidade grande. Em 2009, quando já estava no quarto ano do meu quarto relacionamento, conheci aquela que seria minha primeira rede social na vida: <i>O Bolsa de Mulher</i> ! Ali aprendi a colocar minhas palavras em textos, e adquiri até hoje o hábito da escrita. Ali descobri minha frase sobre liberdade, mas também foi devido a isso que meu último relacionamento ruiu como um castelo de cartas. Não me arrependo. Eu falo do (hoje já extinto) Bolsa de Mulher, site idealizado pela empresária gaúcha de mídias sociais Andiara Petterle, como o lugar onde conheci muitas amigas que durante muito tempo,que fizeram grande diferença na minha vida. Frequentei o site Bolsa de Mulher durante cinco anos. Mudou minha meta de vida. Tanto que em 2012 entrei para a faculdade, num campus de Química do IFRJ, em Duque de Caxias(RJ), mas nada substitui o Bolsa de Mulher como aprendizado filosófico de vida.</p>
<p>Na própria faculdade, eu teria como aplicar grandes conhecimentos que ganhei nos longos anos de autodidata na baixada fluminense. Ali no campus do IFRJ eu ganhei mais experiência nas artes do debate, mas nada que se equivalesse ao Bolsa. Porém a guerra cultural que ganhava corpo no Brasil iria exigir de mim a aplicação em breve de todo esse aprendizado. Guerra esta em que os conservadores fazem igual a extrema esquerda fazia no passado, demonizando qualquer um que não seja conservador, até mesmo os liberais, os quais muitos conservadores chamam de idiotas úteis. Uma guerra que vitimou um bom homem chamado Marcelo Arruda, no Paraná. Um homem que estava comemorando seus 50 anos, como eu hoje, mas que nem na vizinhança podia fazer isso, pois estava sob ameaça esquizofrênica constante.</p>
<p>Após o encerramento do Bolsa de Mulher em 2014, alastrei esse conhecimento para as demais redes sociais, para a faculdade e para a Igreja. Comecei a ter problemas, com destaque para as amizades da igreja e o meu relacionamento amoroso, que começou a ruir. Não demorou muito e comecei a ser cancelado pelo mundo cristão. Mas isso não era tudo. Meu Facebook virou um campo de batalha, onde tive postagens minhas que apareceram 400 respostas. Uma guerra sem fim, onde conhecidos e desconhecidos me xingavam de tudo que é nome. O prejuízo foi tanto que resolvi encerrar a conta definitivamente do meu 1° Facebook em dezembro de 2018. Mas tirei um lucro disso. Em um dos meus mais bizarros debates no Facebook na página de uma amiga, uma outra pessoa vislumbrou meu perfil me enviou convite pelo WhatsApp. Isso aconteceu no entardecer do meu perfil do Facebook, antes de encerrar com ele de vez. Era uma nova amiga que surgiu em minha vida para os tempos que viriam, que me acompanhou na pandemia, e nos momentos de maiores confissões mútuas. Tanto que, mesmo um novo relacionamento que eu tenha, não pensaria que a nova pessoa não a aceitasse no meu círculo de amizades.</p>
<p>No início de 2020, eu deixei a baixada fluminense depois de 25 anos. Relacionamento amoroso terminado(e quase a amizade também), várias amizades abaladas pelos choques que tiveram comigo, embora algumas amizades ainda se encerraram. Em 2019 eu fiz um novo perfil de Facebook, e em 2020 criei também um perfil no Twitter. Tudo isso era um prenúncio de uma nova estrada, e a certeza absoluta de que nada do mundo conservador vale a pena. É uma luta inglória onde todos chamam todos de traidores, quando a coisa aperta. Por isso que não trouxe várias daquelas amizades cristãs para este novo perfil. Só minha nova amiga basta neste contexto. Uma amizade que me apareceu no entardecer da vida, para instruir nas vozes da experiência. No perfil antigo, tanto atacava ideias, como fui atacado. Os conflitos de ideias aconteciam. Agora sou da paz. Mas essa paz tem um preço. E não preciso dar satisfações para aqueles que me tinham como 'apóstata' ou 'blasfemo' do cristianismo. Não necessito mais explicar tais coisas a pessoas que parecem ter um raciocínio roceiro.</p>
<p>Sou protestante anabatista. Se alguém quiser, explico historicamente a origem disso. Quanto a "ser de esquerda" ou "ser de direita", não creio mais nessas definições, pois colocaram pautas morais nelas, coisa que faria o próprio Voltaire se virar no túmulo. Sou livre dessas amarras. Minha visão de século XXI vai bem mais longe. Termino esse texto com a frase que criei no Bolsa de Mulher no final de 2010, a qual serviu de molde para o resto da minha vida natural :<b> Nenhuma união vale o preço da minha liberdade!</b> </p>
<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgfpvLTREqvovhLnlWFuGB59Rgt1O0qYco8ub2LAO3Onu7E5K03uAqqVkABZJfHyojplx-P0f94EBHh8LVI18xXgFAqAfj7vlzJn8hlU7gDZ-SHqDGSbtGrccEvIEJChfb4Fa1iV_sosfoBXJWtSQeNcuZgagqaxHaFM51k9gDvJBCDQDZ-p1obelH0/s600/50%20anos%20em%20louros.jpg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" width="320" data-original-height="600" data-original-width="600" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgfpvLTREqvovhLnlWFuGB59Rgt1O0qYco8ub2LAO3Onu7E5K03uAqqVkABZJfHyojplx-P0f94EBHh8LVI18xXgFAqAfj7vlzJn8hlU7gDZ-SHqDGSbtGrccEvIEJChfb4Fa1iV_sosfoBXJWtSQeNcuZgagqaxHaFM51k9gDvJBCDQDZ-p1obelH0/s320/50%20anos%20em%20louros.jpg"/></a></div>
Gustavo Pedrozahttp://www.blogger.com/profile/15982321070169803360noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4322194361971823951.post-13167104436470387372021-12-31T08:33:00.002-03:002021-12-31T12:06:56.201-03:00A Sereníssima República de Veneza: Dezesseis séculos da rainha do Adriático <p>Quem nunca ouviu falar dos canais de Veneza? A sereníssima república italiana que já foi sede da maior frota naval do mundo, em fins da idade média e início da idade moderna? Neste ano, que se completam dezesseis séculos de sua fundação(de acordo com a tradição cristã), além de 450 anos da famosa Batalha de Lepanto, este texto vem tratar de sua história, assim como seus dias de glória. </p>
<p>Até a fundação da República da Itália, no final do século XIX, Veneza era uma república independente que foi o nascedouro das maiores riquezas do ocidente. Fazendo alianças com muitos no decorrer da História, desde ligas católicas até sultões turcos, Veneza era prática em suas políticas e alianças. Tanto que participou da Quarta Cruzada, invadindo Constantinopla e deixando mais frágil o cristianismo ocidental e oriental, em relação ao mundo islâmico. Não havia limites para suas políticas de alianças. Seus personagens compatriotas foram heróis ou polêmicos. Desde o viajante Marco Polo do século XIII, até o galanteador Giacomo Casanova, no século XVIII. Veneza desde muito tempo já era a rainha do mediterrâneo e do Adriático.</p>
<p>Veneza desenvolveu-se ao longo do Grande Canal. De um lado a outro, era antes uma lacuna de quase 60 mil hectares, com 90% recoberto por água. Ali, habitantes de Pádua e Áquila se refugiaram dos ataques de godos e lombardos nos séculos V e VI, quando, pela tradição histórica e religiosa, foi fundada.</p>
<p>Veneza foi, tradicionalmente, fundada em 25 de março do ano 421, quando teria sido colocada a primeira pedra de fundação da igreja de San Giacomo di Rialto, na principal ilha da cidade. Isso é objeto de controvérsia histórica até hoje. Em pleno século XVIII, Veneza possuía cerca de 118 ilhas, 170 canais e é interligada por mais de 400 pontes.</p>
<p>Numa época de invasões bárbaras, a cidade marítima parecia um refúgio certeiro. Por volta do século XVIII já contava com 70 igrejas. Isto numa época pós reforma Protestante e pós Concílio de Trento, que tentou frear o culto de relíquias, onde se sabia que o corpo de São Marcos teria sido trazido do Egito até Veneza no século IX.</p>
<p>Durante a idade média, a Veneza católica fez comércio com quem pôde: Judeus, árabes, turcos, chineses e mongóis. Tudo em nome do capital. O viajante Marco Polo, e seus parentes, tiveram o empreendedorismo de viajar à China no século XIII. Mas eles foram os primeiros europeus a pisarem na China? Não. Desde pequenos aprendemos que o primeiro europeu a pisar na China foi Marco Polo, mas não foi. O primeiro europeu a pisar na China foi o mercador judeu italiano chamado Jacob D'Ancona. Ele esteve na China ainda sob a dinastia Song, vindo a mesma cair sob o ataque dos mongóis. Escreveu o livro chamado Cidade da Luz, de relatos do oriente bem mais precisos que o veneziano Marco Polo.</p>
<p>Durante a baixa idade média, Veneza alianças e quebra de alianças com muitos, ao sabor de seu comércio. Teve mercadores como Romano Mariano, que desenvolveu atos lucrativos, e tensos, com o império bizantino. Participou da coroação de deposição de vários imperadores de Bizâncio, tomou parte do saque de Constantinopla em 1204, e também de Zara na região dálmata. Como o imperador foi deposto, e o que assumiu não queria negócios com o ocidente, então o pacto com Bizâncio foi quebrado. Veneza socorreu os turcos sobrevivente da batalha perdida contra os mongóis de Tamerlão e, principalmente, compôs a maior parte da frota da Batalha de Lepanto(1571), com a chamada Santa Liga, que se formou para vencer os turcos, após longas ameaças piratas turcas no mediterrâneo. Ou seja, Veneza podia ser comercial, ou guerreira, quando queria.</p>
<p>Os primeiros doges de Veneza eram colocados pelo império bizantino. Depois o cargo passou a ser eletivo. No início do século XVI, Veneza possuía um arsenal naval de fazer inveja, só superado por Portugal. Mas o esquema de montagem era o que chamava a atenção. Empregava cerca de 5 mil trabalhadores e 150 embarcações. Os mastros e demais partes eram numerados, para facilitar a montagem rápida, no caso de um ataque à República.</p>
<p>Veneza teve várias peculiaridades em meio a península italiana. O Carnaval de Veneza, por exemplo, é bem mais extenso e longo que o Carnaval que temos hoje, que é fruto da Roma pagã, anterior às conversões Cristãs. O Carnaval veneziano teve origem no século XI, no governo do doge Vitale Falier(1084-1096). Nos séculos seguintes teria personagens nada ortodoxos(mas paradoxalmente bem conservadores) como Giacomo Casanova(1725-1798), conhecido graças a sua obra Memórias em 12 volumes, como um dos mais libertinos da História.</p>
<p>No século XVIII e, com o advento de Napoleão Bonaparte, Veneza só era uma sombra do que havia sido. Passou a ser objeto de disputas entre os franceses e o Império austríaco. Houve tentativas de incorporação da República por parte de potências franco-austríacas, isso até o Tratado de Veneza em 1866, quando a República foi incorporada à recém unificada nação italiana.</p>
<p>Veneza se manteve independente enquanto pôde. Até ver que seria muito melhor estar incorporada a uma nação recém formada. Sendo assim, a glória da antiga rainha do Adriático seria incorporada às glórias unificadoras de Giuseppe Garibaldi…</p>
<b>Leão de São Marcos, em Veneza</p><div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhQOUw9i44PidaFH9S3N-ysQlNdbnXgspolJ3BDjTmpnosOV6wcLtCkCvJ2v4prymjOKcZrNTmnikDk2SWYxsDq650wegEZhwcFzXwqx8P24C3HX9OtNcktruqZ4l5Caw6CT1nkVK5YToo6ZKPCv2pFtl26JcKgUeN382PE1EvTz1ATLWacxJxKetr0=s678" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" width="320" data-original-height="452" data-original-width="678" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhQOUw9i44PidaFH9S3N-ysQlNdbnXgspolJ3BDjTmpnosOV6wcLtCkCvJ2v4prymjOKcZrNTmnikDk2SWYxsDq650wegEZhwcFzXwqx8P24C3HX9OtNcktruqZ4l5Caw6CT1nkVK5YToo6ZKPCv2pFtl26JcKgUeN382PE1EvTz1ATLWacxJxKetr0=s320"/></a></div>
<p><b>Referências Bibliográficas</b></p>
1. HOQUET, Jean-Claude. A serenísssima república de Veneza:Mil anos de prosperidade e esplendor. Ensaio: A República onde os mercadores eram heróis, São Paulo. Ano I, nº9. Julho de 2004.</br>
2. História de Veneza, a Sereníssima: https://www.youtube.com/watch?v=Ap4xPhSggcU&t=6322s
Gustavo Pedrozahttp://www.blogger.com/profile/15982321070169803360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4322194361971823951.post-31879847514538804352021-11-30T13:12:00.004-03:002021-11-30T20:18:06.670-03:00A FERRO E SANGUE ÀS MARGENS DO RENO <p>Quando estudamos sobre povos germânicos, nem fazemos ideia da dimensão que envolve este nome. Este ano se recorda os 150 anos de fundação da nação alemã. Quando nasceu esse país que hoje chamamos de Alemanha? Esse país, com esse nome, sempre existiu? É óbvio que não.</p>
<p>Em história, nem tudo é o que parece. O que existia no passado, desde tempos remotos, eram povos germânicos, que em sua maioria vieram da região de Gotland. Esta seria a região que se estende desde Malmo, ao sul, até aos lagos setentrionais Vener e Veter. O Veter delimita a separação entre Ostergotland(gotland do leste) e Vastergotland(gotland do oeste). Daí os nomes de alguns povos germânicos Ostrogodos(godos do leste) e Visigodos(godos do oeste). Praticamente todas as fontes primárias que temos, a nível de documentação, sobre os povos germânicos, vieram de gregos ou romanos. O termo bárbaro, por exemplo, veio do modo como os gregos chamavam esses povos. Como falavam um idioma não conhecido por eles, assim os greco-latinos os apelidavam.</p>
<p>Entre os grupos germânicos que dividiram a Europa entre si, se destacam os <i>Alamanos</i>, ou <i>Allemanni</i>, como diriam os antigos romanos. E também os francos. Desses dois povos, principalmente, que surgiria a futura nação alemã, além de pequenas contribuições de saxões, bávaros, suevos e teutões. O significado do nome, que aparece em sua forma latina Alamanni, e mais tarde também Alemanni em 289 d.C., é, de acordo com a visão germanista predominante, uma combinação do germânico ala- "todos" e manōn- "homem, homem". No entanto, o significado original desta composição é controverso. Muito provavelmente é a nomeação de "em aventuras bélicas uma nova tribo", que "se autodenominava Alemanni (ou era chamada assim) porque quebrou as antigas conexões tribais e estava aberta a todos que quisessem participar". Esta interpretação é apoiada pela interpretação do historiador romano Asinius Quadratus , que explica o nome como "pessoas que se juntaram e se misturaram". O surgimento dos Alemanni pode ser visto como um crescimento conjunto de seguidores, grupos familiares e pessoas individuais de diferentes origens. Outra interpretação do nome diz que "todas as pessoas", no sentido de "pessoas inteiras", "pessoas plenas", significava que a designação servia para representar todos os povos germânicos.</p>
<p> A história alemã, em princípio, se mistura não só com os franceses, mas com os austríacos. O termo <i>"Suábia"</i>(que remonta aos Suevos, mencionados nas primeiras fontes romanas) desenvolveu-se como sinônimo de "Alemanni" ou "Alemannien", no final da Idade antiga, e os substituiu no decorrer da Idade Média. O termo <i>suábios</i> seria, no decorrer da idade média, usado para designar os austríacos.</p>
<p>A queda do império romano foi causada por uma série de fatores(entre os quais o gigantismo do império) que apareceram a partir do século III. Crises de generais militares das legiões no poder. Após a morte do imperador Alexandre Severo, em 235 d.C., generais se alternavam no poder. Mas a disputa era letal: Em 50 anos houve 43 imperadores, donde 37 pereceram de morte violenta. Enquanto isso, na Bretanha, as legiões seriam retiradas por mais um general que queria se tornar imperador. Quando o dito cujo deu com os burros n'água, os bretões se cansaram e abriram mão de Roma, se tornando independentes. Parecia ousadia demais dos bretões. E era mesmo. Logo a maré germânica iria devorar a Ilha também. Até o final do século V, toda a Europa estaria dividida entre os vários povos bárbaros que invadiram o império. A maioria germânica, vinda do norte da Europa.</p>
<p>A partir do final do século V a Europa já não era mais romana. Vários grupos repartiram o continente entre si, mas dois grupos, em particular, seriam a base dos alemães, além dos suábios: Os Allemanni e os Francos. Destes dois nasceriam a Alemanha e a França do futuro.</p>
<p>Nem sempre a repartição dos países europeus que conhecemos hoje foi assim. Quando o reino franco do rei Clóvis se sobrepôs ao reino Visigodo da Península Ibérica, durante o século VI, a França de hoje ainda não existia. O reino franco se dividia em Nêustria, Austrásia, Suábia(mãe da Áustria atual), Borgonha(anterior terra dos burgúndios, que se tornaram vassalos dos francos), Provença e Turíngia(mais tarde foi incorporado ao território alemão). Os Alamanos se fixaram na Suábia, o que faz de alemães e austríacos, conterrâneos. Mas também estes eram vassalos dos francos. Na verdade, depois que os francos, durante o O reinado de Clóvis, superaram os Visigodos, praticamente todos os povos germânicos seriam seus vassalos.</p>
<p>Foi preciso esperar toda a dinastia Merovíngia passar para os francos serem, finalmente, o maior reino da alta idade média. No século VIII subia ao trono franco um nome que iria virar lenda: Carlos Magno! Um gigante para sua época, tanto em altura, como em ousadia. Analfabeto até os 32 anos, porém desenvolveu o maior renascimento cultural de toda a idade média, só perdendo para o que ocorreu do século XIV em diante, a partir das repúblicas italianas. Seu reinado, que cobriria as atuais regiões da França, Alemanha, Países Baixos, Hungria, Itália, Áustria e parte da Espanha. Foi o pai da Europa, sem dúvida. Mas aqui trataremos dele como pai da futura nação germânica. Sua própria capital imperial, conhecida na época como Aix-la-Chapelle, em território belga, hoje a cidade de Aachen, se localiza na atual Alemanha. Porém a Alemanha que conhecemos ainda não existia. Como território definido estava perto de brotar. Mas como nação ainda levaria cerca de onze séculos.</p>
<p>Na morte de Carlos Magno, no ano 814, e ascensão de seu filho Luís(chamado o piedoso) o império franco se enfraquece. Os três filhos de Luís repartiram o império após a sua morte. Lotário, filho mais velho de Luís, se autodeclarou herdeiro, por ser o mais velho, mas seus dois irmãos não aceitaram e dividiram o império em três. Carlos, o calvo; Luís, o germânico e Lotário assinaram o Tratado de Verdun em 843, repartindo o reino entre eles. Lotário I herdou a parte central, Carlos a francia ocidental(que viria a ser a França) e Luís a Frância(ou Francônia) oriental, que viria a ser a futura Alemanha, que na idade média seria o Sacro Império Romano.</p>
<p>Do tratado de Verdun nasceu a Francônia Oriental. Mas esse país, e Reino, só viria a ser plenamente dividido a partir do ano 911, quando sobe ao poder Conrado I da Francônia. Aqui, pela primeira vez, a Francônia Oriental se tornou separada do império Carolíngio como o conhecíamos, para virar o Sacro Império Romano, só deixando de existir em 1806, por causa da expansão imperialista de Napoleão Bonaparte.</p>
<p>Desde a morte de Carlos Magno que o poder real das monarquias medievais vinha caindo. E tudo isso se iniciou com o império franco. Após o Tratado de Verdun, já no ano 877, o rei Carlos, o calvo, baixou a capitular de Quirzy-sur-Oise, que estabelecia o princípio de hereditariedade dos feudos. Isso foi um golpe nas monarquias dos reinos francos. E Carlos talvez só o tenha feito por pressão dos nobres, pois já estava próximo a sua morte. E tal medida atingiu, também, o reino germânico do chamado Sacro Império Romano, que já nasceu transformado.</p>
<p>Extinta a dinastia Carolíngia do reino germânico a partir do ano 911, o chamado Sacro Império Romano nasceu ali. Os duques germânicos da Francônia, Saxônia, Suábia e Baviera fundaram uma monarquia efetiva, onde o imperador seria um dos duques, eleito pelos outros três.</p>
<p>Mas surpresas para o dito imperador ainda viriam. Este tinha o poder de escolher os bispos alemães. Desde Oto I que o imperador investia bispos e abades de terras, pois assim tinha controle sobre os duques que o elegeram. Assim, o clero alemão formava dois terços das terras do império, fornecendo ao imperador tropas e dinheiro suficiente para não depender do controle dos duques. Além disso, poderia escolher até o papa. Porém o papa Nicolau II fundou o colégio dos cardeais no século XI. Este passou a ter o poder de eleger os papas, sendo este o primeiro golpe nos imperadores alemães. O imperador Henrique IV encrencou com isso, na chamada Querela das Investiduras, sobre o poder que teria o imperador de investir bispos e o papa. Isso gerou uma crise entre o imperador e o papa Gregório VII. Esse conflito durou até 1122, com a Concordata de Worms, onde o papa ficaria com a investidura espiritual dos bispos, e o imperador com a investidura secular. A eleição do papa ficaria restrita ao colégio de cardeais.</p>
<p>Com todas essas transformações, o sistema de eleição clerical dos imperadores germânicos chegaria ao fim. Os bispos alemães não seriam mais funcionários do estado, mas sim vassalos do império. Ao mesmo tempo que grandes partes das terras alemãs passaram para o controle da igreja, pois os bispos não as devolveram ao imperador. Sem controle sobre os bispos, os imperadores alemães perderam controle sobre os duques. E assim o chamdado <i>Sacro Império Romano Germânico</i> seguiria fragmentado por toda a idade média.</p>
<p>No século XIII ascendeu, na Europa central, uma dinastia originaria do cantão suíço de Argovia, numa ruína castelar, próximo a um afluente do Reno. Uma dinastia que governaria na Europa Central até a 1ª guerra mundial: Os habsburgos! Aqui iniciou o reinado, no Sacro Império Romano, Rodolfo Habsburgo, que curiosamente nunca foi coroado imperador pelo papa. Eleito pelos príncipes eleitores do Império, fez valer a neutralidade religiosa em relação ao papa, que imperadores anteriores sonharam. Um Império que, segundo Voltaire, não era nem sacro, nem império, nem romano. Ao menos esta seria a impressão que o maior Império europeu passava em pleno século XVIII. Mas na idade média isso não era previsível.</p>
<p>No século XVI o Sacro Império Romano se tornou aquele que, literalmente, o sol nunca se punha, como se dizia na época. Com Espanha e suas colônias,das Antilhas às Filipinas, estendiam o império a longas vistas. Ainda tinha a Alemanha(que ainda não existia com nesse nome, ou país), Áustria, Hungria e Europa Central em geral sob os tentáculos dos Habsburgos, que alcançaram sua glória através de laços de casamentos.</p>
<p>Nesta época houve um detalhe que golpeou a glória dos habsburgos no coração: <b>A Reforma Protestante</b>! O imperador Carlos V tentou deter seu ímpeto, mas o protesto dos Príncipes convertidos, principalmente Maurício da Saxônia, que cercou o castelo do imperador, fazendo o mesmo fugir no meio da noite, não permitiu que os objetivos de um imperador católico fossem alcançados. E ainda havia os turcos. Uma maré otomana começou a invadir a Europa, inclusive sitiando Viena, coração do império. O protestantismo era a menor das preocupações do imperador, que morreu na metade do século XVI sem conseguir a tão sonhada unidade religiosa, que naquela época era união política. É bom lembrar que na idade moderna não havia essa noção de estado laico como hoje conhecemos. Acomodações eram possíveis, mas tolerância religiosa era pedir demais ao povo daquela época.</p>
<p>O golpe fatal na aparente unidade do Sacro Império foi a <i>Guerra dos Trinta Anos(1618-1648)</i>. Esta guerra terminou com a vitória Protestante e da França católica, onde esta estava dirigida pelo cardeal Richelieu, um católico que não viu nenhum problema em se aliar aos protestantes só para derrubar os habsburgos. O resultado final, com derrota não só para os católicos, como para o Sacro Império, trouxe 20 milhões de mortos que a Europa central e o Sacro Império só conseguiram recuperar cem anos depois. Esfacelou a unidade política e religiosa do imperador, fazendo uma Europa central dividida entre os poderes das casas dos Habsburgos e dos Hohenzollern. Deixou marcas profundas no território alemão, com traumas que se fizeram sentir até a ascensão do Terceiro Reich.</p>
<p>No século XVI a Reforma Protestante daria à nação alemã um grande passo em sua formação. Como fruto da Reforma, nasce o ducado da Prússia. Este seria o primeiro principado protestante da História. Alberto, que foi o 37° grão mestre dos cavaleiros teutônicos, fundou o ducado como um estado luterano, através do Tratado de Cracóvia, em 1525, após a sua conversão. Este principado duraria até meados do século XVII, quando deu origem ao Reino da Prússia, que seria fundamental para a unificação alemã.</p>
<p>O reino da Prússia nasce em Janeiro de 1701, com Frederico III de Hohenzollern, príncipe Eleitor de Brandemburgo, que se tornaria Frederico I da Prussia. Aqui neste reino que surgiria Frederico II da Prussia, filho de Frederico I, que viria a ser uma lenda militar do século XVIII, o herói da Guerra dos Sete Anos(1756-1763). Neste conflito, a Prussia manteria a Silésia para si, frente a agressão dos austríacos, o que fariam o impossível para tomar posse dessa província. O reino da Prussia seria fundamental para a independência e a autonomia do estado alemão. Dali sairia um estadista que iria virar símbolo nacional. Um homem firme, que faria acordos, alianças e traições, entre franceses, prussianos e austríacos: <b>Otto Von Bismarck</b>! Defendia a unificação alemã pela força. Ele, assim como os <i>Junkers</i>, dizia que este processo deveria <i>ser feito a ferro e sangue.</i></p>
<p>No início do século XIX, Napoleão Bonaparte acabou com o pouco que restava do Sacro Império Romano. Em 6 de agosto de 1806 o imperador da Áustria, Francisco I, renunciou ao trono do <i>Sacro Império Romano Germânico</i>, fundado por Oto I cerca de mil anos antes. Era a última consequência dos tratados de Luneville e de Presburgo, decorrentes um e outro das derrotas dos Habsburgos ante as ofensivas francesas de Napoleão. O Sacro Império, e o mapa da Alemanha, resultado dos tratados de Vestfália, já haviam sido amplamente modificados em seguida ao processo verbal imposto à Dieta germânica pelo Primeiro Cônsul francês, Napoleão Bonaparte, em 25 de fevereiro de 1803.</p>
<p>Entrevendo o desaparecimento iminente do Sacro Império, o imperador Francisco II de Habsburgo reagrupa os Estados hereditários da família Habsburgo-Lorena – os únicos sobre os quais mantinha uma autoridade real. Em 11 de agosto de 1804, se atribui oficialmente o título de Imperador da Áustria e Rei da Boêmia e da Hungria sob o nome de Francisco I.</p>
<p>Tomando consciência da existência real dessa nova conjuntura institucional, o imperador da Áustria Francisco I abole o velho título imperial, herança de Oto I. Sem perdurar também por muito tempo, o novo império da Áustria, essencialmente implantado na bacia do Danúbio, e em torno de Viena, conheceria belos tempos antes de desaparecer um século depois, como consequência do resultado da 1ª Guerra Mundial.</p>
<p>A unificação alemã começou como um fenômeno prussiano. Então nada mais natural que se mencione os conflitos daquele país no final do século XIX. Então o fenômeno alemão é, em primeira instância, prussiano. O reino da Prússia no final do século XIX era uma potência econômica e militar, mas não a altura de Áustria e França. Então, para crescer, precisava tirar esses dois do seu caminho.</p>
<p>Para realizar esse prodígio, ninguém melhor que o premier da Prússia, Otto Von Bismarck. Era um mestre da Realpolitik de Maquiavel. Com arrogância e violência, conseguiu defender a monarquia dos Hohenzollern contra os liberais e nacionalistas que queriam a unificação da nação alemã, para depois defendê-la com mãos de ferro. Em 1862 foi nomeado por Guilherme I da Prússia para os cargos de primeiro ministro e chanceler. Conseguiu acabar com o domínio austríaco sobre os estados do norte alemão, além de conseguir isolar a grande inimiga da Prússia, a França. Nisto resultou a unificação alemã. Em 1890 teve seu afastamento decretado pelo Kaiser Guilherme II, que exigiu a renúncia do grande <i>Chanceler de Ferro</i>.</p>
<p>Bismarck nunca superou ser descartado pelo jovem príncipe. Entre 1871 e 1914, na Europa não ocorreu nenhuma guerra importante. E boa parte disso se deve a Bismarck. Em 1918 o império alemão, erguido por Bismarck, estava em ruínas. Guilherme II foi para o exílio. E assumi a República de Weimar os maiores inimigos de Bismarck: Os socialistas! Por causa dessa mudança, os alemães acabaram se tornando bastante xenófobos, dando origem ao nazismo e ao Terceiro Reich, colocando a Alemanha na 2ª guerra em 1939.</p>
<p>No início do século XX, a Alemanha de Bismarck possuía vários inimigos, entre os quais ingleses e franceses. A conquista da Namíbia, na África, frustrou os planos ingleses de construir uma ferrovia que atravessasse o continente. E, obviamente, esses acordos imperialistas não seriam resolvidos numa mesa de negociação. Seria com explosivos, gases venenosos e tanques: A primeira guerra mundial! Para se ter uma ideia de como os alemães eram incômodos, basta ver a declaração de um jornal inglês do final do século XIX, em relação à Alemanha: <i>"Se a Alemanha fosse extinta amanhã, depois de amanhã não haveria um só inglês no mundo que não fosse rico. Nações lutaram durante anos por uma cidade ou um direito à sucessão. Não deveríamos lutar por um comércio de 250 milhões de libras? A Inglaterra deve compreender que constitui sua mais grata esperança de prosperidade. A Alemanha deve ser destruída." </i></p>
<p>A 2ª guerra mundial foi continuação da anterior. Seguiram os rancores anteriores, principalmente devido a disputas coloniais, ou territoriais, como Alsácia e Lorena. Acrescido a isso, veio os regimes ditatoriais, anti comunistas, onde o capitalismo não estava plenamente desenvolvido. Países maduros economicamente, como França ou Império Britânico, não seriam seduzidos a isso.</p>
<p>Ao fim da segunda guerra, o Tratado de Potsdam dividiu a Alemanha em quatro zonas de influência: Reino Unido, França, EUA(formando a Alemanha Ocidental) e U.R.S.S.(formando a Alemanha Oriental). Era a época da Guerra Fria, termo cunhado pelo Premier do Reino Unido, Winston Churchill, para designar as tensões do pós-guerra.</p>
<p>A Alemanha iria se reerguer da destruição junto com o resto da Europa. Em 1986 o socialismo soviético dava sinais do fim. E, junto a ele, a separação das Alemanhas. As cidades Saarlouis e Eisenhüttenstadt celebram o primeiro convênio de cidades-irmãs entre as duas Alemanhas. Foram feitos acordos de ecologia internacional. O mundo estava mudando, e a Europa junto a ele. O pacto de Roma, em 1957, tratando de um comércio europeu unificado, estava começando a brotar.</p>
<p>Finalmente, em 9 de novembro, Harald Jäger, comandante da passagem de fronteira, cedeu, permitindo que os guardas abrissem os pontos de controle e deixando as pessoas passarem com pouca ou nenhuma verificação de identidade. Logo depois, uma multidão de berlinenses ocidentais pulou em cima do muro e logo se juntou a jovens da Alemanha Oriental. A noite de 9 de novembro de 1989 é conhecida como a noite em que o Muro caiu.Eu vi na TV ao vivo, na época. Lembro da emoção que foi.</p>
<p>A reunificação da Alemanha aconteceu em 3 de outubro de 1990, quando o território da antiga República Democrática da Alemanha (Alemanha Oriental) foi incorporado à República Federal da Alemanha (Alemanha Ocidental). A primeira-ministra do Reino Unido, Margareth Thatcher, nunca foi a favor desta reunificação. Sabia que isso produziria uma Alemanha forte. E, de fato, hoje a Alemanha é a âncora da Europa. Com empresas como BMW, Bayer, BioNTech, Faber-Castell e Volkswagen, a nação alemã vai longe. E, recentemente, com as pastas de economia e relações exteriores nas mãos de ecologistas de direita e esquerda, representará a perspectiva futura da humanidade.</p>
<p><b>Referências Bibliográficas</b></p>
1. GRIMBERG,Carl.<b> História Universal. Volumes 10 e 12</b>. Publicações Europa América. <i>Revista Semanário</i>. Santiago, Chile. 1989</br>
2.BURNS, Edward McNall. <b>História da Civilização Ocidental. Volume II</b>. <i>Tradução: Lourival Gomes Machado, Lourdes Santos Machado, Leonel Vallandro.</i> 21ª Edição. Editora Globo. Porto Alegre, RS. 1978.</br>
3.LOUTH, Patrick. <b>A Civilização dos Germanos e dos Vikings. Grandes Civilizações Desaparecidas</b>.Otto Pierre editores. Rio de Janeiro, RJ. 1979.</br>
4.BANFIELD, Susan. <b>Grandes Líderes: CARLOS MAGNO</b>. Nova Cultural. 1988.</br>
5.JONATHAN, Rose. <b>Grandes Líderes: BISMARCK</b>. Nova Cultural. 1988.</br>
<p><b>Bismarck, em 1858</b></p>
<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_4oUCt8wfBjPqgDoh2jzb1Aw-1WDZqhFroUSPqMG9MAiy-rJgtAXCPTNNvdhlLW0A4Yz0oaIhqI3Rg87W3H9eV5E9Mk1NaUg0I9OvSQXzkJeurk0unQMhjr14qTMScHp3opgIU1FBB14/s345/Otto%252Bvon%252Bbismarck.jpg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" height="320" data-original-height="345" data-original-width="267" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_4oUCt8wfBjPqgDoh2jzb1Aw-1WDZqhFroUSPqMG9MAiy-rJgtAXCPTNNvdhlLW0A4Yz0oaIhqI3Rg87W3H9eV5E9Mk1NaUg0I9OvSQXzkJeurk0unQMhjr14qTMScHp3opgIU1FBB14/s320/Otto%252Bvon%252Bbismarck.jpg"/></a></div>
Gustavo Pedrozahttp://www.blogger.com/profile/15982321070169803360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4322194361971823951.post-48119544178146081722021-11-22T17:36:00.003-03:002021-11-22T17:44:34.472-03:00Supremo Tribunal Federal: Os 130 anos da corte da República<i>"O Direito acompanha a História. E esta, por sua vez, é um romance que aconteceu."</i></br>
<b>Milton Duarte Segurado</b>
<p>O Brasil nasceu através do ato de um magistrado. Frei Henrique Soares de Coimbra, que celebrou a primeira missa do Brasil, tinha sido desembargador da Casa de Suplicação de Lisboa, uma espécie de STF português do século XV. Por isso, nada mais justo que homenagearmos esses 130 anos da fundação do nosso Supremo Tribunal Federal, que nasce junto com a República brasileira, mas que tem seu embrião no judiciário português do primeiro frade rezador de missa no Brasil.</p>
<p>A fundação da nossa corte suprema é recente. A ideia nasce com a vinda da corte portuguesa para o Brasil em 1808. Até esta data, as causas se resolviam na Casa de Suplicação de Lisboa, já mencionada anteriormente. Neste ano, nasce a Casa de Suplicação do Brasil. Já que o Brasil seria, dali para frente, por causa das tropas napoleônicas, sede do governo português, então esta mudança também se faria necessária.</p>
<p>Com a constituição de 1824, de um Brasil independente, a nossa Corte de Suplicação se torna o STJ em 1829. Este não seria o nosso STJ atual, mas sim o embrião do que viria a ser o STF. Os juízes desta corte não tinham a mesma autonomia do nosso STF. Não podiam questionar as leis aprovadas pelo parlamento, se eram constitucionais ou não. Este poder não lhes foi dado. Eles seguiam o modelo de juízes legalistas da Revolução Francesa.</p>
<p>Em 28 de fevereiro de 1891 nasce o nosso querido Supremo Tribunal Federal, que passa a funcionar provisoriamente na Rua 1° de Março, número 42, no atual Centro Cultural da Justiça Eleitoral, no Rio de Janeiro. Vindo a partir de 1909 a mudar sua sede para a Avenida Rio Branco, número 241, na cidade do Rio de Janeiro, então capital federal. Hoje este local abriga o Centro Cultural da Justiça Federal.</p>
<p>Como o Brasil passou de um estado unitário para uma federação, o STF passou a atuar para resolver os litígios entre os estados. Então o STF passou a funcionar mais nos moldes da Suprema Corte dos EUA, do que nos moldes do Tribunal de Cassação francês. A partir daí, passa a ter poder de contestar atos do governo, ou do parlamento, quando estes estiverem em desacordo com a Constituição.</p>
<p>Em 1892, quando o então presidente Marechal Floriano Peixoto decretou estado de sítio, por causa de uma revolta, o jurista Ruy Barbosa entrou com um pedido de Habeas Corpus no STF, alegando arbitrariedade aos deportados para a Amazônia, e outros que foram presos. Então o presidente falou algo em ameaça à Corte Suprema: "Os ministros do STF podem conceder Habeas Corpus, mas quem concederá Habeas Corpus pela prisão de ministros do STF?" O Habeas Corpus foi negado por 10 votos contra 1. Na tentativa de assassinato do seu sucessor, Prudente de Morais, em 1897, este presidente também decretou estado de sítio, mas daí o STF, encabeçado pelo ministro Lúcio de Mendonça, concedeu Habeas Corpus, soltando vários parlamentares presos, que foram acusados da conspiração. Mas a crise continuou até o mandato de Campos Sales. A lição que ficou a partir daí foi que governos passam, mas o judiciário fica.</p>
<p>Com a transferência da capital para Brasília, é inaugurado o STF na praça dos Três Poderes. Uma obra arquitetônica do fantástico arquiteto Oscar Niemeyer, que desenhou os três prédios, Planalto, Congresso e STF, como num triângulo. Uma geometria perfeita em construção.</p>
<p>Em 1968, já em regime militar, o Habeas Corpus foi suspenso. O STF teve o seu número de juízes aumentado para 16, para contrapor aos juízes de esquerda que o ex-presidente João Goulart havia indicado. Era a velha política, querendo uma corte composta por aliados do governo. Três ministros foram aposentados compulsoriamente: Hermes Lima, Vitor Nunes Leal(este deu nome à biblioteca do STF) e Evandro Lins e Silva, que era o mais novo na corte. Com o AI-6, em fevereiro de 1969, o número de ministros do STF se reduz a 11 novamente. O objetivo foi somente retirar os ministros "esquerdistas" de cena. Percebe-se daí que as tentativas de golpe em cima do STF não pararam na época da primeira república. Eles persistem até hoje, tendo presidentes querendo ajustar a corte às suas ideologias.</p>
<p>Com a abertura política, e a Constituição de 1988, as tensões se abrandaram. Em 2002 se inaugurou a TV Justiça, com apresentação do ministro Marco Aurélio. Mas as mudanças não pararam por aí. Com a condenação, e a alta repercussão, do proprietário da Editora Revisão, Siegfried Ellwanger, de 71 anos, em 2004 pelo STF, as coisas não ficaram bem frente ao público. Daí que tomaram a decisão de que as reuniões em plenário seriam ao vivo. A partir deste o momento que o STF passou a entrar na esfera de debates dos brasileiros.</p>
<p>A partir desse momento, as decisões importantes(algumas polêmicas) começaram a se suceder uma a outra. Em maio de 2008 o STF decide a favor das células-tronco, em relação a lei de biossegurança. Em março de 2009 foi a vez de defender a demarcação da Reserva Florestal Raposa Terra do Sol. Em abril do mesmo ano torna a Lei de Imprensa, do regime militar, inconstitucional. Em maio de 2011 é decidido a favor da união estável homoafetiva, o que gera repercussão nacional. E, finalmente em junho de 2019, é decidido pela criminalização da homofobia, até que o congresso normatize a questão.</p>
<p>Por essa e outras histórias, vamos valorizar a nossa Suprema Corte. Embora dois ou três tenham repertório corrupto, a maioria é honesta. E, sinceramente, se enraivecer porque um ministro vota contra moral e bons costumes, não é para gente sábia. Há os que enlouquecem por várias causas. Eu só luto contra o que me afeta. E a favor de tudo que beneficie ao ser humano.</p>
<p>Eu deixo a frase do ex-ministro Ayres Brito, do STF, ao dar seu voto a favor da união estável homoafetiva em 2011: <i>"Nós aqui concedemos um direito que não retira o direito de ninguém"</i>. Parabéns à nossa suprema corte.</p>
<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhvktL2AdYiz1e9xWe-p8XLpyvs5RyLx2E-Rp4Acau2_uw48XaUgjUNfkJvhNeU_I3PKEwWavATadxBkX17cs9RFuf2Eqmz1N48g-FQmH2Cb3AX6jUg06G2U1eyJTiKSQ2kh4sw1bhJDJQ/s1000/STF+e+os+seus+130.jpg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" width="320" data-original-height="500" data-original-width="1000" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhvktL2AdYiz1e9xWe-p8XLpyvs5RyLx2E-Rp4Acau2_uw48XaUgjUNfkJvhNeU_I3PKEwWavATadxBkX17cs9RFuf2Eqmz1N48g-FQmH2Cb3AX6jUg06G2U1eyJTiKSQ2kh4sw1bhJDJQ/s320/STF+e+os+seus+130.jpg"/></a></div> Gustavo Pedrozahttp://www.blogger.com/profile/15982321070169803360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4322194361971823951.post-40414855267634759422021-11-21T16:53:00.001-03:002021-11-21T16:53:46.222-03:00Imunidade de rebanho: isso existe?<p>Sim, existe. E como se alcança? Com vacinação, o único tratamento preventivo de imunização que se conhece. Não existe outro que se possa tomar, antes de contrair o antigeno que invade o seu corpo. O que nunca existiu é a possibilidade de se alcançar uma imunidade de rebanho em massa, por contaminação com a doença, a fim de que os corpos produzam anticorpos para uma próxima infecção, e assim gere defesa corporal para toda uma população. Isso realmente não existe.</p>
<p>Tratamento precoce, como muitos chamam, também existe. São tratamentos que se tomam no início da doença. São antibióticos(para doenças de bactérias ou infecções virais que atraem bactérias), anti virais(como remdesivir ou paxlovid) para viroses em geral, anti parasitários(como nitazoxanida ou ivermectina) para vermes e outros parasitas e os fungicidas(remédios contra fungos, causadores de micoses). Todos esses tratamentos precoces têm o seu lugar, que é bom não serem trocados. Pois seria igual a certas pessoas que usam certos legumes, como cenouras ou pepinos, para apimentar suas relações sexuais. Cuidado, pois podes estragar suas genitais, ou então a salada de alguém.</p>
<p>Voltando à imunização, um caso que se pode citar como exemplo foi a gripe espanhola, cuja pandemia foi no início do século XX, há mais ou menos 100 anos atrás. Ela terminou do jeito que deveria terminar, para convencer aqueles que essa imunidade não existe: Com a morte! A única maneira que se adquiriu a tal imunidade foi o caixão: Quase 50 milhões de mortos em dois anos!!! Só para comparar, nesses dois anos de covid 19, tivemos pouco mais de 5 milhões de mortes no mundo, até agora. Isso porque a taxa de morte pelo sars cov 2 é baixa, cerca de 0,8%. O sars cov 1, que atacou a China em 2002(mas não saiu dela) era bem maior que isso.</p>
<p>Em regra é o seguinte: Toda pessoa que adquire um vírus, ou já é resistente a ele, ou não é. Se não for, e não for tratada com anti virais adequados, morre! Outras, que passam pela doença, se tratando ou não, e sobrevivem, o corpo(que já era resistente) desenvolve os tais anticorpos. A explicação disso é a seleção natural. Não existem pessoas que "se tornam resistentes". Existem as que são, e as que não são. As que não são, morrem! E foi isso que ocorreu na gripe espanhola. Portanto, para crer nesse "adquirir resistência por contágio", só os que morrerão como gado.</p>
<p>Uma explicação similar é o que ocorre com antibióticos e bactérias. Nenhuma bactéria se torna resistente ao antibiótico. O que acontece é que, quando tomamos muitos antibióticos, eles matam todas as não resistentes. E as resistentes(que sempre foram assim) se multiplicam e ocupam todo o espaço. Nenhuma bacteria sofre metamorfose e se torna resistente. Repito: Isso não existe! A única imunidade de rebanho que a natureza reconhece se chama MORTE!☠ </p>
<p><b>Referências bibliográficas:</b></p>
1)https://saude.abril.com.br/.../o-que-significa-a-tal-da.../<br>
2)https://youtu.be/_xsDw6R8zgw<br>
3)Revista Scientific American Brasil, São Paulo. Editora Segmento. Ano VII, n° 81. Fevereiro de 2009.<br>
4)Junqueira&Carneiro. Histologia Básica: Texto&Atlas. 12 edição. Rio de Janeiro. Editora Guanabara Koogan, 2013.<br>
<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh1_Eztm23DsVlBm2z59TD-vtybecvnqa4yafWBYh7gXDqsCL4A-Zy8b9diKoJiDFa3CPMqvTvOlXMRKom_vnSbaq7-RnftHKdJkjDUMTeo414A068R5-fMITYj-KnekdK1_yoYUlciF8c/s579/Imunidade+de+rebanho.jpg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" width="320" data-original-height="529" data-original-width="579" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh1_Eztm23DsVlBm2z59TD-vtybecvnqa4yafWBYh7gXDqsCL4A-Zy8b9diKoJiDFa3CPMqvTvOlXMRKom_vnSbaq7-RnftHKdJkjDUMTeo414A068R5-fMITYj-KnekdK1_yoYUlciF8c/s320/Imunidade+de+rebanho.jpg"/></a></div>
Gustavo Pedrozahttp://www.blogger.com/profile/15982321070169803360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4322194361971823951.post-87208133315669216202021-10-23T12:33:00.005-03:002021-10-23T13:47:31.270-03:00Dia do Aviador - História da aviação - 80 anos de Força Aérea Brasileira <p><i>"Não importa a tocaia da morte<br>
Pois que a pátria, dos céus no altar<br>
Sempre erguemos de ânimo forte<br>
O holocausto da vida, a voar."</i></p>
<b>Hino do Aviador</b>
<p>Do que fala esta letra, que invoca o hino, sobre o aviador brasileiro? O exército brasileiro pode possuir aviões? Parece que não. Mas pertence ao exército a criação do Hino do Aviador em 1935. Este hino feito pelos oficiais ten. João Nascimento, da banda de música, e pelo então capitão aviador Armando Serra de Menezes. Ambos faziam parte do exército brasileiro.</p>
<p>Com a criação da FAB, há 80 anos atrás, o exército perdeu sua aviação militar. Mas desde 1986 que o exército pode possuir aeronaves de asa rotativa(helicópteros), com a recriação da aviação do exército pelo decreto 93.206/1986. O ano passado o presidente Jair Bolsonaro tentou o decreto 10.386/2020, para autorizar o exército a voltar a possuir aviões, mas voltou atrás, devido à pressão dos comandantes da FAB e da Marinha.</p>
<p>Este ano faz 80 anos da Força Aérea Brasileira. Esta data diz respeito à fundação do ministério da aeronáutica. E muitos não sabem, mas a nossa Força Aérea é mais antiga que a Força Aérea dos EUA, criada em 1947. O Brasil possui tradições de antiguidade que o próprio brasileiro desconhece. A história da aviação brasileira antecede a invenção do avião, no início do século XX. Esta experiência de "guerra nos ares" nasceu com o exército brasileiro durante a Guerra do Paraguai(1865-1870), quando o então Duque de Caxias usou balões vindos dos EUA, para colher informações sobre o terreno paraguaio, visando os combates.</p>
<p>Na década de 30, muitos acontecimentos da FAB também tiveram origem no exército brasileiro. No dia 12 de junho de 1931, os oficiais Casimiro Montenegro Filho e Nelson Freire Lavenere-Wanderley deram início ao Correio Aéreo Militar do Exército, num voo de ponte Rio-São Paulo. Nascia ali o Correio Aéreo Nacional(CAN), como seria chamado a partir de 1941.</p>
<p>Formalmente o ministério da Aeronáutica foi criado em 20 de janeiro de 1941, então chamado de Forças Aéreas Nacionais, depois mudado para Força Aérea Brasileira pelo decreto 3302 de 22 de maio de 1941. E teve o senador Salgado Filho como 1° ministro da Aeronáutica.
Com este decreto, foram extintas as forças aéreas da Marinha e do Exército, legando à nascida FAB a herança de 430 aviões de mais de 30 modelos diferentes. Mas a maioria era tudo sucata. Isto fez o Brasil adquirir novas aeronaves dos EUA, mediante acordos de empréstimo e arrendamento, como os primeiros Curtiss P-36 Hawk, chegando ao Brasil em 1942. Finalmente, após a Segunda Guerra, o Brasil adquiriu aviões Gloster Meteor da RAF(Força Aérea Real) do Reino Unido. E estas aeronaves lhe custaram 15.000 toneladas de algodão bruto, já que o Brasil não possuía dinheiro em caixa para tal compra. E fez bem, pois a Força Aérea do Reino Unido é a mais antiga Força Aérea independente do mundo. Dali para frente muitas coisas iriam mudar.</p>
<p>Na década de 60 a FAB já se impunha como força de respeitabilidade mundial, como na então chamada Guerra da Lagosta(1961-1963), em que não foi disparado um só tiro, mas teve um bombardeiro B-17 do Brasil fazendo voo de alerta para o navio de guerra francês Tartu(D636), como aviso a barcos pesqueiros franceses, para que não mais capturassem lagostas em nosso litoral. E como não lembrar do dia 3 de junho de 1982, durante a Guerra das Malvinas, quando um bombardeiro Avro Vulcan da Força Aérea Real Britânica(RAF) pousou no Aeroporto Internacional do Galeão, no Rio de Janeiro, escoltado por dois caças F-5E Tiger II da Força Aérea Brasileira? Eu lembro, pois tinha 10 anos na época, em que tal aeronave passou, literalmente, por cima da minha cabeça.</p>
<p>Desde então a FAB tem sido vista como um corpo separado, assim como é até hoje. De pouco a pouco as coisas vêm mudando. O decreto 6.703/2008, do então presidente Luís Inácio Lula da Silva, criava a Estratégia Nacional de Defesa, onde muito seria investido na modernidade da FAB. Recentemente se fez a comemoração do início do projeto ítalo-brasileiro para a criação do AMX A-1, aeronave que tive o prazer de visitar em 1987, durante uma visita ao Museu Aeroespacial do Campo dos Afonsos(MUSAL). Este museu é o maior museu Aeroespacial da América Latina. Além disso, também tínhamos o museu da TAM, em São Carlos(SP), criado em 2006, mas infelizmente desativado desde 2016, em que foi o maior museu Aeroespacial, mantido por uma empresa privada, do mundo.</p>
<p>A nossa aviação, ao contrário do que se pensa, tem história de guerra e tradição. A Força Aérea Brasileira tem por seu patrono o Brigadeiro Eduardo Gomes, que antes tinha sido oficial do exército brasileiro, também tendo participado da Revolução tenentista em 1922, no Rio de janeiro. Lembro também do meu velho pai, que fazia parte do 1º/1º GT(1º esquadrão do 1º Grupo de Transportes), voando no bom e velho "gordo", o KC-130, hoje aposentado. A Força Aérea Brasileira representa as asas que protegem, e modernizam, o nosso país.</p>
<p><b>Hércules KC-130 na base de Punta Arenas, no Chile. Parada intermediária para se chegar até a Antártida.</b></p>
<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbTNErWpg2bIv9xshVCgunzfPyDCFQcq8ZxPdZV4heqNOvKd_coYe0gSry7-0PV03JeI8r8gW5VwPrY7DaCIYmlsnLVff4jSjIjht_7QA1r7smnnHHrPhfX5F0OmU1KV0JMBYa7AECEEI/s620/hercules.jpg" style="display: block; padding: 1em 0; text-align: center; "><img alt="" border="0" width="320" data-original-height="380" data-original-width="620" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbTNErWpg2bIv9xshVCgunzfPyDCFQcq8ZxPdZV4heqNOvKd_coYe0gSry7-0PV03JeI8r8gW5VwPrY7DaCIYmlsnLVff4jSjIjht_7QA1r7smnnHHrPhfX5F0OmU1KV0JMBYa7AECEEI/s320/hercules.jpg"/></a></div>
<p><b>Referências Bibliográficas</b></p>
1. https://www.aereo.jor.br/2021/06/03/ha-39-anos-durante-a-guerra-das-malvinas-falklands-um-bombardeiro-avro-vulcan-da-raf-pousava-no-rio-de-janeiro-escoltado-por-dois-f-5e-da-fab/ <br>
2.https://www.edrotacultural.com.br/exercito-pode-ter-avioes-o-exercito-criou-o-hino-dos-aviadores/ <br>
3.https://www.fab.mil.br/80Anos/ <br>
4.https://www2.fab.mil.br/musal/ <br>
5.https://en.wikipedia.org/wiki/Royal_Air_Force
Gustavo Pedrozahttp://www.blogger.com/profile/15982321070169803360noreply@blogger.com2