Quando o Brasil se tornou uma república, não foi de forma natural, mas foi através de um golpe militar. E é importante enfatizar que o exército brasileiro foi formado na, e para, a Guerra do Paraguai(1865-1870). Antes existia uma espécie de Guarda Nacional, que reunia uns 17.000 soldados pelo país. Para suprir as deficiências da guerra, pois Solano Lopez do Paraguai tinha mais de 85.000 soldados, o império brasileiro criou os chamados Voluntários da Pátria, que seriam uma leva de homens alistados à força, onde o próprio imperador se denominou o “voluntário da pátria número 1” numa foto falsa, como se o próprio imperador estivesse no Paraguai, coisa que não estava. Além disso, o império alistou os escravos negros. Isso tanto alavancou os números de soldados brasileiros na guerra. Mas também elevou a moral da tropa contra o império, quando os soldados retornaram da guerra. Juntando isso com a questão dos escravos, gerou a queda da monarquia. Isso feito por um marechal que era fã da monarquia brasileir
Em 1930, após eleições que foram postas em cheque contra os paulistas, a elite agrária de Minas Gerais se juntou aos gaúchos e deram o golpe, colocando Getúlio Vargas no poder. Além disso, houve os golpes de 1937, implantando a ditadura Vargas de fato, e o de 1946, retirando Vargas. Este último golpe foi mais brando.
Após o suicídio do presidente Getúlio Vargas, que havia ganho eleição após o seu regime ditatorial, o vice presidente Café Filho assumiu. Este foi o primeiro presidente evangélico do Brasil, embora poucas pessoas sabiam disso. Em 1955 houve eleições, onde venceu Juscelino Kubitschek, do PSD, e João Goulart, do PTB. A UDN e a parte conservadora das Forças Armadas não gostaram disso. O coronel Jurandir Mamede(1906-1998) fez um pronunciamento, onde dizia que a democracia não era tão boa quanto parecia. O general Henrique Teixeira Lott(1894-1984) reagiu imediatamente. Se propôs a ir ao presidente Café Filho para que punisse o coronel. O presidente estava doente no hospital, deixando o comando com Carlos Luz, presidente da Câmara dos deputados. Mas não adiantou, pois não foi ouvido. Lott ameaçou demitir-se. Vários generais disseram que o acompanhariam para onde quer que ele fosse. As coisas ficaram tensas. Carlos Luz sentiu as tropas se movimentando. Ele e o almirante Silvio Heck(1905-1988) se abrigaram no cruzador Tamandaré. A artilharia do Exército disparou vários tiros contra o navio. Carlos Luz disse para o almirante Silvio Heck não reagir. Do contrário, seria o caos no Rio de Janeiro. Lott pede o impeachment de Carlos Luz ao presidente do senado, Nereu Ramos(1888-1958). Foi aceito por uma votação esmagadora. E assim foi garantida a posse de Juscelino Kubitschek(1902-1976) e João Goulart(1919-1976).
O próximo presidente da República seria Jânio Quadros(1917-1992). E também tinha João Goulart como vice. Mas eram de chapas diferentes. Jânio se elegeu pela coligação que envolvia a UDN. Não tendo conseguido eleger seu vice, Milton Campos(1900-1972). Foi eleito o vice da esquerda, João Goulart, vice-presidente pela segunda vez. Concorreu com Jânio o Marechal Lott, que evitou um golpe contra Juscelino Kubitschek e João Goulart. Mas não venceu porque além de não ter apoio da ala conservadora dos militares, ainda havia muito ressentimento contra ele.
Jânio Quadros foi um presidente bem problemático, tendo depois a própria UDN entrado em conflito com ele. Jânio Carlos Lacerda, da UDN, se acusavam mutuamente de “golpismo”. Conseguiram a renúncia de Jânio, mas daí surgiu um problema. Boa parte dos militares e da UDN não aceitavam a posse do vice, João Goulart. Então deram um jeito parlamentarista no Brasil, e nosso primeiro ministro foi justamente Tancredo Neves, que mais tarde seria eleito nosso primeiro presidente pós regime militar. No final, acabou Goulart assumindo, numa campanha pela legalidade, movida por Leonel Brizola, na época governador do Rio Grande do Sul. E o parlamentarismo brasileiro se encerrou num plebiscito de janeiro de 1963. Porém coisas ainda iriam acontecer.
No dia 31 de março de 1964, militares chefiados pelo general Mourão Filho, desceram com tropas em Juiz de Fora, Minas Gerais, em direção ao Rio de Janeiro. Os militares de baixa e média patente tinham muitos a favor do governo. Mas a maioria do alto comando estava contra. Porém com o tempo, muitos legalistas desertaram. E Mourão Filho, Castelo Branco e Costa e Silva venceram. Os subalternos seguiram seus comandantes. Militares dão muita importância à hierarquia, e isso pesou contra o governo.
O presidente João Goulart, que já se encontrava no Rio Grande do Sul, fugiu para o Uruguai. Estava dado início ao regime que iria durar 20 anos, até a abertura, que foi desencadeada aos poucos, nos finais dos anos 70. A campanha das “Diretas Já” deu fim a um regime de repressão, com 17 atos institucionais, inclusive o AI-5, em dezembro de 1968 no governo Costa e Silva. Ato este que deu fim ao deputado Rubens Paiva, do qual agora foi feito o filme de sua família.
Em dezembro de 2022, quando muitos militares queriam derrubar o futuro presidente Lula, mas não tinham maioria no alto comando, ocorreu o inverso de 1964. Em 64, em princípio, os praças e oficiais de baixa patente eram a favor do governo. A maioria do alto comando era contra. Em 1964 era para tirar o presidente em questão. Em 2022 era pra manter. Há muitas diferenças visíveis. E os EUA, dessa vez, não viram “uma onda de golpes comunistas na América do Sul”, como nos anos 60 do século passado. E o mais importante: A população, em maioria, percebeu o transtorno que pode causar um regime militar. Nenhuma inflação lembra as coisas galopantes, como naquela época. E é claro. Se houvesse pessoas falando de inflação alta num regime militar, seriam tidos como “anti patriotas contra o governo".
O ex-presidente cometeu um erro com as tropas em seu mandato. Do mesmo jeito que a maioria das Forças Armadas rejeita as práticas da esquerda, também rejeita a política partidária. Um militar entrou para a política, as tropas viram as costas para ele. Tanto que o inciso V do art 142 da constituição federal proíbe militares da ativa na política. Esse foi o erro de Jair Bolsonaro com generais como Pazuello ou Braga Netto. Militares na política é prática de países subdesenvolvidos.
Generais legalistas e corretos como Henrique Teixeira Lott nos anos 50, o próprio Ernesto Geisel nos anos 70, Tomás Miguel Paiva, Guido Amin Naves, André Luis Novaes Miranda, Santos Cruz(que foi herói de guerra na África central), Freire Gomes, brigadeiro Batista Júnior e até mesmo o general Etchegoyen, que depois criticou Lula. Todos estes são heróis do país, não permitindo a politização dos militares.
Nenhum país civilizado no mundo, como EUA, Reino Unido e França, usa as forças armadas para “limpar a corrupção do país”. Somente um país pobre e subdesenvolvido faz isso. África e Ásia estão cheias de golpes militares. Quanto a nós, recordemos esses 40 anos desde a campanha das “diretas já”, onde veio a abertura política no Brasil. Que este regime seja sempre lembrado como tudo aconteceu. Para que nunca mais se esqueça. Para que nunca mais aconteça...
Referências Bibliográficas
1.COSTA, Major Joffre Gomes da.Marechal Henrique Lott.Biblioteca do Exército.Pags 299-304. Rio de Janeiro, 1960. 2.BRANCO, Carlos Castello.Os militares no poder. Ato 5.Coleção Brasil século 20. volume II.Nova Fronteira. Rio de Janeiro, 1978.
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