“Quando os homens não lutam por necessidade, o fazem por ambição." Nicolau Maquiavel
Há 565 anos atrás, no dia 29 de maio de 1453, exatamente numa terça-feira, caía a última estrela do império bizantino. Era o fim do maior império cristão da idade média. O canhão de dardanelos punha fim a inviolabilidade das muralhas da cidade. E este canhão foi construído por Urban, um artífice cristão húngaro contratado pelo sultão Mohamed II, sendo pago a preço de ouro. O cerco a cidade durou alguns meses. Havia esperança da nova aliança feita entre as igrejas romana e ortodoxa, onde o papa Nicolau V enviaria a ajuda prometida. Mas a ajuda não veio. A maioria da Europa estava comprometida com a Guerra dos Cem anos(que já durava bem mais que isso) entre Inglaterra e França, sendo cada um aliado de um ou de outro. O máximo que viria seria uma leva de navios genoveses, comandadas pelo capitão Giovanni Giustiniani, que mais tarde viraria lenda na defesa da cidade.
Constantinopla já não andava ‘bem das pernas’ desde a invasão católica em 1204, durante a Quarta Cruzada, patrocinada por venezianos. Por isso a união com o ocidente foi bem vinda. Mas a população não aceitava a união com o papa. Preferia o sultão turco. Tanto que muitos gregos gritavam nas ruas de Bizâncio:”Preferimos o turbante do sultão ao chapéu do papa!” E isso não demoraria a acontecer. Após a queda de Constantinopla para os cristãos ocidentais em 1204, a cidade se recuperou. Mas nunca mais como antigamente. Na época, a estupidez dos chamados ‘cruzados criados para defender a terra santa’ não sabia. Mas, ao remover o Império Bizantino do caminho dos católicos, acusando-os de ‘separatistas hereges’, estavam removendo um estado-tampão que os protegia dos turcos otomanos. E essa burrice sairia caro mais tarde. Muito caro. Este preço viria do leste. Com o fim do século XIV, um novo inimigo se aproximava dos Bálcãs: Os turcos otomanos. Vieram a cavalo do Mar de Aral, destruindo os reinos islâmicos por onde passavam. Finalmente eles próprios se tornaram muçulmanos. Eram uma dinastia turca fundada por Osman. Vinham do Turquestão Ocidental. Por isso que turcos são parentes dos chineses,não dos árabes.
Então o Sacro Império Romano-Germânico resolveu criar, em 1408, uma ordem de cavalaria,chamada Ordem do Dragão. Tinha o objetivo de conter a ameaça turca na Europa. O imperador Sigismundo de Luxemburgo criou tal ordem, da qual faziam parte vários príncipes e nobres da Europa. Alguns membros fundadores foram Stefan Lazarević, da Sérvia e Hermann de Celje, sogro do imperador, e conde da Estíria. Outros membros notáveis eram Alfonso V de Aragão, Fernando I de Nápoles, Vlad II Dracul e Vlad III Draculea, mais tarde conhecido como Vlad Drácula, das lendas vampirescas de Bram Stocker. Nessa época, o sultão Bayezid, conhecido como 'o relâmpago', foi tomando parte após parte do Império Bizantino. Isso deixou os principados eslavos em alerta, assim como os reinos búlgaro, sérvio, húngaro e polonês.
Mas os bizantinos também contribuíram para isso com suas divisões internas. Quais eram as condições do Império Bizantino no início das cruzadas no século XI ? Durante 112 anos, a França teve três reis: Roberto II, Henrique I e Felipe I. E o império bizantino teve 15, sem contar os 'autoproclamados' imperadores, que inclusive se utilizavam de ajuda do império turco para subir ao trono. Uma dessas 'ajudas' custou caro, pois despertou a visão turca de como os bizantinos estavam frágeis. Numerosos historiadores avaliam que a queda de Constantinopla constituiu uma verdadeira ruptura, marcando o fim da Idade Média e o advento da Renascença. Na verdade, a “Nova Roma”, afetada pela peste de 1347, perdera a prosperidade econômica e o dinamismo demográfico que conhecera antes de 1204. Na medida em que os exércitos turcos avançavam sobre os principados balcânicos, faziam exigências a estes. Exigiam vários garotos europeus para formar seu exército de janízaros. Os janízaros eram o exército de elite do sultão, composto por 10.000 soldados, retirados dentre os meninos dos Bálcãs. Esses meninos eram islamizados, treinados e armados como o melhor do exército otomano. O sultão começou a avançar sobre os principados dos Bálcãs. Foi preparada uma cruzada, com ajuda dos reinos cristãos do oeste da Europa. A Cruzada de Nicopolis(1396) foi um desastre. Os otomanos estavam muito mais bem preparados,e os europeus se traíam uns aos outros. Soldados valaquianos roubavam soldados franceses pelo caminho. Húngaros torturavam turcos e sérvios ao mesmo tempo.
Porém muitas vezes os países se beneficiam dos inimigos dos seus inimigos. Uma coisa pôs um freio no avanço otomano. Em 1402 o exército otomano era arrasado por um inimigo maior: Os mongóis! O exército de Tamerlão, que vinha arrasando tudo pelo caminho, derrotou os turcos,aprisionou Bayezid, e deu um descanso para os principados europeus. Mas ocorreu que os turcos foram libertados por seus futuros inimigos. Galeras venezianas libertaram os prisioneiros turcos, ajudando-os a se recompor da derrota. Essa ajuda ainda sairia caro. Se Tamerlão não tivesse derrotado o Império Otomano, Constantinopla não teria caído em 1453, mas ainda nos tempos do sultão Bayezid. A situação, ao alvorecer do século XV, era meio tenebrosa para os cristãos, tanto do leste, como do oeste, fossem católicos ou ortodoxos. Cenário político da época: A maior nação cristã do mundo está ameaçada de extinção,o ocidente crê que em breve a Europa se tornará muçulmana. Os países da Europa se batem entre si,e muitos acham que o velho continente está decadente moralmente. Príncipes como Wladislau III, Ivan III, Casimiro IV, Vlad III, Matias Corvino, Carlos V e Luís II tentam montar uma barricada europeia para evitar o pior.
O ataque final otomano é lançado em 29 de maio de 1453 por mar e terra. Eram 15 mil, entre gregos, genovezes e napolitanos, contra 150 mil turcos fora das muralhas. Gregos eram alvo da artilharia por todos os lados. A cidade parecia perdida. O saque foi tão violento que o sultão ordenou o encerramento do butim, com medo de que nada sobrasse de sua nova conquista. Quando as investidas dos otomanos se faziam mais e mais violentas, Constantino foi morto, depois de heroica resistência, o que levou a uma derrota geral dos últimos defensores da cidade. E muitos nem sabiam, mas o imperador Constantino XI Dragases fora traído. O autor da traição foi seu almirante, grão-duque Notaras, chefe da esquadra bizantina, que teria que estar ajudando Giustiniani a defender as muralhas, mas estava ajudando o sultão a entrar, baseado na promessa do mesmo que o colocaria como cabeça sobre todo o reino, assim que o conquistasse. Após um sítio de 53 dias, Constantinopla finalmente caía em mãos de Mehmed II, agora batizado de “O Conquistador”. E o sultão cumpriu sua promessa ao almirante grego: Decepou sua cabeça, colocando-a no ponto mais alto da cidade, onde finalmente o almirante pôde estar como ‘cabeça sobre todos na cidade’. A moral da história é que ninguém confia em traidor.
Com a queda do império bizantino, seriam fechadas as portas comerciais entre os europeus e o leste. Isso iria favorecer reinos litorâneos, como Portugal e Espanha. E mais tarde Inglaterra e Holanda. Estava aberta a temporada das navegações, em que poemas como ‘Os Lusíadas’ de Luís Vaz de Camões ficariam famosos. Seria feita a colonização da América, onde um novo cenário histórico seria montado.
Nessa época, após a queda de Bizâncio, a Europa entra em divisão total. Os turcos entram até 1/3 do território europeu. As pessoas começam a chamar o sultão de 'anticristo'. Parece algo com os dias atuais? Mas toda essa fantasia pára por aí. Os muçulmanos, por causa do próprio jeito como arrumam seus impérios, não têm capacidade para dominar o mundo. O exército de janízaros volta-se contra os sultões. O império começa a cair no alvorecer do século XVII. Dali para frente só será acuado pelos europeus. A América do Norte cresce. O último suspiro do grande império otomano dá-se em 1915, no fim da 2ª Guerra Balcânica. Durante a 1ª Guerra Mundial, a Turquia perdeu a Albânia, a Macedônia e a Trácia. Ficou apenas com uma região em torno de Istambul(antiga Constantinopla). E, se não fosse por um líder nacionalista chamado Mustafá Kemal, talvez nem isso lhe restasse.
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