No dia 24 de dezembro de 1294, há 724 anos atrás, era eleito papa o cardeal Benedetto Gaetani, com o nome de Bonifácio VIII. Seria o início de uma crise eclesiástica que teria consequências até a Reforma Protestante. Não daria para ser contornada a situação que viria.
Desde Carlos Magno que o Império protetor do Papado era o Sacro Império Romano. Mas, como bem disse Voltaire, nem sacro, nem império, nem romano. E desde Carlos, o calvo, que o Império Carolingio se dividiu, dando origem à França e o Sacro Império propriamente dito, e que no seculo XIX viria dar origem à Alemanha.
Quando iniciou o século XIII, houve uma série de disputas entre o Império e o Papado. A Questão das Investiduras, pelo qual os imperadores insistiam em eleger os papas, havia há pouco tempo sido resolvida. Houve formação de grupos favoráveis ao papa(os guelfos)e ao imperador(gibelinos)por toda Europa. Muitos nobres franceses, como Carlos, o Conde de Valois, e filho do rei Filipe III, lutaram ao lado dos guelfos. Nesse momento o Papado tomou a França como protetora de seus interesses, pois a maioria dos nobres franceses lutou ao lado dos guelfos. Essa decisão ainda custaria muito caro. Muitos da nobreza francesa estreitaram laços com familias italianas, como os Colonna, ou os recém nascidos Medicis, que ainda seriam de grande valia nas políticas italianas.
Quando assumiu o trono de São Pedro, o papa Bonifácio VIII foi tomado de uma megalomania, além de evidente desequilíbrio mental, que se propôs a emitir bulas, como a Unam Sanctum, que dizia que todo poder temporal deveria submeter-se ao papa. Isso era um recado para o imperador. Mas o rei da França também tomou-o pra si. Na realidade, o papa fez isso por já estar desconfiado do rei Filipe IV, da França. E tinha razão. Os conselheiros do rei eram, em sua maioria, burgueses, como Enguerrand de Marigny, ou Guilherme de Nogaret.
Em 1303, Nogaret entrou em contato com a família Colonna e propôs depor o papa. Este estava em sua residência de verão, em sua cidade natal, Anagni. Tropas francesas, aliadas a Sciarrra Colonna, cercaram o Castelo de Anagni, puxaram o papa pela barba, e bateram nele. A salvação foi a população de Anagni, que partiu com tudo para cima dos soldados. O papa seria solto. Mas agredido por esse insulto, morreria pouco depois. Foi eleito outro italiano em seu lugar, Bento XI. Só ficaria 8 meses. Morreu em circunstâncias suspeitas.
Nessa época foi eleito, num total conchavo, um papa francês, Clemente V. A sede papal passou de Roma para Avinhon. E lá ficaria até 1377, quando muitos insistiram para que retornasse à Roma. Esse período ficou conhecido como "Cativeiro de Avinhon", onde todos os papas foram franceses, e em linhas gerais dependentes da coroa francesa. Embora foi o único período da História que a Igreja Romana, como órgão estatal, teve mais arrecadação do que gastos. Isso se deve a homens maquiavélicos, porém inteligentes, como Jacques Cahors(papa João XXII), que souberam conduzir as finanças do Santa Se.
A eleição de Bonifácio teve consequências inevitáveis como o repúdio por parte de Dante Alighieri, que condenou Bonifácio ao inferno nos seus escritos da "Divina Comédia". Também resultando num conflito que resultaria na condenação dos templários. O Concílio de Viena(1311)não seria totalmente favorável ao rei, mas também não o desagradaria. A estupidez do clero secular achar que poderia mandar nos poderes seculares ainda teria muitas consequências até a Reforma Protestante.
Antigo Palácio papal em Avinhon, no sul da França.
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