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segunda-feira, 29 de maio de 2023

O príncipe empalador - A lenda dos Bálcãs no século XV

Neste dia 29 de maio de 2023, ao fazer 570 anos da Queda de Constantinopla, convém relembrar a história de um príncipe dos Bálcãs que lutou contra a onda turca que avançava pela Europa desde o século XIV. Seu nome era Vlad, conhecido como Vlad Tsepesh(Vlad, Empalador), ou Kazıklı Bey(príncipe empalador) pelos turcos. Porém o mundo conheceria tal príncipe apenas como Drácula, o filho do Dragão. Aquele que povoou a imaginação do escritor irlandês Bram Stoker. A história do príncipe Vlad, voivoda da Valáquia, está intimamente ligada à queda da cidade de Constantinopla para o Império Otomano,em 1453. Sua história, assim como a lenda que o seguiu, começa na cidade de Sighisoara, no principado da Transilvânia. Ali,em 1431, nasceu Vlad Drácula, conhecido como 'filho do Dragão'. A fama de empalador vinha do modo como matava suas vítimas. Elas eram amarradas e estacas não muito afiadas, eram cobertas com óleo e introduzidas em seus corpos(abdômem, ânus ou no estômago), em seguida puxadas por cavalos,até que saíssem pela boca. Uma vez, cerca de 20 mil mercadores e boiardos de Brasov foram empalados na Transilvânia, em que as árvores foram cortadas exclusivamente para isso. Desde o século XIV, tanto a Valáquia, como Transilvânia, eram províncias dos Bálcãs,que ora eram vassalos da Hungria, ora do Império Otomano. Os principados dos Bálcãs tinham que se equilibrar entre esses dois poderes. Ao contrário do que se pensa, Vlad não era príncipe da Transilvânia, mas da Valáquia. Vlad nasceu na Transilvânia porque nasceu no período em que seu pai, Vlad II, estava no exílio. A Transilvânia ainda era um principado agregado ao reino húngaro. Portanto, para a época, Vlad III teria nacionalidade húngara.

O nome de Vlad deriva do pai, que por sua vez, deriva do avô. Que por sua vez deriva de um general traidor(mais embaixo falo sobre isso). O codinome 'Drácula', ou 'Draculea', já tem uma origem diferente. O pai de Vlad fazia parte da Ordem do Dragão(uma ordem de cavalaria alemã), e acrescentou o codinome Dracul(O dragão) ao seu nome. Vlad III, ao entrar para a ordem, colocou Draculea(o filho do Dragão). Esses termos vêm do moldávio antigo, das raízes dos idiomas eslavos.

Mas o que a queda de Constantinopla tem a ver com isso? Vlad fez parte dos muitos príncipes dos Bálcãs que formavam uma barreira contra os turcos, aliados ao Império Bizantino(nome que só seria conhecido desse jeito mais tarde), para impedir o avanço otomano pela Europa. Ali, em 1453 cairia a última estrela do império bizantino. Cidade fundada por Constantino I no século IV, Constantinopla foi a última cidade a resistir ao cerco turco. Era a última resistência de um império moribundo. Era o fim do maior império cristão da idade média. O canhão de dardanelos punha fim a inviolabilidade das muralhas da cidade. E este canhão foi construído por Urban, um artífice cristão húngaro contratado pelo sultão Maomé II, sendo pago a preço de ouro. O cerco a cidade durou alguns meses. Havia esperança da nova aliança feita entre as igrejas romana e ortodoxa, onde o papa Nicolau V enviaria a ajuda prometida. Mas a ajuda não veio. A maioria da Europa estava comprometida com a Guerra dos Cem anos(que já durava bem mais que isso) entre Inglaterra e França, sendo cada um aliado de um ou de outro. O máximo que viria seria uma leva de navios genoveses, comandadas pelo capitão Giovanni Giustiniani, que mais tarde viraria lenda na defesa da cidade.

A cidade de Constantinopla já não andava ‘bem das pernas’ desde a invasão católica em 1204, durante a Quarta Cruzada, patrocinada por venezianos. Por isso a união com o ocidente foi bem vinda. Mas a população não aceitava a união com o papa. Preferia o sultão turco. Tanto que muitos gregos gritavam nas ruas de Bizâncio:”Preferimos o turbante do sultão ao chapéu do papa!” E isso não demoraria a acontecer. Após a queda de Constantinopla para os cristãos ocidentais em 1204, a cidade se recuperou. Mas nunca mais como antigamente. Na época, a estupidez dos chamados ‘cruzados criados para defender a terra santa’ não sabia. Mas, ao remover o Império Bizantino do caminho dos católicos, acusando-os de ‘separatistas hereges’, estavam removendo um estado-tampão que os protegia dos otomanos. E essa burrice sairia caro mais tarde. Muito caro. Este preço viria do leste. Com o fim do século XIV, um novo inimigo se aproximava dos Bálcãs: Os turcos otomanos. Vieram a cavalo do Mar de Aral, destruindo os reinos islâmicos por onde passavam. Finalmente eles próprios se tornaram muçulmanos. Eram uma dinastia turca fundada por Osman. Vinham do Turquestão Ocidental. Por isso que os turcos são parentes dos bárbaros das estepes da Ásia central, como mongóis, unguzes, Hsiung-Nu, Hunos e até, indiretamente, chineses. Mas nunca de árabes.

Então, para defender a Europa da maré otomana, o Sacro Império Romano-Germânico resolveu criar, em 1408, uma ordem de cavalaria, chamada Ordem do Dragão. Tinha o objetivo de conter a ameaça turca na Europa. O imperador Sigismundo de Luxemburgo criou tal ordem, da qual faziam parte vários príncipes e nobres da Europa. Alguns membros fundadores foram Stefan Lazarević, da Sérvia, e Hermann de Celje, sogro do imperador, e conde da Estíria. Outros membros notáveis eram Alfonso V de Aragão, Fernando I de Nápoles, Vlad II Dracul e Vlad III Drácula. Nessa época, o sultão Bayezid, conhecido como 'o relâmpago', foi tomando parte após parte do Império Bizantino. Isso deixou os principados eslavos em alerta, assim como os reinos búlgaro, sérvio, húngaro e polonês. Enquanto os europeus cruzavam o Atlântico em busca de novos mundos, os otomanos se aproximavam do instável reino húngaro.

No século XV a situação era diferente em cada país. Enquanto na Suécia(que se tornaria independente no século XVI) e Rússia os monarcas eram impostos, as nobrezas húngara e polonesa se impunham sobre seus reis. As disputas internas ameaçavam a unidade do estado, e facilitaram a chegada dos otomanos. Mesmo reis como Mathias Corvinus, da Hungria, tentavam evitar o pior, implantando uma espécie de absolutismo provisório. Ele chegou a afirmar, em uma assembleia de nobres na Silésia, que “seus conselheiros e nobres teriam que atuar como vassalos obedientes”. Mas isso não evitaria a derrota para os turcos na Batalha de Mohács em 1526, já sob o rei Luís II da Hungria.

O país de Vlad Drácula era a Valáquia, que hoje junto com a Transilvânia(que já foi húngara) forma a Romênia. Mas quando surgiu? A fundação da Valáquia passa pelas origens do reino húngaro,no século X. A invasão da Hungria, pelos mongóis, em 1241, possibilitou o enfraquecimento do reino,e a independência dos principados dependentes do mesmo, como Valáquia e,mais tarde, Transilvânia. Todo o leste europeu foi devastado pelos mongóis, fato que explica seu atraso até hoje. Não vem do socialismo,como em geral se pensa. Pelo contrário. Foi por serem frágeis que se tornaram presas fáceis da onda vermelha soviética. Em 1301 cai a dinastia Árpád, na Hungria. Nasce a Hungria angevina, com parentela francesa. Foi daí que principados como Valáquia e Sérvia aproveitaram para emancipar-se. A Valáquia surgiu, como principado independente,em 1310. Surgiu com o clã dos Basarab. Desde então, este clã manteve uma certa independência em relação ao reino húngaro, formando o principado valaquiano.

Igreja evangélica saxã, fundada por colonos alemães no século XIII, na região da Transilvânia

Na região da Dácia, onde hoje fica a atual Romênia(só criada no século XIX), surgem os principados valaquiano, transilvano e moldávio. Os dois primeiros vassalos da Hungria,e o último do ducado polonês. A Polônia só se tornaria um reino, separado do Sacro Império, no século XII. Não existiam, nesses territórios, os títulos de nobreza que conhecemos como duque,conde e marquês. A sucessão do chefe do principado, o Voivoda, era eletiva. Não era hereditária,como na Europa Ocidental. Um grupo de nobres, chamados boiardos, decidiram em assembleia qual sucessor do voivoda herdaria seu trono. Quando chegou o início do século XIV, o principado da Valáquia se tornou independente da Hungria. Na segunda metade do século, os valaquios adotaram a crença ortodoxa, por influência do Império Bizantino. Isso em contrapartida com a Polônia e a Hungria, que eram católicas.

O Império Bizantino já vinha com problemas internos, que facilitaram sua queda, há vários anos. Quais eram as condições do Império Bizantino no início das cruzadas no século XI ? Durante 112 anos, a França teve três reis: Roberto II, Henrique I e Felipe I. E o império bizantino teve 15, sem contar os 'auto proclamados' imperadores, que inclusive se utilizavam de ajuda do império turco para subir ao trono. Uma dessas 'ajudas' custou caro, pois despertou a visão turca de como os bizantinos estavam frágeis. Numerosos historiadores avaliam que a queda de Constantinopla constituiu uma verdadeira ruptura, marcando o fim da Idade Média e o advento da Renascença. Na verdade, a “Nova Roma”, afetada pela peste de 1347, perdera a prosperidade econômica e o dinamismo demográfico que conhecera antes de 1204.

Se aproximando do fim do século XIV, um novo inimigo se aproximava dos Bálcãs: Os otomanos! Vieram a cavalo do Mar de Aral, destruindo os reinos islâmicos por onde passava. Finalmente eles próprios se tornaram muçulmanos. Nessa época, o sultão Bayezid, conhecido como 'o relâmpago', foi tomando parte após parte do Império Bizantino. Isso deixou os principados eslavos em alerta, assim como os reinos búlgaro, sérvio, húngaro e polonês. Nessa época, o avô de Vlad III, príncipe Mircea, sentava no trono valaquiano. Havia traidores europeus que muitas vezes passavam para o lado dos turcos. Um deles era um general de confiança de Mircea: Chamava-se Vlad(mais tarde chamado de Vlad, o usurpador). Foi devido a esse general, e sua confiança nele, que Mircea colocou o nome em seu filho Vlad, mais tarde Vlad II. O general Vlad assumiu o trono valaquiano como Vlad I, após a Batalha de Rovine(1394). Mas isso durou pouco. Logo o príncipe Mircea recuperou o trono, e Vlad I seria expulso. Morreria pouco depois. Apesar de que o nome Vlad era comum nos reinos eslavos.

Após a Batalha de Rovine, Mircea se recusou a pagar as taxas que o sultão otomano exigia. E não exigia só isso. Exigia 500 garotos europeus, para formar o exército de janízaros. Os janízaros eram o exército de elite do sultão, composto por 10.000 soldados, retirados dentre os meninos dos Bálcãs. Esses meninos eram islamizados, treinados e armados como o melhor do exército otomano. O sultão começou a avançar sobre os principados dos Bálcãs. Foi preparada uma cruzada, com ajuda dos reinos cristãos do oeste da Europa. A Cruzada de Nicopolis(1396) foi um desastre. Os otomanos estavam muito mais bem preparados, e os europeus se traíram uns aos outros. Soldados valaquios roubavam soldados franceses pelo caminho. Húngaros torturavam turcos e sérvios ao mesmo tempo. Enfim, a batalha foi uma zona só.

Muitas das vezes os países se beneficiam dos inimigos dos seus inimigos. Uma coisa pôs um freio no avanço otomano. Em 1402 o exército otomano era arrasado por um inimigo maior: Os mongóis! O exército de Tamerlão, que vinha arrasando tudo pelo caminho, derrotou os turcos,aprisionou Bayezid, e deu um descanso para os principados europeus. Mas ocorreu que os turcos foram libertados por seus futuros inimigos. Galeras venezianas libertaram prisioneiros turcos, e os ajudaram a se recompor da derrota. Essa ajuda ainda sairia caro. Se Tamerlão não tivesse derrotado o Império Otomano, Constantinopla não teria caído em 1453, mas ainda nos tempos do sultão Bayezid. Os últimos anos do principado de Mircea I foram de 'corda bamba' entre os poderes otomano e húngaro, principalmente o primeiro.

Em 1436 o príncipe Vlad II, pai de Vlad, retorna do exílio da Transilvânia, e retoma o trono valaquiano de um príncipe do clã danesti. Daí para frente Vlad III moraria no seu principado: A Valáquia! Em 1439 tem lugar na Europa o Concílio de Ferrara-Florença, em que os ortodoxos pedem ajuda aos europeus em geral para impedir o avanço turco. O Cardeal Júlio Cesarini encabeçava a Cruzada. Ela seria em Varna, na Bulgária, à beira do Mar Negro. Os resultados da Batalha de Varna(1444) são conhecidos. O exército cristão foi massacrado. O rei Ladislau da Hungria havia firmado um tratado de paz com o sultão Murad II, dos turcos. Mas o cardeal Cesarini o fez voltar atrás, alegando que “uma palavra dada a um infiel não vale”. Após a derrota, os janízaros exibiram a cabeça do rei Ladislau numa lança, e na outra lança o tratado de paz do rei. E chamavam o rei de perjuro. Antes da Batalha de Varna, o príncipe Vlad II enviou os seus dois filhos caçulas, Vlad e Radu, aos turcos, como sinal de sua fidelidade. Se absteve de ir à batalha,e enviou seu filho mais velho, Mircea. Sua ideia era do sultão não maltratar seus filhos, se ele em pessoa não se juntasse à cruzada. Mas isso desagradou aos húngaros, e ao chefe do seu exército. O comandante dos exércitos húngaros era um príncipe cruel, que até o sultão tinha medo,chamado João Corvinus(pai do futuro rei Mathias Corvinus), chefe dos chamados 'cavaleiros brancos da Hungria'. Este príncipe acusou Vlad II e seu filho de covardia na Batalha de Varna. Após a batalha, Vlad II e seu filho Mircea foram mortos por ordem de Corvinus. Provavelmente enterrados vivos. Enquanto isso, Vlad e Radu ficaram no acampamento turco. Vlad passou maus bocados nas mãos dos turcos, já que seu pai e irmão foram mortos pelos húngaros. Enquanto isso, João Corvinus colocava o seu fantoche, Vladislav II, no trono valaquiano.

Em 1448 os turcos libertam Vlad, enquanto Radu seria mantido para a tropa dos janízaros. Neste ano Vlad tomaria o trono valaquiano do seu oponente, usando suporte turco. Mas isso durou pouco. Dois meses depois, Vladislav retomava o trono com ajuda do exército de Corvinus. Vlad ficaria no exílio na Moldávia por três anos. Quando passaram três anos, Corvinus chama Vlad do exílio, porque seu fantoche ficou rebelde. Vlad jura lealdade à Hungria, e ele e Corvinus, juntos, invadem a Valáquia e a Sérvia, respectivamente. Corvinus perde a batalha contra os turcos,e é morto nela. Vlad vence na Valáquia,e retoma o trono em 1456. Mata seu oponente, e instala o terror no principado. Todas as lendas referentes a Vlad Drácula estão contidas nesse período, que vai de 1456 a 1462. Uma delas diz respeito a um cálice de ouro, que o príncipe teria colocado em praça pública, para a população beber água da fonte na praça. O medo das consequências era tanto que o cálice nunca foi roubado. A maioria dessas lendas teria origem russa ou turca, dependendo do fato.

A situação, ao alvorecer do século XV, era meio tenebrosa para os cristãos, tanto do leste, como do oeste, fossem católicos ou ortodoxos. Cenário político da época: A maior nação cristã do mundo está ameaçada de extinção, o ocidente crê que em breve a Europa se tornará muçulmana. Os países da Europa se batem entre si,e muitos acham que o velho continente está decadente moralmente. Príncipes como Wladislau III, Ivan III, Casimiro IV, Vlad III, Matias Corvino, Carlos V e Luís II tentam montar uma barricada europeia para evitar o pior.

O ataque final otomano contra Constantinopla foi lançado em 29 de maio de 1453 por mar e terra. Eram 15 mil, entre gregos, genoveses e napolitanos, contra 150 mil turcos fora das muralhas. Os gregos eram alvo da artilharia por todos os lados. A cidade parecia perdida. O saque foi tão violento que o sultão ordenou o encerramento do butim, com medo de que nada sobrasse de sua nova conquista. Quando as investidas dos otomanos se faziam mais e mais violentas, Constantino foi morto, depois de heróica resistência, o que levou a uma derrota geral dos últimos defensores da cidade. E muitos nem sabiam, mas o imperador Constantino XI Dragases fora traído. O autor da traição foi seu almirante, grão-duque Notaras, chefe da esquadra bizantina, que teria que estar ajudando Giustiniani a defender as muralhas, mas estava ajudando o sultão a entrar, baseado na promessa do mesmo que o colocaria como cabeça sobre todo o reino, assim que o conquistasse. Após um sítio de 53 dias, Constantinopla finalmente caía em mãos de Mehmed II, agora batizado de “O Conquistador”. E o sultão cumpriu sua promessa ao almirante grego: Decepou sua cabeça, colocando-a no ponto mais alto da cidade, onde finalmente o almirante pôde estar como ‘cabeça sobre todos na cidade’. A moral da história é que ninguém confia em um traidor.

Poucos sabem, mas um evento teve importância nisso. Em 22 de maio daquele ano, ocorreu um fenômeno celeste que mudaria o rumo daquela história. Um eclipse lunar. Todos nós sabemos que um eclipse lunar ocorre quando o Sol, a Terra e a Lua estão alinhados e a Lua entra na sombra da Terra, o que escurece sua superfície, dando a ela uma coloração avermelhada. Mas naquela época, o fenômeno ainda era visto de forma muito supersticiosa, como um sinal de grandes mudanças. Então, quando a Lua nasceu eclipsada naquela noite, provocou reações diferentes nos dois exércitos, o que acabou virando o jogo em favor dos otomanos.

Curiosamente, foram os mesmos gregos, ancestrais dos que ali representavam o que sobrava do império romano, quem explicaram os eclipses e previram pela primeira vez sua ocorrência. Só que depois de mil anos de escuridão, período em que a ciência foi suprimida no ocidente pelos dogmas religiosos, os bizantinos, cristão ortodoxos, não foram capazes de compreender que aquele era apenas um fenômeno da natureza. Só se lembraram de uma profecia milenar que dizia que Constantinopla existiria enquanto a Lua brilhasse sobre ela. Eles interpretaram o eclipse como um sinal da queda de Constantinopla.

Do lado otomano, igualmente religioso, mas que não abominava a ciência, o eclipse foi utilizado de forma estratégica. Avisado com antecedência da ocorrência do fenômeno, o sultão Maomé II aproveitou a chamada “Lua de Sangue” para motivar sua tropa. Eles prepararam com cuidado um último, massivo e decisivo ataque, que ocorreu em 29 de maio de 1453. Na tarde daquele dia, Maomé II entrou triunfante pelas muralhas da cidade. Constantinopla, que era o sonho de Osmã, fundador do império otomano, havia finalmente sido conquistada.

Em 1462 os turcos atacam a Valáquia pela rebeldia de Vlad em não pagar os impostos, e recusar o envio de garotos para o exército de janízaros. Dizem que a esposa de Vlad se atirou do alto do castelo,para não ser prisioneira dos turcos. Vlad é obrigado a fugir para a Hungria, onde Mathias Corvinus, filho de João Corvinus, é agora o rei da Hungria. Chegando em Budapeste, Vlad é aprisionado por ser acusado de traição. Fica na prisão por cerca de 12 anos. Alguns documentos falam que foi somente até 1466. De repente é solto pelo rei Matias Corvino. É oferecido um acordo, para se casar com a irmã do rei, que é católica, abraçando o catolicismo. Em troca receberia dinheiro e armas para recuperar o trono valaquiano e seu principado.Sua resposta ao rei húngaro foi:"O estandarte de guerra que estiver na minha mão não interessa". Então ele se casa com a irmã do rei, renega a crença ortodoxa, abraçando o catolicismo romano. Em troca de sua 'conversão' em casamento, o papa e a Hungria enviam-lhe dinheiro e armas para recuperar seu principado. Durante todo o período que Vlad esteve na Hungria, seu irmão Radu foi príncipe da Valáquia, como fantoche turco. Logo em seguida, assumiria o príncipe Basarab. Tudo isso durante a prisão de Vlad.

Em 1474 Vlad começa seus preparativos para retomar seu trono. Reuniu tropas na Transilvânia, e até na Moldávia, do seu primo Stephan III da Moldávia, para retomar o trono. Em 1476 Vlad marcha com seus aliados em direção a Valáquia. Seu irmão Radu já era morto,e foi substituído pelo príncipe Basarab, do clã danesti. Vlad expulsou Basarab, e retomou o trono. Mas, após a vitória, seus aliados retiraram suas tropas, deixando sua posição enfraquecida. No mesmo ano os turcos invadem a Valáquia, vencendo Vlad numa batalha perto de Bucareste. A cabeça de Vlad foi cortada e enviada ao sultão, sendo exposta em Constantinopla, como prova de que o empalador estava morto. Seu corpo foi enterrado no Mosteiro de Snagov.

Ainda hoje, as lendas de Vlad Drácula que chegaram até nós vieram, em sua maior parte, da Rússia e da Turquia. Foi de lá que o escritor Bram Stoker retirou seus dados. Foi Vlad que fundou a cidade de Bucareste, hoje capital romena. O castelo de Vlad, ao qual os filmes de vampiro tanto se referem, é o castelo Poenari, às margens do rio Arges. Não é o castelo de Bran, como muitos pensam. Até hoje sua história é distorcida em filmes de vampiros.

Castelo Poenari, às margens do Arges, hoje parciamente em ruínas.

A queda da cidade de Constantinopla trouxe consequências inimagináveis, do oriente ao ocidente. Com a queda do império bizantino, seriam fechadas as portas comerciais entre os europeus e o leste. Isso iria favorecer reinos litorâneos, como Portugal e Espanha. E mais tarde Inglaterra e Holanda. Estava aberta a temporada das navegações, em que poemas como ‘Os Lusíadas’ de Luís Vaz de Camões ficariam famosos. Seria feita a colonização da América, onde um novo cenário histórico seria montado.

Nessa época, após a queda de Bizâncio, a Europa entra em divisão total. Os turcos entraram até 1/3 do território europeu. As pessoas começam a chamar o sultão de 'anticristo'. Parece algo com os dias atuais? Mas toda essa fantasia pára por aí. Os otomanos, por causa do próprio jeito como arrumam seu império, não têm capacidade para dominar o mundo. O exército de janízaros volta-se contra os sultões. O império começa a cair no alvorecer do século XVII. A Batalha de Viena(1683) seria a última ameaça otomana na Europa. Dali para frente os otomanos só serão acuados pelos europeus. A América do Norte cresce. O último suspiro do grande império otomano dá-se em 1915, no fim da 2ª Guerra Balcânica. Durante a 1ª Guerra Mundial, a Turquia perdeu a Albânia, a Macedônia e a Trácia. Ficou apenas com uma região em torno de Istambul(antiga Constantinopla). E, se não fosse por um líder nacionalista chamado Mustafá Kemal, talvez nem isso lhe restasse.

A Romênia de Vlad Drácula que hoje conhecemos só surgiu no século XIX, como resultado da união entre Valáquia e Moldávia. Mais tarde entrou o principado da Transilvânia. E a Moldávia se separou, aderindo à URSS. A formação da Romênia iniciou após a Guerra da Crimeia, onde o império turco perdeu vários territórios. As lendas sobre Vlad surgiram na Rússia e Turquia por motivos diferentes. Na Turquia, os turcos muçulmanos tentaram manchar seu nome, alegando que foram derrotados por um 'ser sobrenatural'. E na Rússia pelo ressentimento que ficaram em relação a Vlad, por este ter abandonado a ortodoxia, e abraçado o catolicismo. Em 1931, arqueólogos abriram a tumba de Vlad III, o empalador, e encontraram apenas ossos de animais. Na Romênia atual, Vlad é hoje lembrado como salvador de seu país. E muitos rezam pelo seu retorno.

Referências Bibliográficas

1)IMBER,Colin.Crusade of Varna, 1443-45.Ed. Aldershot,UK;Burlington,VT:Ashgate.2006.
2)PORTAL, Roger. Eslavos:Povos e Nações.Tradução:Natalia Nunes. Ed.Cosmos.Lisboa,1968.
3)YUDENITSCH,Natalia.A queda da última estrela do império bizantino. Coleção Grandes Guerras,Volume VIII. Aventura na História.Ed. Abril.2008. São Paulo.
4)Vlad the impaler - How did he rise to power?(Part 1/2) --> https://www.youtube.com/watch?v=gjWk_8Zicx0&t=188s
5)Vlad the impaler - How did he become a legend?(part 2/2) --> https://www.youtube.com/watch?v=tZiHnhKDXAw&t=29s
6)Vlad the Impaler - Dracula the man & myth ---> https://www.youtube.com/watch?v=k63bLFRBcvY&t=1s

quarta-feira, 17 de maio de 2023

O dia D da liberdade!

A União Europeia presta sua homenagem à comunidade LGBTQIA+, devido à vitória de 43 anos do início do ganho de suas causas. Em 17 de maio de 1990, a Organização Mundial da Saúde(OMS) retirou a homossexualidade da Classificação Internacional de Doenças (CID). Desde então, a data virou símbolo da luta por direitos humanos e pela diversidade sexual, contra a violência e o preconceito. A homossexualidade passou a ser vista como patologia por volta do fim do século XIX.

Em 1886, o psiquiatra alemão Richard von Krafft-Ebing definiu-a como "um distúrbio degenerativo". O principal trabalho de Krafft-Ebing é Psychopathia Sexualis: eine Klinisch-Forensische Studie(Psicopatia Sexual: Um Estudo Clínico-Forense), que foi publicado pela primeira vez em 1886 e expandido em edições subsequentes. A última edição escrita pelo autor(a décima segunda) continha um total de 238 casos de comportamento sexual humano. Essa crença rendeu uma série de preconceitos médicos por cerca de cem anos.

A mudança em 1990 foi um marco significativo no reconhecimento dos direitos das pessoas LGBTQIA+ e contribuiu para a desestigmatização da homossexualidade. Parabéns à União Europeia, que se tornou um símbolo da modernidade mundial!

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