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sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

O prisma de cores : Do arco-íris se fez Newton

O que é luz? Para responder a isso, Einstein introduziu, no início do século XX, o conceito quântico de fóton, tanto partícula, como onda. Estava resolvida a discussão sobre a natureza da luz, que seria tanto corpuscular, como ondulatória. Questão que havia dividido vários físicos do passado.

As duas teorias tiveram seus defensores, que foram Isaac Newton(1642-1727) defendendo a teoria corpuscular, enquanto Christian Huygens(1629-1695), Thomas Young(1773-1829) e Augustin Fresnel(1788-1827) defendiam a teoria ondulatória. Mesmo estando sozinho em sua ideia, Isaac Newton não estava de todo errado. O seu artigo Optica, de 1672, agora fazendo 350 anos, já faria um caminho para que a luz tivesse duas naturezas. E uma delas não era contemplada por ele.

Muitas vezes, quando vemos um arco-íris no céu, não nos damos conta do que é aquilo. Quantos não fizeram a experiência da mangueira d'água no quintal, lançando um jato d'água sob a luz do sol, e viram um arco colorido se formar? Pois é. Isto tem nome, e se chama dispersão luminosa. É um tipo especial de difração da luz. E foi feita por vários cientistas no século XVII, incluindo René Descartes(1596-1650).

Porém Descartes e os outros não faziam ideia do que era a chamada dispersão luminosa. Eles acreditavam do que luz se dividia no arco-íris ao atravessar um prisma. Mas não sabiam que cada luz monocromática daquela poderia ser separada. E nem que cada luz pudesse ser separada por frequência. Esse desmantelar da teoria luminosa coube a um homem. Seu nome era Isaac Newton(1642-1727).

Newton era não só um cientista, um curioso com brinquedos mecânicos em sua infância, mas também profundamente religioso. Tinha falhas doutrinárias em relação ao cristianismo ortodoxo, pois seguia uma espécie de arianismo cristão. Mas, ainda assim, um religioso cristão. Então ele via na luz, primeira criação divina segundo o Gênesis, o objeto da perfeição de Deus. Uma vez passou um longo tempo olhando para o sol. Depois fechava os olhos. Daí via círculos coloridos esporadicamente. Depois viu cores através de uma pena de ave, ao colocá-la contra o sol. Tudo isso ele precisava saber o porquê.

Até que um dia, ao frequentar o mercado de antiguidades com seu amigo John Wickins, não comprou livro algum. Comprou um prisma numa loja de alquimia. Os prismas tinham a propriedade, segundo muitos físicos, de mudar a luz branca em cores de arco-íris. Mas será que mudavam a luz branca ou mostravam como era essa luz? Era isso que as experiências de Newton iam mostrar. Aquilo que se falava sobre a luz nos Princípios de Filosofia, ou na Dióptrica de Descartes, não era satisfatório.

Tanto aquela explicação de Descartes não era satisfatória, que o próprio Christian Huygens(1629-1695), matemático e físico holandês, estava preparando uma explicação que melhor satisfizesse os cientistas da época. Huygens divergia de Newton na parte sobre a natureza da luz, assim como o matemático e filósofo alemão Gottfried Leibniz(1646-1716) divergia com Newton na área do Cálculo. Huygens era de uma geração anterior de matemáticos, e muito mais experiente, em relação aos outros dois. Pudera, em 1687 Huygens foi considerado o maior físico do mundo ainda vivo. Também é importante esclarecer que tanto Newton, como Leibniz, consideravam o velho matemático holandês como um mestre.

Contrariamente à expectativa de Newton, seu artigo de 1672 foi mal recebido. Ele é criticado com base em três objeções: 1°) Alguns físicos não conseguem refazer suas experiências; 2°) Outros físicos, como Robert Hooke(1635-1703), não questionaram a experimentação, mas a interpretação de Newton; 3°) E, finalmente, Huygens propõe que Newton põe em evidência uma propriedade secundária da luz, que seria a desigual refratabilidade de seus raios. Na verdade, Newton divergia sobre metodologia na sua época. No século XVII se acreditava que era preciso várias experiências para tirar conclusões. Newton não acreditava nisso. Além disso, o detalhe das cores não foi plenamente compreendido por Huygens, por exemplo.

Isaac Newton teria muitas rivalidades científicas na vida. Não só por sua vaidade, mas também por seu isolamento social. Após os ataques recebidos por esse artigo, ele ficaria anos em silêncio. Foi descoberto por Edmond Halley(1656-1742), para dar sua contribuição à gravitação universal. Mas houve muitas divergências, como Hooke na questão da luz, ou Leibniz na questão do cálculo. Mas o cientista isolado teve o sepultamento de um rei. Em uma homenagem, o poeta inglês Alexander Pope(1688-1744) parafraseou o livro de Gênesis, da Bíblia, para dar uma interpretação da vida de Newton, dizendo:"A natureza e suas leis escondiam-se na noite. Deus disse: Que se faça Newton. E tudo se fez luz!" Em seu funeral estava presente uma figura ilustre, que também era seu fã. Nada menos que François-Marie Arouet(1694-1778), mais conhecido pelo pseudônimo de Voltaire. Este filósofo publicou, em 1738, o seu frontispício chamado Elementos da Filosofia de Newton. Esta obra que tornou conhecida a física newtoniana na França.

Hoje sabemos que a natureza da luz é tanto corpuscular, quanto ondulatória. Já no espectro de cores, sabemos que Newton estava absolutamente certo. Alguém que propôs isso há 350 anos atrás merece todo crédito necessário. Já as notas de cálculo, hoje se usam muito mais as posteriores a Newton, ou até mesmo a de Leibniz, do que as dele próprio. A concepção de fóton, descoberta por Albert Einstein(1879-1955), veio a trazer um mundo novo a desvendar. Em alguns anos, observaremos uma floresta tropical na superfície de um planeta gêmeo da Terra, em órbita em torno de uma estrela longínqua. Para isso, centenas de espelhos formarão um interferômetro espacial de um novo tipo: Um hipertelescópio! Mas isso já é outra história…

Referências Bibliográficas

1.WHITE, Michael. Personagens que mudaram o mundo:Isaac Newton. Tradutor:Matilde Leone.Editora Globo. Rio de Janeiro,1993.
2.Revista Scientific American Brasil. Edição Especial Todos os estados da luz. nº29. Editora Duetto. Maio, 2007.
3.Revista Scientific American Brasil. Coleção Gênios da Ciência:Isaac Newton. nº01. Editora Duetto. Março,2007.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

Não existe tratado do lado de baixo do Equador

"Brandindo achas e empurrando quilhas, vergaram a vertical de Tordesilhas."

Guilherme de Almeida, monumento aos Bandeirantes, no parque Ibirapuera, São Paulo.

Do que trata a frase poética do paulista em questão acima? Isso foi o reconhecimento, por parte dos bandeirantes paulistas, que o Tratado de Tordesilhas, ratificado mais tarde pelo papa Júlio II em 1506, era cada vez mais burlado. Portugueses avançavam para dentro do território sul americano sem nenhum reconhecimento, ou repreensão, por parte de autoridades espanholas. Isso viria a trazer consequências bem sérias mais tarde, onde portugueses, que não tinham nenhum respeito pelos jesuítas, avançaram sobre os territórios dos Sete Povos das Missões e os destruiu. Este povoamento era o conjunto de sete aldeamentos indígenas fundados pelos Jesuítas espanhóis na Região do "Rio Grande de São Pedro", atual Rio Grande do Sul, composto pelas reduções de São Francisco de Borja, São Nicolau, São Miguel Arcanjo, São Lourenço Mártir, São João Batista, São Luiz Gonzaga e Santo Angelo Custódio. De forma brutal, interesses escusos de Portugal, Espanha e Inglaterra acabaram com a maior missão civilizatória da América do Sul em pleno século XVIII.

Essa mesma realidade se aplica aos Tratados internacionais sobre territórios que, no passado colonial, pouco valiam. O mundo já foi muito mais selvagem do que os tempos atuais e, muitas vezes para tratados valerem, era preciso se impor pela espada, ou mesmo pelo medo do sobrenatural. Enfim, algo que colocasse os homens sob ameaça, caso tentassem quebrar a palavra.

As navegações do século XV e XVI trouxeram novas visões de mundo para o continente europeu. Mas mundo afora isso já estava em prática. O navegador mongol muçulmano Zheng He, a serviço da China Ming, já percorria os mares do Atlântico sul no início do século XV, segundo o oficial da Marinha britânica, Gavin Menzies. E não só isso. Os nórdicos da Noruega avançaram sobre a Islândia, Groenlândia e, mais tarde, Canadá. Porém em nenhum desses casos fora da Europa havia a intenção de colonizar as terras descobertas. Havia casos de colonos e suas famílias, como ocorreu no Canadá do ano 1000 em diante(chamado de Vinlandia), porém tais habitações duravam pouco. Ou mesmo só para extrair riquezas, como foram o saque de muitos reinos africanos e asiáticos.

O processo colonizador começou mesmo no século XV, após a frustração da época das cruzadas. A morte de Marco Polo no século XIV encerra um período de geógrafos lendários(e às vezes ainda delirantes), no qual a Europa era fascinada pelas culturas árabe, persa, mongol e, principalmente, chinesa. Após isso viriam a peste negra e as navegações. Mas, mesmo na baixa idade média, não havia pouca cultura na Europa, como se imagina. E Marco Polo não foi o primeiro europeu a pisar na China. Antes dele veio um comerciante judeu italiano chamado Jacob d'Ancona. Ele veio na época da dinastia Song, e presenciou o ataque dos mongóis sob Kublai Khan. Escreveu um livro chamado Cidade da Luz, que possui muito mais detalhes sobre a China que o veneziano Marco Polo.

Quando Constantinopla foi tomada pelos turcos em 1453, foi fechada a passagem por terra para muitos europeus. O mediterrâneo era um mar fechado pelos venezianos. Então a saída era dar a volta, pelo litoral da África, indo até a Ásia. Ou para o ocidente, como fez Cristóvão Colombo. Tudo isso era para alcançar as especiarias das índias. As Índias era uma localização geográfica que englobava não só a Índia, mas todo o leste africano, e até mesmo as áreas da Península da Indochina, onde muita coisa ainda iria acontecer.

Quando o processo colonial do novo mundo começou, também se fez necessário tratados entre as potências que tomavam posse das terras do hemisfério sul do planeta. Tratados como Tordesilhas, Madri, Santo Ildefonso, Alcáçovas, Saragoça, etc. E estes tratados quase nunca eram respeitados. Para começo de conversa, as pessoas dos séculos XV e XVI não tinham quase nenhum senso de nacionalidade. O homem não era um patriota. Ele era fiel ao seu príncipe, assim como sua religião. Assim, um morador da Normandia, norte da França, não era cidadão francês, muito menos inglês. Era um súdito do rei da Inglaterra, pois aquele território era parte do reino inglês. Basta lembrar que Carlos V, Sacro imperador da Germânia do século XVI, governava súditos falantes de catalão, basco, castelhano, náhuatl, alemão, quíchua e italiano. E não só isso, mas em pleno século XX, durante a segunda guerra, vários poloneses do interior se classificavam como pessoas do lugar.

Em se tratando do século XX, houve a partilha da África tentando se utilizar dos mesmos tratados dos séculos XV e XVI. Já naquela época, as demais potências marítimas não aceitavam o mundo ser partilhado entre as potências ibéricas Portugal e Espanha. Logo Inglaterra, França e as Províncias Unidas(Holanda) iriam se lançar aos mares. Portanto, se 400 anos antes as potências não aceitavam divisões desiguais, quanto mais no século XX. A Conferência de Berlim(1884-1885) tentou a partilha da África. Mas os ingleses não viam com bons olhos o avanço do imperialismo alemão. Então tais rivalidades não puderam ser resolvidas em uma mesa de conferência, mas sim com explosivos, gases venenosos e tanques. Estava iniciada a primeira guerra mundial. O mundo não mais pertencia aos ideais de D. Quixote de la mancha…

Portanto, as rivalidades entre as potências do norte em relação às colônias do Sul do planeta, raras vezes puderam ser resolvidas através de tratados. E parodiando o fantástico cantor brasileiro Ney Matogrosso, em seu não existe pecado do lado de baixo do Equador, pode-se dizer que esta não foi a única falta que as grandes navegações, e o futuro imperialismo, deixaram a desejar…

Referências Bibliográficas

1. Revista História Viva GRANDES TEMAS: Mar Português. Editora Duetto. nº14. Dezembro, 2009. São Paulo.
2. Revista História Viva GRANDES TEMAS: As muitas conquistas da América. Editora Duetto. nº23. Agosto,2010. São Paulo.

sábado, 24 de dezembro de 2022

Olof Skötkonung - O nascimento do cristianismo sueco 🇸🇪🇸🇪🇸🇪

A história dos povos nórdicos, e a conversão deles ao cristianismo, é tema de um longo repertório de pesquisas, inclusive pelo revisionismo que levou à "europeização" da História a partir do século XIX. Desde os pagãos como Rurik, até cristãos como Olof, ou mesmo Gustavo de Vasa, cerca de 600 anos depois.

O fenômeno do celtismo, comum na Europa do século XIX, procurava recuperar as raízes dos povos europeus, e os escolhidos foram os celtas, normalmente retratados com capacetes e chifres, imagem também reconhecida nos vikings. E este estereótipo era desconhecido por cronistas da antiguidade, como Jordanes, ao escrever sobre os godos do período final do império romano. E este fenômeno que deu um certo glamour ao estudo sobre os chamados povos do norte, ou normandos.

As origens históricas(e míticas) dos povos do norte remetem a ilha de Gotland, à leste de Gothia, que seria o conjunto de terras que hoje forma Suécia e Noruega. Gotland, que se estende desde Malmo, ao sul, até os lagos setentrionais Vener e Veter. O Veter delimita Ostergotland(Gotland do leste, donde vieram os ostrogodos) e Vastergotland(Gotland do oeste, donde vieram os Visigodos). Era ali, entre o oeste e o leste de Gothia, no castelo de Ovralid, perto de Vadstena, que Heidenstam, o poeta, evocava a antiguidade da Suécia: "Scandza insula, vagina nationum"(a ilha de Scanza, matriz da nação). Daqui surgem os escandinavos, de acordo com Jordanes, na sua descrição da origem dos povos godos. Já desde 4.000 a.C., no período neolítico, a tribo Svear(donde veio o nome Suécia mais tarde) ocupava a região do lago Mälaren. Porém a história escandinava estava apenas no início.

A História da Suécia ganha notoriedade com o reinado de Olavo, o Grande. O 1º rei cristão sueco. Olof Skötkonung, às vezes estilizado como Olaf, o Sueco (980–1022), foi rei da Suécia, filho Érico VI da Suécia, apelidado o vitorioso e, de acordo com fontes islandesas, Sigrid, a orgulhosa. Ele sucedeu seu pai em 995, e está no limiar da história registrada, pois é o primeiro governante sueco sobre o qual existe conhecimento substancial. Ele é considerado o primeiro rei conhecido por ter governado tanto os suecos quanto os godos . Na Suécia, o reinado do rei Olavo é considerado a transição da era Viking para a Idade Média, pois foi o primeiro rei cristão dos suecos, que foram os últimos a adotar o cristianismo na Escandinávia. Ele está associado a uma crescente influência da igreja no que hoje é o sudoeste e centro da Suécia. As crenças nos deuses nórdicos persistiram em partes da Suécia até o século XII.

Os vikings suecos eram conhecidos como varegues ou varangianos. De acordo com a Crônica Primária de Kiev, do século XII, um grupo de varangianos, conhecidos como "Rus", estabeleceu-se em Novgorod em 862 sob a liderança de Rurik. Antes de Rurik, os 'Rus' podem ter governado uma política hipotética anterior chamada 'Khanato Rus'. O parente de Rurik, Oleg, conquistou Kiev em 882 e estabeleceu o estado de 'Kievan Rus', que mais tarde foi governado pelos descendentes de Rurik.

Atraídos pelas riquezas de Constantinopla, os varegues começaram as guerras com os bizantinos, algumas das quais resultaram em tratados comerciais vantajosos. Pelo menos desde o início do século X, muitos varangianos serviram como mercenários no exército bizantino, constituindo a Guarda Varangiana de elite (os guarda- costas dos imperadores bizantinos). Eventualmente, a maioria deles, em Bizâncio e na Europa Oriental, foram convertidos do paganismo nórdico ao cristianismo ortodoxo, culminando na cristianização da 'Rus' de Kiev em 988. Coincidindo com o declínio geral da Era Viking, o influxo de escandinavos a 'Rus' parou, e os varegues foram gradualmente assimilados pelos eslavos orientais no final do século XI.

Porém neste texto será tratado, de acordo com crônicas islandesas e germânicas, a história de Olavo, o primeiro rei cristão da Suécia. Pouco se sabe, a não ser por crônicas ou poemas suecos do passado, quais reis foram seus antecessores. Não se sabe se ele era sucessor de Rurik, considerado o pai dos varegues. Mas a sua história já é bem documentada, considerando reis varegues anteriores.

O "sobrenome" do rei tem uma etimologia ainda obscura. Na realidade, em tempos antigos as pessoas não tinham sobrenome, mas sim apelidos. E era muito comum entre reis vikings, como "Erik, o Machado sangrento", "Harald, o dente azul", etc. Uma das muitas explicações para o nome Skötkonung é que ele é derivado da palavra sueca "skatt", que pode significar "impostos" ou "tesouro". O último significado foi interpretado como "rei tributário" e um estudioso inglês especula sobre uma relação tributária com o rei dinamarquês Sweyn Forkbeard , que era seu padrasto. Essa explicação, no entanto, não é apoiada por evidências ou fontes históricas. Outra possível explicação para o nome refere-se ao fato de ter sido o primeiro rei sueco a cunhar moedas. Uma antiga cerimônia de posse de terra que colocava uma parcela de terra no colo de alguém (sueco: sköte ) era chamada de scottinge pode ter estado envolvido neste epíteto.

Nosso conhecimento do rei Olavo da Suécia é baseado principalmente nos escritos de Snorri Sturluson(1179-1241), que era um historiador, poeta e político islandês e nos escritos de Adam de Bremen(?1048 - ?1084), cronista alemão do feudo de Meissen. Mas ambos foram alvo de críticas de estudiosos, pois os contos e poesias vikings costumavam ser exagerados. O relato mais antigo do cronista eclesiástico alemão Adam de Bremen, em 1075, relata que Sweyn Forkbeard foi expulso de seu reino dinamarquês pelo rei sueco Erico, o Vitorioso, no final do século X. Quando Eric morreu em 995, Sweyn voltou e recuperou seu reino, casando-se com a viúva de Eric. Enquanto isso, Olavo sucedeu seu pai Érico VI, reuniu um exército e lançou um ataque surpresa contra Sweyn. O rei dinamarquês foi mais uma vez expulso, enquanto Olavo ocupava suas terras. Depois disso, no entanto, o conflito foi resolvido. Como Sweyn se casou com a mãe de Olavo, ele foi reintegrado no trono dinamarquês e os dois reis foram posteriormente aliados. Snorri Sturluson, em 1230, e os outros escritores da saga islandesa também dizem que Sweyn se casou com a mãe de Olavo após a morte do rei Érico VI, mas sem mencionar nenhum conflito. Além disso, Snorri descreve Sweyn e Olavo como aliados, em pé de igualdade, quando derrotaram o rei norueguês Olav Tryggvason na Batalha de Svolder no ano 1000 e, posteriormente, dividiram a Noruega entre eles. Acredita-se que o relato de Adam sobre as derrotas de Sweyn nas mãos de Érico VI e Olavo é parcial, e pode ter sido mal interpretado; o casamento com a mãe de Olavo pode de fato ter selado a posição privilegiada de Sweyn frente ao rei sueco.

De acordo com Snorri, Olavo liderou uma expedição viking a Wendland(uma província da Baixa Saxônia) no início de seu reinado. Ele capturou Edla, filha de um chefe Wendish, e a manteve como amante. Ela deu a ele o filho Edmundo(que se tornaria rei da Suécia), e as filhas Astrid(mais tarde esposa de Olavo II da Noruega) e Holmfrid (casada com Sven Jarl da Noruega). Mais tarde, ele se casou com Estrid dos Obotritas, e ela lhe deu o filho Anund Jacob e a filha Ingegerd Olofsdotter.

Enquanto Adam de Bremen elogia Olavo como um bom cristão, os autores islandeses pintam uma imagem desfavorável do rei como arrogante e espinhoso. Diz-se que o rei Olavo preferia os esportes reais à guerra, o que pode explicar a facilidade com que Sweyn Forkbeard retomou as terras dinamarquesas que o pai de Olavo, Érico VI, havia conquistado. Olavo também pode ter perdido o direito ao tributo que seus predecessores haviam preservado no que hoje é a Estônia e a Letônia.

Quando o reino norueguês foi restabelecido por Olavo II da Noruega em 1015, uma nova guerra eclodiu entre a Noruega e a Suécia. Há um relato circunstancial disso na obra de Snorri Sturluson. Como ele escreve, muitos homens na Suécia e na Noruega tentaram reconciliar os reis. Em 1018, o primo de Olavo, o conde de Västergötland, Ragnvald Ulfsson, e os emissários do rei norueguês, Björn Stallare e Hjalti Skeggiason, chegaram à propriedade de Uppsala na tentativa de convencer o rei sueco a aceitar a paz e, como garantia, casar sua filha Ingegerd Olofsdotter com o rei da Noruega. O rei sueco ficou muito zangado e ameaçou banir Ragnvald de seu reino, mas Ragnvald foi apoiado por seu pai adotivo Thorgny, o orador da lei.

Thorgny fez um discurso poderoso no qual lembrou ao rei as grandes expedições vikings no Oriente, que predecessores como Erik Anundsson e Björn haviam empreendido, sem ter a arrogância de não ouvir os conselhos de seus homens. O próprio Thorgny participou de muitas expedições de pilhagem bem-sucedidas com o pai de Olavo, Érico VI, o vitorioso, e até mesmo ele ouviu seus homens. O atual rei não queria nada além da Noruega, que nenhum rei sueco antes dele havia desejado. Isso desagradou o povo sueco, que estava ansioso para seguir o rei em novos empreendimentos no Oriente para reconquistar os reinos que pagavam tributo aos seus ancestrais, mas era desejo do povo que o rei fizesse as pazes com o rei da Noruega, e desse a ele sua filha Ingegerd como rainha.

A lei westrogótica, de 1240, é a primeira crônica sueca breve, que começa com Olof Skötkonung. Relata que Olavo foi batizado na Igreja de Husaby, em Västergötland, pelo missionário Sigfrid, e fez generosas doações ao local. Na igreja paroquial de Husaby há uma placa comemorativa de seu batismo. E, nas proximidades, acredita-se que seja a mesma fonte sagrada onde Olavo foi batizado. Ele foi o primeiro rei sueco a permanecer cristão até sua morte. No entanto, as circunstâncias sobre seu batismo não são claras. Um documento de 1008 diz que um certo bispo, despachado pelo arcebispo Bruno de Querfurt, visitou a tribo Suigi e conseguiu batizar o rei, cuja rainha já era cristã. E mil pessoas, e sete comunidades, seguiram seu exemplo. Os Suigi às vezes foram identificados como suecos, embora isso tenha sido rejeitado por vários outros estudiosos. Por outro lado, a cunhagem de moedas do rei Olavo indica que ele já era cristão na época de sua ascensão em 995.

igreja de Husaby, local provável do batismo do rei Olavo, o tributário

De acordo com Adam de Bremen, Olavo planejava derrubar o templo de Uppsala, que era supostamente um importante centro de culto pagão. O fato de grande parte dos suecos ainda serem pagãos o forçou a abandonar esse objetivo. Os pagãos, cansados de seus planos, fizeram um acordo com Olavo no sentido de que, se ele quisesse ser cristão, deveria exercer sua autoridade real em uma província de sua escolha. Se ele fundasse uma igreja, não deveria forçar ninguém a se converter. Olavo se contentou com isso, e instalou um bispado na província de Västergötland, mais perto da Dinamarca e da Noruega. A pedido de Olavo, o arcebispo de Hamburgo-Bremen ungiu Thurgot como o primeiro bispo em Skara. Este Thurgot teve sucesso em disseminar o cristianismo entre os godos ocidentais e os godos orientais.

A lenda de São Sigfrid, conhecida desde o século XIII, relata que o ainda pagão rei Olavo dos suecos chamou o arcebispo inglês de York, Sigfrid, para ensinar a nova fé em seu reino. No caminho, Sigfrid e seus três sobrinhos chegaram a Värend, no sul de Småland, onde as doze tribos locais endossaram o cristianismo em uma assembleia. Sigfrid deixou seus sobrinhos para cuidar dos assuntos em Värend e foi para a corte do rei Olavo, onde o rei e sua família foram batizados. Enquanto isso, uma reação pagã em Värend custou a vida dos sobrinhos, cujas cabeças foram afundadas no lago Växjö. Ouvindo sobre isso, Sigfrid voltou para Värend, onde as cabeças foram descobertas por um milagre. O rei Olavo então apareceu em Värend com uma força, puniu os assassinos e forçou os habitantes locais a ceder propriedades à Igreja. Se a lenda reflete a expansão do reino de Olavo para o sul, é incerto. A história parece incorporar vários elementos para legitimar o estabelecimento do Bispado de Växjö em 1170. No entanto, sabe-se de Adam de Bremen, que um missionário inglês chamado Sigfrid pregou entre os suecos e godos na primeira metade do século XI.

Pode-se afirmar que as conversões vikings ao cristianismo começaram logo que conheceram a nova fé. Mas as conversões foram lentas. Mesmo assim, a maioria abraçou a nova fé com fervor. Tanto que, quando surgiu a empreitada cristã europeia conhecida como Cruzadas, muitos normandos as lideraram. Desde Godofredo de Bulhões, que se tornou o 1° rei cristão de Jerusalém, até Tancredo da Sicília, bem conhecido na primeira cruzada. A velha religião foi declinando aos poucos, e os ataques vikings se tornaram coisa do passado. Mas, segundo Jörmundur Ingi, líder dos pagãos islandeses, algo sempre ainda resta. "O gado morre, os parentes morrem, todo homem é mortal", diz um poema islandês. "Só uma coisa não morre: A glória dos grandes feitos."

A julgar pela cronologia dos eventos de Snorri Sturluson, o rei Olavo da Suécia morreu de morte natural no inverno de 1021–1022. Adam de Bremen afirma que morreu aproximadamente ao mesmo tempo que Cnut, o Grande(1035), da Dinamarca, o que certamente seria tarde demais.

Interessante saber sobre uma história viking que se passou há mil anos atrás, que só foi resgatada por causa das tradições e poemas vikings islandeses e germânicos, além das pedras rúnicas suecas, que ajudam a desvendar escritas antigas. Porém sempre haverá quem fantasie por demais as lendas vikings nos cinemas, fazendo até sátiras, como Erik, o viking, de Terry Jones(1989), em que satiriza o modo como as pessoas veem a história dos povos nórdicos. Mesmo assim, muitas coisas são válidas, ainda que falsas, para que o maior número de pessoas possível possa ver as belezas da história…

Olof Skötkonung, como imaginado por Ansgar Almquist na década de 1920, estátua na Prefeitura de Estocolmo.

Referências Bibliográficas

1.MOLITERNO, Sergio. Suécia. In:ENCICLOPÉDIA Geografia Ilustrada, vol II.Edição Abril Cultural. São Paulo, Brasil. 1972. 4 volumes.
2.QUESADA, Pedro. Os Vikings. Coleção Expedição.Tradução:Maria Leonor Buesco e Mauro Vilar. Editora Civilização Brasileira. CELBRASIL, Lisboa, Portugal.
3.REVISTA HISTÓRIA VIVA:GRANDES TEMAS. A Saga Viking.nº21.Julho,2012.
4.VESILIND, Priit J. Revista National Geographic Brasil. Ensaio:Na trilha dos vikings. Tradução:Heloisa Jahn.Editora Abril. Volume I, nº 1. P.118-143.Maio,2000.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

Branca de Neve : Da antiga Germânia para a Disney

No dia 21 de dezembro de 1937 era lançado nos cinemas um clássico dos contos de fadas: a animação Branca de Neve e os Sete Anões. Foi o primeiro filme totalmente a cores do mundo, além de marcar a estreia dos Estúdios Disney nas produções de longa-metragem. A história é baseada em um conto dos Irmãos Grimm.

O orçamento inicial era de US$ 150 mil, mas acabou custando US$ 1,5 milhão, um valor exorbitante para a época. A produção da animação durou 4,5 anos. A parte mais difícil foi chegar a um desenho final dos anões. O filme arrecadou 8 milhões de dólares ao redor do mundo. Na época, foi brevemente a maior bilheteria de um filme sonoro. A popularidade de Branca de Neve o levou a ser relançado nos cinemas várias vezes nas décadas seguintes, até seu lançamento em home vídeo nos anos 90.

Havia inúmeras diferenças entre o desenho do Walt Disney e o conto alemão do século XIX. Para começo de conversa, a história que conhecemos hoje em dia não surgiu de primeira. Antes dela, a equipe de roteiristas da Disney já havia escrito outras versões, onde a Rainha Má tentava acabar com Branca de Neve utilizando um pente envenenado, o príncipe Florian era capturado pela vilã, e com os anões construindo uma cama maior para a princesa dormir confortavelmente em sua casa. No conto original, nenhum dos anões possuía nome. Walt Disney que surgiu com a ideia de nomes que coincidissem com as suas próprias personalidades. Dunga, inclusive, foi o último a ser escolhido e passou muito tempo sendo chamado apenas de Sétimo, já que a equipe não conseguia decidir qual característica dar ao personagem. A rainha má da história teve sua história inspirada, em primeira mão, em uma condessa alemã do século XI chamada Uta von Ballenstedt, esposa do margrave Eckard II, de Meissen, que era parte do império germânico medieval. Na realidade, a rainha má da Branca de Neve era inspirada na estátua da condessa.

Em 1937, muitas pessoas achavam uma loucura o projeto da Disney de criar uma animação com mais de uma hora de duração — já que ninguém havia feito nada parecido até então. Por isso, as manchetes dos jornais da época continham a frase “A loucura da Disney”. Porém, após o lançamento e o grandioso sucesso do filme, o The New York Times, um dos jornais mais importantes dos Estados Unidos, mudou sua manchete para “Muito obrigado, sr. Disney”.

Branca de Neve e os sete anões teve um enorme impacto cultural, resultando em atrações nos parques temáticos da Disney, videogames e livros. Foi classificado na lista dos melhores filmes dos Estados Unidos segundo o American Film. Isso tudo há 85 anos atrás. Direto do túnel do tempo...