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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

A inutilidade da guerra cultural conservadora

O Brasil está doente. Doente com uma enfermidade chamada fanatismo. O país sempre foi de índole corrupta, mas nunca violento e fanático dessa forma. Extremistas de esquerda sempre foram violentos nas ruas, mas eram casos isolados e, de certa forma, controláveis. Pois eles não tinham um conteúdo que transformaria seus fanatismos numa doença mais letal: A religião!

A religião torna a coisa toda mais belicosa. Similarmente às cruzadas, quando hordas de católicos partiam da Europa para, inclusive, comer carne humana às vésperas da tomada de Antioquia. Também aos grupos islâmicos sunitas no Iraque e na Síria, que decretam a Sharia para a população civil.

Estes casos mostram o quão longe a religião pode chegar, quando misturada à causa ideológica política. Coisas como "revelações e profecias que viram Donald Trump ganhar na justiça, e ser presidente". Ou que "Deus iria coroar Jair Bolsonaro, como fez com rei Davi". Esses delírios de profetas de Baal(cristãos que leem isso, entendem) provocam a queda da fé de muitos cristãos por decepção. E Deus adquire nome sujo por causa da estupidez humana, que crê no ser humano como senhor dos próprios desejos.

Agora vivemos um momento diferente. O momento em que grupos reacionários desconfiam de todas as instituições, não só do Brasil, mas do mundo. Indústrias farmacêuticas estariam em comum acordo com líderes mundiais, para provocar matança em massa. Tribunais superiores de vários países estariam de comum acordo para eleger candidatos progressistas em vários cantos do mundo, para favorecer a queda do conservadorismo. Pessoas agridem políticos, juízes e até repórteres nas ruas. Tudo por considerarem eles "inimigos da causa".

Muito legal ver conservadores que chamavam direitos humanos de lixo, que diziam que as condições dos presídios não precisavam melhorar, que prisioneiro tinha que sofrer, agora se desesperar em prol de seus direitos civis. Eu nem diria conservadores, mas reacionários mesmo. A convenção de Genebra diz que prisão é só para suprimir a liberdade, mas não é para fazer prisioneiro sofrer. Mas davam crédito? Claro que não! As prisões na Suécia não possuem saidinhas como as daqui, nem redução de pena. Mas são lugares confortáveis. Não precisa ser pardieiros de animais. Mas davam ouvidos a isso? Não! Agora precisam de tudo isso, e sentem a coisa apertar.

Por isso que não me arrependo de deixar de ser conservador, coisa que fiz há mais de 20 anos atrás. Evangélico ainda sou, mas conservador nunca mais. Muitos agora citam a constituição de 1988, e também Ulisses Guimarães. Mas são os defensores de 1964 dizendo isso? Não eram os mesmos que chamavam Ulisses Guimarães e sua CF88 de comunistas? Decidam-se: Ou as prisões de patriotas são desumanas, ou os presos usam celulares para fazer live criticando as prisões. As duas coisas não dá. Como é legal ver conservadores falarem em "Convenção de Genebra". Parece um milagre. Essas são as voltas que a terra plana dá.

Quando Daniel Silveira foi preso em 2021, ele disse:"Me levaram de noite, sem despedir dos meus familiares." Igual o AI-5, não é? Mas os brasileiros ainda não se preocupavam com os chamados Direitos Humanos. Direitos esses que vieram, em 1° lugar, da chamada Convenção de Genebra em 1955. Desta veio a abertura para o Pacto de San Jose da Costa Rica em 1968, a chamada Convenção Americana de Direitos Humanos.

Este ano de 1968 foi chave para o mundo, uma vez que eram realizadas passeatas no mundo inteiro, principalmente Europa e EUA. Mas nem tudo eram flores. No mesmo ano tropas da ex-URSS invadiram a antiga Tchecoslováquia. Ali se mostrou que o socialismo era impossível de ser reformado. Teóricos socialistas, como o francês Roger Garaudy, diziam que a URSS fazia de modo muito errado o espalhar dos ideais socialistas. Quanto ao Brasil, a realidade era outra, pois a convenção só seria ratificada por aqui em 1992, já nos tempos da abertura política.

Em 1984, ainda dentro do regime, foi criada e sancionada a lei n° 7210, que era a Lei de Execuções Penais. Ali, mesmo antes da Convenção Americana ser ratificada por aqui, já se estabeleciam alguns princípios. Um deles dizia que preso estava ali para ter sua liberdade privada, não para sofrer em cárcere. Por isso que países como Suécia, em cumprimento à Genebra, o preso não tem "saidinha de natal", mas também as prisões são lugares confortáveis. É difícil fazer o brasileiro, ignorante como é, entender isso. Muitos já diziam que bandido que troca tiros com a polícia não pode ter esse tipo de tratamento. Só que a prisão dos chamados "patriotas" fez pensar isso. A lei não estabelece diferenças entre pessoas que vão presas. Se uma merece tratamento digno, a outra também vai merecer. Não tem como separar isso, de modo nenhum.

Por último, é sempre bom lembrar que a última vez que falávamos nos termos "Deus, Pátria e Família" estando juntos, estávamos falando do nazismo do século passado. Deus até pode ser associado à família, mas nunca ao patriotismo. Esse conceito não era cabível aos primeiros apóstolos, tampouco aos pais apostólicos do século II. Por isso estamos chegando numa época em que conservadores reacionários serão tratados como "escórias da sociedade", gente arcaica que não merece convívio social. E, como era de se esperar, os cristãos serão o próximo grupo marginalizado. Sim, por causa da tolice de alguns, nós iremos "pagar o pato", como se dizia no meu tempo. Isso simplesmente porque cristãos não travam "guerra cultural". Cristãos travam guerra espiritual(Efésios 6:12). Muitos da velha geração serão entregues por seus filhos e netos para a morte. E, quando isso acontecer, estarão pessoas como eu para dizerem aos fanáticos de plantão: Eu avisei!