Roma, a lendária. A vitoriosa. A capital dos césares. Maior que Atenas, maior que Alexandria, maior que Antioquia. A maior do mundo nos dias áureos de seu glorioso império. A primeira cidade da terra a possuir um milhão de habitantes. Sua ascensão e queda foram profetizadas por Daniel, quando ainda estava em vigor o império babilônico. Muitos, inclusive o teólogo Agostinho de Hipona, associavam a sua glória, na época já decadente, a conversão do cristianismo. Ao escrever 'Cidade de Deus', Agostinho deu vida àquilo que mais tarde viria ser conhecido como civilização judaico-cristã, que segundo muitos segura as normas da chamada 'civilização ocidental'. Era uma ideia perfeitamente estúpida, mas as pessoas dos séculos IV e V estavam dispostas a crer em qualquer coisa. É como se fosse um livro de auto ajuda dos fins da antiguidade.
Roma, como império, surgiu em 27 a.C. , após a batalha de Ácio. Foi quando Otávio Augusto assumiu toda a república romana como 'príncipe do senado e imperador das legiões'. Maquiavel fala disso, em tom elogioso, em seus escritos. A Roma republicana era uma sucessão de guerras civis, que até traziam vitórias, como as guerras púnicas, mas guerras como de Mário e Sila consumiam os cofres da república. Mas Otávio, agora chamado de Augusto(título que se estenderia aos outros imperadores), levaria Roma a fronteiras inimagináveis. A partir dali o império passou a estender suas fronteiras, que iam da Síria até a Bretanha, ainda envolvendo o norte da África e o Egito. No fim do século II, já com o imperador Marco Aurélio, Roma havia atingido o máximo de sua extensão.
A partir do início do século III começa a decadência. Por quê? Porque a larga extensão do império não comportava mais só possuir súditos da península italiana como seus cidadãos. A cidadania era almejada por muitos. E não só isso, mas a própria Roma precisava estender essas cidadanias para poder suprir as fileiras de seu exército. A ganância estava abrindo as portas para a destruição. Quando, em 212 d.C., o imperador Caracala concedeu cidadania a todos os súditos livres, foi estabelecido um elo comum. Daí um cidadão romano passava a ser uma espécie de 'cidadão do mundo'. Povos bárbaros de todos os cantos(aqui uso o termo grego para a etimologia de bárbaro, ou seja, aqueles que falam idiomas desconhecidos) agora vinham engrossar as fileiras do império. Isso ao ponto do pai do último imperador romano Romulo Augusto, Orestes, ser de etnia dos godos. Após a ascensão de Alexandre Severo, houve em 50 anos, 43 imperadores. Todos generais. Mas a disputa era letal. Trinta e sete deles pereceram de morte violenta. Quando muitos analisaram a possível queda do império e a religião, confundiram os sintomas com a doença. Não tinha mais como salvar o glorioso império. Bárbaros de todos os cantos forçavam as fronteiras. E quando o império caiu, todos esses grupos partilharam seus despojos.
O primeiro saque que Roma sofreu na História foi de Brennus, chefe das tribos celtas da Gália Transalpina. Foi em 350 a.C., e arrasou a cidade. Após devastar o exército, pronunciou a famosa frase "Vae Victis"(pobres dos vencidos). Então, em 410 d.C., quando Alarico, rei dos visigodos, saqueou a cidade, o primeiro saque ainda estava na memória.
No final do século IV um povo, até então desconhecido, começou a invadir a Europa:Os Hunos! Estes eram bárbaros tártaro-mongóis, parentes dos chineses, que vieram a cavalo da fronteira da China, em busca de terras. Com essa invasão, bárbaros germanos, como os godos do oeste(visigodos) ou do leste(ostrogodos) buscaram refúgio dentro das fronteiras do Império Romano. Roma aceitou refúgio, desde que se alistassem no exército, e ajudassem a proteger as fronteiras. Foi um erro grotesco. Como os romanos exploravam os godos em suas fazendas, estes se revoltaram. Foi preparada uma batalha, nas planícies de Adrianópolis, dentro da Sérvia atual. As legiões do imperador Valentiniano puderam contar com que viram: Cerca de 20.000 guerreiros visigodos na planície. Porém só não contaram com que não viram, a cavalaria dos ostrogodos, que descia a montanha como raios de tempestade. Cercaram as legiões, formando um cinturão. O próprio imperador Valentiniano jazia morto no campo de batalha. Os godos ganharam o direito,a partir daí, de se estabelecer dentro das fronteiras do Império. Desde meados do século III que o exército romano contratava bárbaros germânicos para suas fileiras. Isso era perigoso, pois estes retrocediam aos seus povos após a guerra, levando as estratégias romanas com eles. O fim parecia estar perto.
O fim veio no fim do século V, quando o império só era uma sombra do que fora outrora. Átila, rei dos Hunos, forçou as fronteiras do império por vários lados. Isso obrigou Aecius, general romano, a formar uma aliança com povos bárbaros, como francos, suevos e visigodos. Tudo se desenrolou na Batalha de Chalons(451), no que hoje seria a região de Champagne, na França. Vitória romana. Mas os 'aliados' viriam a cobrar seu preço mais tarde. Quanto a Átila, este voltaria. Um ano depois Átila cercaria Roma. O papa Leão I veio implorar por um acordo. Conseguiu que os hunos fossem embora. Átila morreria pouco depois.
Porém o cerco dos hunos despertou outros povos, como os vândalos, do norte da África. Grupo germânico que veio descendo a Europa, até que pela Espanha invadiu o norte da África. Agostinho, ao escrever "A cidade de Deus", tentava dar um conforto divino ao império. Conforta-los pelo saque visigodo em 410. Sorte dele não ter visto esse mesmo império devastado pelos vândalos. Sem falar nos hunos e nos heruclos. Como Agostinho morreu antes, não viu a cidade de Hipona, sua cidade natal, devastada pelos vândalos. Com respeito a Roma, os vândalos cercaram a cidade. A coisa foi tão feia que o mesmo papa Leão I veio pedir por clemência. Tanto fez que conseguiu uma promessa de moderação vândala. O bispo de Roma resolveu então, em sinal de boa fé, deixar os portões de sua amada cidade aberta aos bárbaros. Doce ilusão! Genserico, rei deles, resolveu ensinar ao mundo o verdadeiro significado da palavra vândalo. Os saques deixaram zerados os tesouros dos templos. A "Cidade de Deus" de Agostinho era agora consumida nas cinzas. O Império resistiria, a trancos e barrancos, até 476 d.C., quando Odoacro, rei dos Héruclos, destruiria o que restava do Império. Era o início da idade média europeia.
Ao comparar essa queda, muitos incautos podem associar com a Europa e seus imigrantes sírios. Mas não é. Quem se aproxima deste fim são os EUA. Do mesmo jeito que Agostinho, muitos escritores cristãos falam da "glória da América como região de Deus". Mas cristãos reais sabem que não é. A Europa está entrando numa era de metade xenofobia, metade secularismo. Os EUA estão no sentido oposto. Mas cometem o mesmo erro que Roma cometeu no século III: Estender a cidadania norte-americana a todos os povos. E com uma missão com tendências civilizatórias. Tal qual Agostinho. Por isso que, assim como Roma, não cairá devido a invasão. Nenhum grupo bárbaro se atreveria a invadir Roma. O império caiu porque implodiu de dentro para fora. As invasões não foram sua doença, mas os seus sintomas. E, assim como ocorreu no século V, muitos vão imaginar que será o fim do mundo. Mas não será, como não foi na época. A civilização humana sobrevive a mais coisas do que isso...
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