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segunda-feira, 23 de março de 2020

De volta para o futuro: Os conflitos urbanos e rurais

O ser humano, principalmente o urbano, vem mostrando tendências bucólicas desde as escolas arcades de literatura. Desde a Revolução industrial. E eu nunca fui exceção. Desde criança sempre tive curiosidade da vida no interior. De pessoas simples, desprovidas de cultura e estudos. Como seria suas vidas? As crianças tinham as mesmas diversões? Tinham as mesmas curiosidades? Os adultos se portavam da mesma forma diante das conquistas da vida?

Tão logo eu fiquei entendendo de economia, eu percebi que para desenvolver uma cidade de interior, a mesma precisa de pessoas ricas, ou com uma condição financeira melhor. Isso para que gere renda no lugar. Mal sabia que logo eu experimentaria isso de perto.

Hoje faz 25 anos que eu saí da cidade grande para, o que seria na época, interior do estado do Rio de Janeiro. Neste dia 23 de março do ano de 1995, eu estava saindo daqui do bairro da Ilha do Governador para o distrito de Cabuçu, do município de Nova Iguaçu. Nunca havia morado fora da cidade maravilhosa. Eu e minha mãe fomos morar neste lugar. Nos receberam bem. Era gente simples. O que eu não pude prever é que na simplicidade estava embutida a matutice.

O povo do lugar era simples. Pouco entendia de matemática, geografia, história ou biologia. Faziam confusões e misturas em histórias bíblicas, inclusive. Defendiam a prática de grupos de extermínio(na época não existia milícias) como maneira eficaz de combater o narcotráfico que vinha da capital fluminense. Não havia muita diferença de pensamento entre pais e filhos. Pudera, o que estabelece essa diferença é a prática dos estudos.

Nessa terra eu tive dois relacionamentos amorosos traumáticos. Ambas as mulheres ficaram chocadas com meu jeito escandaloso. Mas gostei de ambas, embora tenha me apegado realmente com a última. Mas não tinha como. Pessoas começaram a cobrar de ambas, cada uma em sua época, de que namorar alguém bizarro feito eu poderia custar caro. No fundo talvez tenham razão. Eu tenho um jeito que não combina com ninguém. Possuo síndrome de asperger, fato só descoberto recentemente. A mesma síndrome que Isaac Newton possuía. Então talvez eu tenha fantasiado uma história de amor impossível entre um rapaz da cidade e um povo do interior.

Atualmente voltamos para o mesmo lugar de onde viemos há 25 anos atrás. Chegamos aqui tem duas semanas. Só agora vi o quanto aguentei uma situação que nem aceitaria negociar meu jeito de ser. A pior fase ocorreu em 2001, onde fui acusado na igreja de ser portador de HIV. Onde uma menina que gostava de mim foi embora na mesma semana para Niterói, onde nunca mais tornei a vê-la. Essa foi a história mais traumática que me aconteceu na baixada fluminense.

Uma das primeiras notícias que soube em Cabuçu foi de uma sucuri que invadiu uma casa e engoliu uma criança, ocorrendo próximo ao campo do Beira Rio. Eram situações bizarras. Mas eu também me mostrei mais bizarro que este lugar poderia aguentar. Perdi esses dois relacionamentos, e ate alguns prováveis, devido a isso. Perdi varias amizades também.

Assim que cheguei naquele lugar, eu comecei a dar aulas, profissão de professor que sempre tive. E conheci várias pessoas nesse processo. Algumas amizades que mantenho até hoje. Mas não era a mesma coisa que na Ilha. Não eram amizades em que se podia confiar. Não tinham mentes para suportar o que eu era. Naquele momento eu sabia que não ia durar para sempre.

De repente, eu comecei a me sentir vomitado. Principalmente no meu ultimo relacionamento. Comecei a usar meus conhecimentos para me defender. Fui chamado de arrogante. Viraram um povo que não penso em dialogar nunca mais. Disseram que eu tinha que baixar a cabeça para os conselhos deles, sem revidar. Que o meu revide demonstrava arrogância. Isso tudo passou a ocorrer a partir de 2010. Mas nessa epoca aconteceu algo que mudaria a minha história para sempre.

Em julho de 2009 eu descobri na Internet, que já usava desde 2007, aquela que viria a ser a minha primeira rede social na vida: O Bolsa de Mulher! Quando me cadastrei, eu nem sabia tratar-se de uma rede social. Mas ali descobri o jeito tanto progressista, como liberal, de muitas futuras amigas minhas. Vi que o conservadorismo, que já segui no passado, não valeria mais a pena. Vi que um novo mundo despontava para mim. Uma amiga minha, que conheci através desse site, inclusive contou parte da minha história em sua dissertação de mestrado.

Cinco anos se passaram, sendo daí revelado a mim o evangelho dos anabatistas. Tentei aplicar naquele lugar. Mas foi em vão. É um povo que vive cercado pelo medo. Medo de muitas coisas: Desacatar lideres religiosos, policiais, lideres do povo do lugar, etc. É um povo que obedece pelo medo de ser amaldiçoado. E creem piamente nisso! Mulheres têm cisma que qualquer desvio de comportamento as torna prostitutas. E isso nem vale para os homens, na mente matuta delas. Depois disso eu percebi que minha estadia naquele lugar havia chegado ao fim.

Hoje estou de volta ao futuro da cidade grande. Não é a melhor das opções, mas é a única que me tolera. Houve problemas naquela época quando eu ainda morava aqui. Mas, além de ser anos 90, nem chegava perto do que passei na baixada fluminense. Isso ocorre porque sou filhote da cidade grande. Sou herdeiro dos arranha-céus. Ate devo passar meus últimos dias de vida num interior muito mais roceiro que Cabuçu. Mas daí estarei sozinho e saber aplicar os princípios da minha frase, que criei em 2010: NENHUMA UNIÃO VALE O PREÇO DA MINHA LIBERDADE!!!