Pesquisar este blog

sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

A Sereníssima República de Veneza: Dezesseis séculos da rainha do Adriático

Quem nunca ouviu falar dos canais de Veneza? A sereníssima república italiana que já foi sede da maior frota naval do mundo, em fins da idade média e início da idade moderna? Neste ano, que se completam dezesseis séculos de sua fundação(de acordo com a tradição cristã), além de 450 anos da famosa Batalha de Lepanto, este texto vem tratar de sua história, assim como seus dias de glória.

Até a fundação da República da Itália, no final do século XIX, Veneza era uma república independente que foi o nascedouro das maiores riquezas do ocidente. Fazendo alianças com muitos no decorrer da História, desde ligas católicas até sultões turcos, Veneza era prática em suas políticas e alianças. Tanto que participou da Quarta Cruzada, invadindo Constantinopla e deixando mais frágil o cristianismo ocidental e oriental, em relação ao mundo islâmico. Não havia limites para suas políticas de alianças. Seus personagens compatriotas foram heróis ou polêmicos. Desde o viajante Marco Polo do século XIII, até o galanteador Giacomo Casanova, no século XVIII. Veneza desde muito tempo já era a rainha do mediterrâneo e do Adriático.

Veneza desenvolveu-se ao longo do Grande Canal. De um lado a outro, era antes uma lacuna de quase 60 mil hectares, com 90% recoberto por água. Ali, habitantes de Pádua e Áquila se refugiaram dos ataques de godos e lombardos nos séculos V e VI, quando, pela tradição histórica e religiosa, foi fundada.

Veneza foi, tradicionalmente, fundada em 25 de março do ano 421, quando teria sido colocada a primeira pedra de fundação da igreja de San Giacomo di Rialto, na principal ilha da cidade. Isso é objeto de controvérsia histórica até hoje. Em pleno século XVIII, Veneza possuía cerca de 118 ilhas, 170 canais e é interligada por mais de 400 pontes.

Numa época de invasões bárbaras, a cidade marítima parecia um refúgio certeiro. Por volta do século XVIII já contava com 70 igrejas. Isto numa época pós reforma Protestante e pós Concílio de Trento, que tentou frear o culto de relíquias, onde se sabia que o corpo de São Marcos teria sido trazido do Egito até Veneza no século IX.

Durante a idade média, a Veneza católica fez comércio com quem pôde: Judeus, árabes, turcos, chineses e mongóis. Tudo em nome do capital. O viajante Marco Polo, e seus parentes, tiveram o empreendedorismo de viajar à China no século XIII. Mas eles foram os primeiros europeus a pisarem na China? Não. Desde pequenos aprendemos que o primeiro europeu a pisar na China foi Marco Polo, mas não foi. O primeiro europeu a pisar na China foi o mercador judeu italiano chamado Jacob D'Ancona. Ele esteve na China ainda sob a dinastia Song, vindo a mesma cair sob o ataque dos mongóis. Escreveu o livro chamado Cidade da Luz, de relatos do oriente bem mais precisos que o veneziano Marco Polo.

Durante a baixa idade média, Veneza alianças e quebra de alianças com muitos, ao sabor de seu comércio. Teve mercadores como Romano Mariano, que desenvolveu atos lucrativos, e tensos, com o império bizantino. Participou da coroação de deposição de vários imperadores de Bizâncio, tomou parte do saque de Constantinopla em 1204, e também de Zara na região dálmata. Como o imperador foi deposto, e o que assumiu não queria negócios com o ocidente, então o pacto com Bizâncio foi quebrado. Veneza socorreu os turcos sobrevivente da batalha perdida contra os mongóis de Tamerlão e, principalmente, compôs a maior parte da frota da Batalha de Lepanto(1571), com a chamada Santa Liga, que se formou para vencer os turcos, após longas ameaças piratas turcas no mediterrâneo. Ou seja, Veneza podia ser comercial, ou guerreira, quando queria.

Os primeiros doges de Veneza eram colocados pelo império bizantino. Depois o cargo passou a ser eletivo. No início do século XVI, Veneza possuía um arsenal naval de fazer inveja, só superado por Portugal. Mas o esquema de montagem era o que chamava a atenção. Empregava cerca de 5 mil trabalhadores e 150 embarcações. Os mastros e demais partes eram numerados, para facilitar a montagem rápida, no caso de um ataque à República.

Veneza teve várias peculiaridades em meio a península italiana. O Carnaval de Veneza, por exemplo, é bem mais extenso e longo que o Carnaval que temos hoje, que é fruto da Roma pagã, anterior às conversões Cristãs. O Carnaval veneziano teve origem no século XI, no governo do doge Vitale Falier(1084-1096). Nos séculos seguintes teria personagens nada ortodoxos(mas paradoxalmente bem conservadores) como Giacomo Casanova(1725-1798), conhecido graças a sua obra Memórias em 12 volumes, como um dos mais libertinos da História.

No século XVIII e, com o advento de Napoleão Bonaparte, Veneza só era uma sombra do que havia sido. Passou a ser objeto de disputas entre os franceses e o Império austríaco. Houve tentativas de incorporação da República por parte de potências franco-austríacas, isso até o Tratado de Veneza em 1866, quando a República foi incorporada à recém unificada nação italiana.

Veneza se manteve independente enquanto pôde. Até ver que seria muito melhor estar incorporada a uma nação recém formada. Sendo assim, a glória da antiga rainha do Adriático seria incorporada às glórias unificadoras de Giuseppe Garibaldi…

Leão de São Marcos, em Veneza

Referências Bibliográficas

1. HOQUET, Jean-Claude. A serenísssima república de Veneza:Mil anos de prosperidade e esplendor. Ensaio: A República onde os mercadores eram heróis, São Paulo. Ano I, nº9. Julho de 2004.
2. História de Veneza, a Sereníssima: https://www.youtube.com/watch?v=Ap4xPhSggcU&t=6322s

Nenhum comentário:

Postar um comentário