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quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

A cidade proibida: O renascimento do Dragão

"Um império pode ser conquistado a cavalo, mas não governado a cavalo."Ye Liu Shut'sai , filósofo chinês da corte de Ogodei, Khan dos mongóis

Um leão chinês guarda a entrada da Cidade Proibida, Pequim.

Este ano fez 600 anos da inauguração da Cidade Imperial proibida, a cidade de Pequim, agora capital imperial, inaugurada pela Dinastia Ming(1368-1644). Dinastia esta que concluiu a maior parte da grande muralha da China, iniciada ainda no século VII a.C., antes da unificação da China, sendo sempre completada através dos séculos.

A cidade proibida da China está localizada num recinto murado no centro da cidade imperial de Pequim. A residência do imperador, feita de prédios de madeira vermelha e amarela cercados de terraços, escadas e balaustradas de marmore branco, contrasta com o meio natural.A maior porta do Palácio é a do meio-dia, composta de um grande saguão central e quatro pavilhões. Mais para o norte está o pavilhão, através do qual se ingressa no Palácio do céu, residência privada do imperador. As habitações exclusivamente imperiais estavam ao lado oeste do Palácio, bem como os pavilhões para a Imperatriz e a concubina imperial. Um dos aspectos particulares da arquitetura chinesa eram as contrucoes com terraços em diferentes níveis. Na cidade proibida também encontram-se também os retângulos concêntricos da proibição: uma ordem arquitetônica onde tudo é defesa de outra defesa e cada elemento é o parapeito do seguinte, terminando num centro com a cidade proibida de aproximadamente 720 mil metros quadrados, onde foram construídas 9.999 habitações. No coração da cidade proibida, cercado por 72 pilares adornados com dragões enrodilhados, está o trono de ouro do imperador, onde só ele tinha acesso. A construção foi declarada patrimônio mundial da humanidade, pela UNESCO, em 1987. Sua construção foi concluída em 1420, completando agora 600 anos.

A grande muralha da China, sendo muito aumentada pelos Ming, que vários escritores ocidentais chegaram a afirmar(sem absolutamente nenhuma prova), que poderia ser vista da lua, começou a ser erguida provavelmente para evitar invasões da China por tribos bárbaras tártaro-mongóis vindas do norte, como das tribos dos Hsiung Nu, que eram bem conhecidas da dinastia Han. Mas essas construções, antes da unificação do império Chinês, eram ainda muito rudimentares.

A grande muralha era uma obra, originalmente, projetada para defesa militar. Sua construção começou no século VII a.C. por setores. Mas, com o advento da dinastia Qin, e o imperador Qin Shi Huang, considerado 1° imperador de uma China unificada, reformas aumentaram seu tamanho, ligando as partes separadas anteriormente. Ela se tornou, em 10 anos, uma única muralha defensiva.

Hoje a muralha estende-se de oeste a leste, tendo mais de vinte mil quilômetros de comprimento. E foi na dinastia Ming que ela aumentou cerca de dezoito vezes, em relação ao passado. Com obras de extensão de 1368 a 1600.

A noção de que a parede pode ser vista da lua, (385.000 km) é um mito bem conhecido, mas implausível. Talvez isso venha de uma questão mais controversa. Se a muralha é visível da órbita baixa da Terra (uma altitude de apenas 160 km). A NASA afirma que é quase invisível e apenas em condições quase perfeitas; não é mais notável do que muitos outros objetos feitos pelo homem.

Uma das primeiras referências conhecidas ao mito de que a Grande Muralha pode ser vista da lua aparece em uma carta escrita em 1754 pelo antiquário inglês William Stukeley . Stukeley escreveu que, "Esta poderosa parede(a muralha de Adriano), de 130 km de comprimento, só é excedida pela Muralha da China, que representa uma figura considerável no globo terrestre, e que pode ser discernida na Lua". A afirmação também foi mencionada por Henry Norman em 1895, onde ele afirma que "além de sua idade, goza da reputação de ser a única obra de mãos humanas no globo visível da Lua." Como se pode ver, nenhuma lenda surge do nada.

Grande muralha da China

A China anterior a dinastia Ming tinha sofrido muito com o jugo estrangeiro, da dinastia Yuan, que era mongol. Era a China sob o domínio de imperadores autoritários e ignorantes, em relação aos chineses, como Kublai Khan. Mas um dia os poderosos mongóis foram contestados. A reação começou do sul do país, muitas vezes saqueado para suprir o norte.

Foi neste sul da China subjugado que nasceu Zhu Yuanzhang, o que mais tarde seria o líder libertador da China, o primeiro imperador Ming, o imperador Hongwu. Curioso que o nome Zhu significa vermelho. Ele começou como homem simples. Camponês, monge, soldado, general e, finalmente, imperador. Teve apoio do povo, quando se sublevou contra o último governante mongol. Em setembro Zhu marchou contra Pequim, com uma bandeira com inscrições douradas que dizia o céu nos ordenou unificar a China. Em dezembro de 1367, os revoltosos chegaram às portas de Pequim. Então Toghan Temur, o último líder mongol, fugiu. Isso tudo ocorreu porque os governantes mongóis exploravam os camponeses além do limite, em período de catástrofes naturais. Para a revolta eclodir, bastou surgir um líder.

Imperador Hongwu, chamado Zhu Yuanzhang

A ascensão do império Ming trouxe uma era de glórias para a China, como nunca houve. Embelezou Pequim, tornando-a capital imperial. Construiu nela a Cidade Proibida Imperial, que seria o esplendor da China até o dia de Hoje. Aperfeiçoou o mecanismo de concursos públicos(sim, os concursos surgiram na China em cerca de 2300 a.C.), que teve na era Ming seu quadro melhor arquitetado, com provas físicas, escritas e indo até a nossa atual "prova de títulos", com as particulares da época. Todas essas inovações em concursos públicos são criações chinesas, sendo esta última exclusiva criação da era Ming. O imperador Hongwu também criou o Código dos Grandes Ming, que era uma espécie de cadastro social tributário. Tudo na China Ming era organizado.

Os Ming foram uma dinastia que se fechou para o mundo, em termos do contato entre povos, mas preservaram seu renome de navegantes desde a dinastia Song(960-1279). Mas com a queda da dinastia, para os mongóis, a China paralisou sua cultura navegante. É bom lembrar que a bússola é invenção chinesa, não árabe ou ocidental. Nasceu na dinastia Han(202 a.C. - 220 d.C.), com objetivos místicos. E passou a ser usado na navegação na era Song. E seu uso europeu e islâmico data do final do século XII. Mas foram os Ming que trouxeram a sua glória, com o comandante e navegador islâmico Zheng He, eunuco da corte dos Ming. Era amigo pessoal do imperador Hongwu, desde que foi capturado com 10 anos de idade, na batalha entre chineses e mongóis, próximo a Nanquim. Este navegador que trouxe uma "descoberta da América", setenta anos antes de Colombo. Segundo o historiador inglês Gavin Menzies, que revelou essas descobertas das viagens chinesas em 2002, Zheng He teria circundado o mundo, quase um século antes de Fernão de Magalhães. Como certo, já se sabe que os chineses exploravam o Oceano Indico a partir de 1405, conquistando a costa africana na mesma época que os portugueses. Só que, enquanto estes estavam ao norte, aqueles estavam ao leste.

A dinastia Ming deixou seu legado. Construiu uma nova China, desenvolveu a navegação junto com os portugueses, patrocinou Zheng He como uma espécie de infante Dom Henrique chinês, e fez da Pequim sua capital do império. Uma cidade agora representada na cidade proibida, em que até a dinastia Qing(1644-1911) a tornaria residência imperial até a queda do Império chinês, sendo mesmo utilizada pela China comunista. Seu legado de 600 anos de uma Pequim imperial atravessou os séculos, do século XV até os dias atuais. Desde a queda de Puyi, o último imperador filho do céu em 1912, que virou jardineiro no governo de Mao Tse Tung, até o investimento de uma China mais capitalista de molde estatal, do que puramente socialista, na segunda década do século XXI. Esta é a China de 4000 anos de história, que se orgulha do seu legado, quando em 2020 faz viagens ao espaço trazendo rochas do solo lunar...

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1)Atlas da História Universal, The Times, O Globo. Patrocínio:CCBB. 2001.

2)Hessler, Peter. À sombra do Muro. Revista National Geographic Brasil. Editora Abril. Janeiro 2003.

3)Catinot-Crost, Laurence. Zhu:Camponês, monge, general e imperador. Revista História Viva-Grandes Temas:China, o retorno do Dragão. Nº34. Editora Duetto.2013.

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